Capítulo 5.

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Nikolai

Os lábios de Sophie eram tão doces quanto eu havia imaginado. Minhas mãos ainda estavam por cima das dela, mas então movi minha mão direita em direção ao seu rosto, acariciando a pele macia com o polegar. Sentia nossas línguas se entrelaçando com desejo, ainda que devagar. Queria aproveitar aquele momento.

Quando ela falou sobre o seu namorado e sobre o quanto havia pensado em mim nos últimos dias, minha mente resolveu guardar todo o meu bom senso em um lugar escondido, e então de repente tudo o que importava era o quanto eu queria tocá-la.
Ainda devagar, eu deslizei a outra mão até sua cintura e, sem muito esforço, puxei-a para cima de mim. Em meu colo, com as pernas encaixadas ao meu redor, o beijo ficou um pouco mais intenso e as mãos na garota percorreram meu peitoral por cima da roupa que eu usava. Arfei, desejando tirar aquela peça para sentir as mãos diretamente em minha pele, mas não sabia quão longe deveria ir. Quando as mãos curiosas da garota tentaram levantar minha regata, eu segurei seus punhos e então afastei nossos rostos.
Ela me encarou em silêncio, os lábios levemente inchados e avermelhados.
— Sem comentários engraçadinhos agora? — Indaguei.
— Não queria estragar o momento. Mas acho que você conseguiu isso por mim. — Ela disse, rindo. Aos poucos o riso diminuiu, dando lugar a uma expressão preocupada. Eu sabia exatamente em que ela estava pensando, já que eram as mesmas questões que ocupavam minha cabeça.
Suas mãos então foram em direção a meu cabelo, passando os dedos entre os fios e brincando com ele.
— Gosto do seu cabelo. Combina com você e todo esse seu jeito.
— Meu jeito?
— Sim. Reservado, sério, russo. Do que você me chamou aquela hora?
Sofiya? É Russo para Sophie.
— Gostei.
Ela então me beijou mais uma vez, e eu girei nossos corpos de modo que ela ficasse deitada no sofá e eu estivesse por cima dela, apesar de saber que não avançaríamos muito. A manobra fez com que ela sorrisse com os lábios nos meus, e ali ficamos por um bom tempo. O celular de Sophie tocou e, relutantemente, nos afastamos.
— Oi pai — Anunciou, levantando-se. — Sim. Está tudo bem sim. Estamos fazendo uma maratona de filmes. Tudo bem, as 18 eu vou para casa. Beijo. — Ela desligou o telefone e me olhou. E de repente foi como se a ficha finalmente caísse. — Não podemos deixar que ele descubra.
— Eu sei.
— Ele te mataria, e me deixaria de castigo até a faculdade.
— Eu sei.
— Droga, você seria demitido!
— Ei. — Levantei e segurei os braços da garota a fim de que ela se acalmasse.
— Não acredito que eu fiz isso com você.
— Você não fez nada. Eu sou adulto, sei o que estou fazendo. Está tudo bem. Vamos descobrir como lidaremos com isso.
— Tudo bem.
Decidimos então assistir alguns filmes para passar o restante da tarde. É claro que eu preferia me ocupar com outras coisas, mas não queria colocar nenhum tipo de pressão nela. Nem ao menos sabia se ela já havia feito sexo antes.
No final da tarde eu levei a garota até sua casa, deixando-a um quarteirão de distância para que seu pai não nos visse juntos. Aquilo quase me fazia sentir adolescente novamente. Agindo daquela forma, irresponsável e inconsequente. Mas não sabia mais como lutar contra.
Fui para casa com aquele pensamento e mais tarde, para o bar. Dessa vez, no entanto, não levei ninguém para passar a noite comigo.

Sophie

Em casa, meu pai me perguntou como havia sido a noite com Sienna e pela primeira vez eu me senti mal por mentir para ele. Talvez porque dessa vez eu havia envolvido uma pessoa que ele confiava muito.
Quando peguei o celular, haviam 30 mensagens e 5 ligações perdidas. Todas de Sienna e Mateo, perguntando por mim. Enviei uma mensagem para ambos dizendo ter voltado para a casa a pé na noite anterior, mas que estava tudo bem. Joguei-me na cama, a consciência pensando cada vez mais. Agora eu estava mentindo para todas as pessoas à minha volta. Mesmo que sentisse que Mateo e eu já não tínhamos mais para onde ir, ainda o considerava um grande amigo. E sem falar em Sienna, para a qual nunca havia mentido antes.
Fechando os olhos, lembrei do toque de Nikolai, do jeito carinhoso e ainda sim intenso que ele havia me beijado. Vale a pena, constatei por fim.

••

Naquele final de domingo, encontrei Sienna no nosso local de sempre: um pequeno café que servia o que provavelmente era o melhor bolo de chocolate do Estado. Assim que nos sentamos, Donna nos levou um grande pedaço de bolo com duas colheres como fazia toda semana.

— Eu acho que esse é o melhor momento da minha semana. — Minha amiga exclamou, abocanhando uma grande garfada do doce. Apesar de parecer apetitoso como sempre, peguei um pedaço pequeno pois sentia meu estômago revirar com ansiedade. — Está tudo bem, Sophie?
— Está, está sim.
— Não parece. Você está assim há semanas. E sumiu da festa sexta sem explicação. O que foi?
— Vou terminar com Mateo.
Ela engasgou com o bolo.
— O quê? Por quê? Ele fez alguma coisa?
— Não. Só não é mais a mesma coisa. Eu acho que já deu o que tinha que dar.
— Soph, você tem certeza? Eu não acho que ele pense assim. Vocês já conversaram sobre isso?
— Não. Eu não falei nada. Mas não o vejo mais do mesmo jeito e acho injusto continuarmos dessa forma.
— Não achei que iam casar e ter filhos, mas também não esperava que fossem terminar tão cedo.
— Olha quem fala.
— Ei, calma aí. Eu só estou dizendo que você é impulsiva, talvez precise pensar melhor.
— Sienna, você não tem o direito de me dizer para pensar melhor quando tem uma namorada diferente toda semana.
— Isso não é justo.
— O que não é justo é minha melhor amiga não me apoiar numa decisão dessa. — Deixei meu garfo ali, pegando minha bolsa e deixando o restaurante.
No meio do caminho para casa, pensei no real motivo da minha raiva. Claro que estava cheia de culpa e havia descontado minha frustração em cima de Sienna. Quis dar meia volta e me desculpar, mas ainda estava com os nervos à flor da pele e achei melhor falar com ela no dia seguinte, quando eu já estivesse mais calma.

O TreinadorWhere stories live. Discover now