Capítulo 6.

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Sophie

Era manhã de segunda, e eu estava preparada para colocar tudo em ordem: me desculparia com Sienna e terminaria amigavelmente com Mateo. Não estava sendo justa com nenhum dos dois.
Meu pai acabou me levando naquele dia, e foi então que percebi que não falava com Mat desde a festa. Após enviar aquela mensagem explicando que estava bem, não o respondi mais.
— Bom dia — Cumprimentei Sienna, que abria seu armário para buscar os livros do dia. Ela me olhou de canto, sem dizer nada. — Desculpe por ontem. Não foi justo dizer aquelas coisas. Eu me irritei e descontei tudo em você.
— Tudo bem — Suspirou — Você estava certa, de qualquer forma. — Constatou, o tom de voz um pouco desaminado.
— Não deu certo com a Amanda, não é?
— Ela tem namorado, Soph! E sabe como eu descobri isso? Mandei uma mensagem para ela e quem me respondeu foi um tal de Charlie.
— Bem, pelo menos deve ter rendido uma boa briga para ela.
— Espero que sim. — Bufou, antes de arrumar o cabelo — Mas me diz, você vai terminar com ele mesmo?
— Sim. Hoje. Achei melh... — Parei de falar quando o rosto de Sienna se contorceu em uma expressão de aviso, enquanto ela olhava por cima do meu ombro. Entendi que Mateo se aproximava.
Virei e encontrei o garoto se aproximando com a mochila em um ombro, e o notebook no outro braço. Ele se aproximou com aquele sorriso dele e eu parei para pensar em como ele era mesmo um pacote completo. O cabelo castanho claro estava sempre bem cortado e arrumado, em contraste com a barba que ele sempre deixava por fazer. Era até surpreendente que ele tivesse tanta barba para alguém daquela idade. Além disso, tinha olhos cor de mel muito bonitos. Apesar de preferir escrever, ele também fazia parte do time de natação - mesmo que não fosse um dos melhores - e isso fazia com que ele mantivesse um corpo muito bonito.
Ainda sim, não chegava aos pés de Nik, pensei na hora. E isso me lembrou o motivo pelo qual precisava terminar tudo. Mateo com certeza era o cara certo, só não para mim.
— Bom dia, gata — Ele me beijou. — Oi Sienna.
— Oi, Mat. Podemos conversar? — Com um olhar desconfiado, ele concordou. Fomos até perto do almoxarifado onde não havia ninguém.
— Isso é sobre te deixar sozinha na festa, não é? — Ele suspirou, os ombros caindo — Eu não percebi que tinha demorado tanto, Soph, desculpa se voc...
— Precisamos terminar! — Falei rápido, como se tirasse um band aid. Pude ver a confusão em seu rosto.
— O que? Só por que eu te deixei sozinha por uns minutos?
— Não, não é isso. Mat, já faz um tempo que as coisas estão sem graça entre a gente. Não conversamos mais. Nós só saímos, bebemos. Não é como se fosse surpresa
— Claro que é uma surpresa! Para mim estava tudo bem. Estávamos quase... — ele olhou em volta para garantir que não havia ninguém por perto — Estávamos quase transando.
— Se você acha que estávamos perto de fazer sexo então você é ainda mais devagar do que eu pensei. — Ele abriu a boca para contestar mas eu continuei falando — Escuta, vamos terminar isso amigavelmente. Éramos amigos antes de namorar, e eu sinceramente acho que somos melhores assim.
Sem dizer mais nada, Mateo saiu em direção a aula claramente irritado. Voltei ao meu armário, onde Sienna me aguardava.
— Como foi? Ele aceitou bem?
— Não sei. Mas ele vai ficar bem. Como você disse, não é como se nos víssemos casando no futuro.

Nikolai

Tentava não ficar sozinho com meus pensamentos, pois sabia para onde eles iriam. Eu me sentia como um adolescente que tentava justificar para si mesmo seus atos idiotas. Enquanto observava a lousa branca que tinha em minha sala eu me esforçava para focar nas táticas para o primeiro jogo daquele ano letivo. O time feminino jogaria contra suas principais rivais: as garotas de Broad View High. No ano anterior havíamos perdido as estaduais para elas, mas estava confiante de que poderiam vencer. E a estrela do time era Sophie.
— Lá se vai a ideia de não pensar nela... — Disse a mim mesmo, antes de largar a caneta na mesa e desistir de olhar o quadro branco. Precisaria decidir aquilo depois.
Ainda faltavam 20 minutos para horário de almoço, mas me dirigi ao refeitório dos professores assim mesmo. Enquanto andava, notei que vários alunos pelo corredor riam e cochichavam. Não teria estranhado tanto se não fosse por Amy Berger, parada do lado de fora de sua sala, me encarar com um olhar preocupado.

— Senhorita Berger, está tudo certo?
— É sobre Sophie.
Por um momento, fiquei tenso. Como alguém havia descoberto que nos beijamos? Seria questão de tempo até Asher aparecer por ali e me demitir na frente de todos? Mantive a postura e consegui pedir detalhes sem deixar escapar meu nervosismo.
— Alguém postou um vídeo. Eu não sei se deveria mostrar a você, mas sabendo quão próximo é do Diretor Fortescue...
Amy me entregou o pequeno aparelho e eu iniciei o vídeo. Nele, estava Sophie apenas de calcinha e sutiã, rindo e dançando para a câmera. Conforme o vídeo continuava, ela ameaçava tirar as peças de roupa. Não quis continuar assistindo para descobrir. Devolvi o celular para a loira, visivelmente irritado.
— Quem postou isso?
— Eu não sei.
Estava me preparando para gritar que "Alguém tinha que saber", quando virei o rosto e vi ao fundo do corredor cachos escuros que eu conhecia bem. Sophie pisava duro, os olhos pareciam ter o poder de matar alguém. Ela nem me viu ali, apenas seguiu em direção ao vestiário masculino. Sem pensar duas vezes, eu segui a garota.
— Seu desgraçado! — Ela gritou, adentrando o vestiário onde vários garotos de repente começaram a assobiar e soltar "elogios" desnecessários. Sophie então se aproximou de Mateo, que a encarava com um semblante inocente. — Eu não acredito que você fez isso! Quantos anos você tem, 12?
— Eu não fiz nada! Mas talvez não devesse vadiar por aí se não aguenta as consequências.
— Inacreditável! — Ela avançou no garoto, desferindo o tapa mais alto que já havia escutado. Antes que pudesse fazer mais alguma coisa, Amy interveio e a segurou, pedindo que ela se acalmasse. Nem havia percebido que a professora também nos seguira para lá.
Ignorando as palavras sujas que saiam da boca de Sophie, e a irritante repetição das palavras "Acalme-se, senhorita Fortescue" vindas de Amy, eu me aproximei do garoto que dava risada enquanto fazia um "hi-five" com um de seus colegas.
Empurrei o garoto contra o armário, segurando com força sua camiseta. De repente, toda a cor de seu rosto sumiu e ele me olhou assustado. Agora, Amy direcionava suas palavras a mim.
— Você. — Eu comecei, mas então as palavras da professora entraram em minha mente e eu percebi o que estava prestes a fazer. Soltei-o — Para a diretoria. Agora.
— O que? Eu não fiz nada. Isso não é justo.
— Não. O que não é justo sou eu perdendo minha paciência e arrancando esse seu sorriso engraçadinho com a minha mão. Você ir para a diretoria, encarar o pai da garota que você acabou de expor, isso sim é justo.
Ele engoliu em seco, arrumando a camisa. Então, Amy levou o garoto com ela para a diretoria, não antes de me perguntar se eu estava bem. E com "bem", ela queria saber se eu não estava prestes a arrancar nenhuma cabeça.
— Sim. Leve o garoto.
O vestiário agora estava em silêncio. Eu encarei os alunos antes de sair dali, com Sophie atrás de mim.
— Ei. — Ela segurou meu braço quando já estávamos do lado de fora. — Obrigada.
Não disse nada, apenas segui para a sala do diretor a fim de resolver aquele problema.

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora