Capítulo 13.

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Sophie

— Não esqueça o repelente. — Meu pai lembrou, e eu fui em busca do pequeno frasco em meu banheiro. Pronto. Bolsa pronta.
Após um café da manhã bastante reforçado - instruções de meu pai -, ele me levou até a escola onde eu pude ver um grande ônibus na entrada e um grupo de animados adolescentes. Eu estava um pouco em cima da hora, mas não chegava a me atrasar.
— Bem, divirta-se. E se acontecer alguma coisa, me ligue e eu te busco.
— Pai, o treinador e a senhorita B estarão lá. Fica tranquilo. — Sorri, antes de me despedir e ir até o grupo de gente. Encontrei Sienna no meio das líderes de torcida. Percebi como eu ficava sem assunto naquele grupo sem Mateo por perto.
— Soph! Você não sabe. Parece que os pais de Mateo tiraram todo seu acesso ao mundo exterior. Ele não tem celular, notebook, nada.
— E o blog dele? — Eu perguntei, pensando em como ele tinha planos de usar aquilo como um tipo de portfólio. Mateo realmente escrevia muito bem, e mantinha todos informados do que acontecia na escola com bastante classe. Nada de palavras maldosas ou boatos idiotas. Ele fazia um blog de fofocas parecer profissional.
— Quem se importa? Ele mereceu. Mas agora precisaremos de uma nova fonte para as novidades.
Eu ri fraco, com um pouco de dó do garoto. Sim, ele havia agido como um completo imbecil. Mas não ficava feliz ao ver que o seu futuro podia ser prejudicado.
— O que, você está com pena dele? — Raven perguntou. Ela também fazia parte do grupo, mas eu sempre me esquecia que ela estava ali. Não era o tipo de pessoa marcante.
— Não, só não sei se acho justo um erro prejudicar todo o seu futuro.
— Estamos falando de Mat. Sabe que ele não vai deixar isso acabar com o sonho dele. Mas por enquanto, vamos aproveitar a dor dele, sim? — Sienna disse, entrelaçando seu braço no meu, e eu ri de novo, um pouco mais leve.
— Por favor façam uma fila. — Escutei a voz de Nikolai, instruindo o pessoal que estava mais próximo do ônibus. Praticamente todos já estavam com uma dupla formada, o que fez com que a organização fosse mais fácil. Sienna e eu fomos uma das últimas a entrar, o que fez com que ficássemos com um banco mais próximo da frente. Pensando em como perderíamos as conversas mais interessante, aquilo era péssimo. Pensando em como ficaríamos mais próximos dos professores, era ótimo.
— Não acredito que ficamos na frente. — Sienna reclamou, e eu fingi concordar. Nikolai nos escutou e me lançou um olhar de canto. Ele percebeu que eu não estava exatamente chateada por ficar ali.
Após se certificarem de que todos estavam sentados e com cintos, senhorita B pediu que o motorista iniciasse a viagem, antes de se sentar ao lado de Nik.
— A viagem vai ser demais. Os garotos do time estão levando algumas bebidas. Mia conseguiu um pouco de maconha — Ela sussurrou, animada. Eu dei risada. Apesar de não fumar nada, saber do álcool me deixou animada. Ela continuou — Tentaremos nos reunir depois do horário de dormir. Não serão muitas pessoas, para não dar alarde. Acho que só eu, você, Mia, Raven, Stephen, Marcus e Roger.
— Roger?
— Eu sei, eu sei. — Ela torceu o nariz. Roger era um cara conhecido por ser bastante exagerado em festas. — Mas ele quem conseguiu compras as bebidas. Além disso, Raven está a fim dele.
— Péssimo gosto. — Comentei. Roger era um loiro que fazia parte do time de futebol masculino, e tinha um rosto bem mediano. Não era feio, mas também não possuía muitos atrativos. Claro, não me impressionou que Raven estivesse interessada.
Desviei a atenção para Nikolai quando vi que ele se levantou.
— Pessoal, como vocês sabem estamos indo para o Zoológico Audubon, passaremos a noite em um hotel e amanhã iremos ao Aquário. Prestem atenção, já que precisarão fazer um projeto sobre isso depois que valerá 25% da nota do trimestre. Os quartos serão divididos por duas pessoas, meninos com meninos, meninas com meninas. — Alguns sons de desaprovação puderam ser ouvidos, mas pararam logo que ele continuou — Vou passar a lista agora.
Ele começou a nomear as duplas, e eu só prestei atenção quando escutei o nome de Sienna.
— Samantha e Sienna. — Ele disse, e seguiu para o próximo nome — Sophie e Suzy.
— Que droga de ordem alfabética. — Comentei, apesar de não estar tão frustrado com minha dupla. Suzy e eu não éramos próximas, mas ela sempre foi muito simpática comigo. Ela fazia parte do clube de teatro e sonhava em fazer parte da Broadway. Eu sabia disso porque ela sempre deixava bem claro que não poderíamos perder a oportunidade de ver suas peças escolares pois logo menos ela seria uma estrela. As vezes eu assistia às peças: ela era realmente boa e sua voz era incrível. Na verdade, eu até torcia por ela.
— Pelo menos você ficou com a Suzy. — Sienna comentou, e eu sabia que tinha tirado a sorte grande comparada a morena. Samantha era bastante religiosa, e não tinha um histórico bom com Sienna por conta de sua sexualidade.
— Professor! — Escutei a voz familiar, e vi a garota levantando as mãos três fileiras atrás de nós — Posso trocar de colega de quarto? — Era Samantha.
— Não, senhorita Louis. Não haverá troca nenhuma. — Ele avisou, e então se sentou.
— Eu vou matar essa garota durante a noite. Eu vou sim. — Sienna disse, os punhos cerrados.
— Calma aí, vai ficar tudo certo. Só precisa ignora-la. Além do mais, vocês só precisarão dormir no mesmo lugar por algumas horas.
— Tudo bem mas se eu acordar com essa doente me exorcizando eu juro que vou arrancar aqueles cachos loiros com o dente.
Rindo, eu me encostei na poltrona e olhei em direção à fileira da frente, onde Nikolai sentava-se do lado esquerdo na janela. Nossos olhares se cruzaram momentaneamente, e eu sorri antes de desviar. Ele também sorriu.

••

— Então, treinador Zadornov — Escutei a voz de senhorita B. Ela parecia...não mais confiante, mas acho que menos frígida. — Diretor Fortescue comentou que vocês são amigos de longa data. — Não sabia se era a quantidade de vezes que meu pai tentou juntar os dois, ou o fato de que ela estava realmente bonita e bem arrumada naquele dia, mas vê-la puxar assunto com o homem me incomodou.
— Sim. Nos conhecemos em Maple Ridge mesmo, quando eu cheguei no país.
— Você veio da Rússia, não é?
— Da pra notar? — Ele brincou, e sempre me impressionava a forma que ele conseguia transmitir o humor pelo tom de voz sem precisar acompanhar suas falas de muitos sorrisos ou risadas. Berger, por outro lado, riu bastante.
— Como pode ainda ter sotaque depois de passar mais tempo aqui do que lá?
— Acredite, não sei. Já tentei me livrar dele. — Agradeci mentalmente por aquilo, já que seu sotaque era muito sexy.
— Bem, há muitas mulheres que gostam disso. — Eu arqueei uma sobrancelha. Sério? — Eu particularmente adoro sotaque Escocês. — Quase ri. Se ela estava tentando flertar com ele, podia afirmar que era péssima naquilo.

A conversa fiada entre eles continuou pelo resto da viagem, cheio de comentários por parte da professora que me fizeram questionar a inocência. Ou ela era péssima flertando, ou péssima conversando. O que me incomodou foi a quantidade de piadas e risadas que eles partilharam naquele tempo.
Quando chegamos ao destino, descemos conforme nossas ordens no ônibus e quando o grupo todo estava sob controle e visão total dos professores, entramos no local.
O instrutor do Zoológico explicou que andaríamos por todo o local, enquanto ele falava sobre os animais, e depois teríamos o privilégio de conhecer o filhote de foca que tinham resgatado de um circo clandestino.
O passeio era dividido em curiosidades interessantes sobre animais, piadas obscenas de Sienna e risadas de Senhorita B. Já estava irritada com a situação.
Lembrei de uma das vezes em que meu pai tentou juntar os dois e Nikolai comentou sobre como ambos eram reservados e não combinariam, já que provavelmente não conseguiriam nem conversar. Bem, ali estava a prova de que ele estava errado. E se ele conseguisse se relacionar melhor com alguém como senhorita Berger do que comigo?
Quase ao fim do passeio do primeiro dia, decidi me afastar dos dois e focar no instrutor e no que ele dizia.

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