Capítulo 2.

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Sophie

Acordei suada, ofegante e com os lençóis no chão. A memória da última cena do meu sonho ainda perdurava: os braços fortes segurando minha cintura enquanto me beijava com força. Haviam passado duas semanas desde o incidente no vestiário e desde então, eu vinha sonhando com Nikolai todas as noites.
Na verdade, eu nunca conseguia ver claramente o seu rosto nos sonhos, mas sabia que era ele. E eu sempre acordava perigosamente próxima de um orgasmo. Uma vez meu pai achou que eu estava tendo um pesadelo pois eu "parecia estar choramingando" durante o sono. Mal ele sabia, eu pensei, rindo sozinha na cama molhada pelo meu suor.
Não havia contado nada para Sienna sobre o vestiário ainda, mas ela comentou varias vezes naquelas semanas sobre como eu estava distraída, e sobre como eu precisava contar a ela o que estava acontecendo. Para a insatisfação de minha amiga, continuava jurando não ter acontecido nada, dizendo que estava apenas pensando nas opções de faculdade.
Após levantar e tomar um banho, peguei uma maçã e logo escutei a buzina do lado de fora.
— Tchau, pai! O Mat vai me dar uma carona.
E antes que ele pudesse contestar, já tinha saído da casa. Entrei no conversível preto e o cumprimentei com um beijo.
— Seu pai não reclamou? — Mateo perguntou baixo, olhando para a porta da frente onde meu pai nos encarava um tanto irritado. — Bom dia, senhor Fortescue! — O garoto cumprimentou, acenando e obtendo um cruzar de braços como resposta.
— Não dei tempo para isso. Anda, dirige — Falei, rindo um pouco enquanto o carro arrancava.
— Vamos à festa de volta às aulas da Michelle?
— Alguma vez eu respondi "não" pra festa? — Sorri animada, sentindo o vento no rosto. — Quando vai ser?
— Sexta à noite.
— Ótimo, vou dizer para meu pai que vou dormir na Sienna.
Poucos minutos depois chegamos no estacionamento da escola, e quando olhei por cima do ombro de Mateo, Nikolai estava saindo de seu carro. Quando vi que ele olhou em nossa direção, inclinei por cima do meu namorado, beijando-o com mais voracidade do que se deveria em público, na esperança de que o treinador visse. Mat foi pego de surpresa mas retribuiu prontamente, segurando em minha cintura. Abri meus olhos e o mais velho ainda estava lá, mas quando trocamos olhares ele revirou os olhos e saiu andando. Afastei-me do garoto e sorri, quase vitoriosamente. Antes que ele pudesse dizer algo, eu saí do carro e ele me acompanhou para dentro da escola, onde Sienna estava esperando em seu armário.
— Que bom que vocês chegaram. Eu encontrei o amor da minha vida. — Ela anunciou, exasperada.
— O que aconteceu com sua alma gêmea da semana passada? — Mat perguntou, e eu acabei dando risada. Sienna bufou, retocando o brilho labial no espelho de dentro de seu armário antes de responder.
— Ela não era a garota certa para mim. Mas essa é, tenho certeza. O nome dela é Amanda e ela estuda no Westfield Institute.
— Essa escola não é de gente rica? — Perguntei, selecionando os livros para as aulas que teria nos primeiros períodos: Química, História e Literatura.
— Sim. O que tem?
— Sienna, a última vez que você saiu com uma garota rica, você disse que nunca mais faria isso porque, e eu repito: "essa gente é toda esnobe, não me deixe esquecer disso"
— Isso já faz tempo, e aquela garota era mesmo uma nojenta. Mas a Amanda é diferente.
Mat e eu rimos, escolhendo não falar mais nada e deixar a romântica incurável tentar a sorte mais uma vez. Me despedi dos dois já que não teria as primeiras duas aula com eles, e fui para o laboratório.
Na segunda aula - história - fomos informados que o professor não viria, e que teríamos um substituto de última hora.

Nikolai

Havia me iludido ao pensar que a cena da garota se despindo no vestiário sumiria tão fácil de minha mente. Duas semanas depois e eu ainda me pegava lembrando da mais nova. Acabei evitando sair com Asher algumas vezes pois me sentia culpado por meu corpo não bloquear esse tipo de...sensação.
Mas eu não estava preparado para o incômodo que senti ao ver Sophie se atracando com o namorado no estacionamento. E o pior foi perceber que era justamente a intenção dela. De alguma forma ela esperava me provocar com aquilo, e eu estava muito irritado com o fato de que ela conseguiu atingir seu objetivo. Sophie podia ser irresponsável mas eu não. Eu era o adulto, e devia manter o foco e separar as coisas.
No primeiro período, eu ensinava educação física às crianças do ensino fundamental, o que era mais fácil já que não precisava buscar nenhuma adolescente escondida atrás da arquibancada para fugir das corridas.
Pedi às crianças que dessem algumas voltas pelo campo, antes de começar a jogar futebol. Claro, todos ali tinham 9 anos e não sabiam jogar tão bem, então era mais uma brincadeira que um jogo de verdade. O tempo do primeiro período passou bastante rápido e consegui até me distrair, focando nos pequenos.
— Treinador Zadornov — Reconheci a voz da professora de literatura, senhorita Berger. Soprei o apito antes de anunciar para os mais novos que deveriam ir ao vestiário e então se preparar para o segundo período.
— Sim, senhorita Berger. — Respondi, enquanto me aproximava da figura pequena e loira. Amy Berger devia ter seus 24 anos, e parecia sempre intimidada. Seu corpo magro escondido sob roubas largas não ajudava muito em sua aparência frágil. Ainda sim, qualquer um podia reconhecer que ela era muito bonita. Ashton havia até sugerido que eu a chamasse para sair algumas vezes, mas sendo os dois tão reservados como éramos, com certeza não daria certo.
— O professor Ludwig não veio hoje, e o diretor Fortescue pediu que o substituísse nesse segundo período já que você não tem aula nesse horário.
— Claro. Vou guardar isso aqui... — Joguei a bola de futebol de uma mão para outra — ...e já vou até a sala. 301, certo?
Apos uma resposta positiva da professora, direcionei-me à sala com o equipamento de televisão pois era aquilo que fazíamos ao substituir uma aula: filmes educativos. Nenhum deles prestava atenção nos filmes, e eu sinceramente não os culpava. A escola não tinha muitos filmes cativantes.
— Bom dia, sala. — Cumprimentei enquanto ligava o aparelho na tomada. — O professor Ludwig não veio hoje e... — Ao levantar o olhar, vi Sophie sentada na segunda fileira, olhando para mim do mesmo jeito que havia olhado no vestiário há duas semanas, e no estacionamento hoje de manhã. Pigarreei antes de prosseguir, retomando a pose. —...e vocês sabem o que isso quer dizer. Filmes!
Alguns comemoraram, outros reclamaram, mas as conversas paralelas iniciaram enquanto eu decidia qual filme colocar.
— Por que será que não podemos assistir um filme interessante? — Ouvi a voz de Sophie perto de mim, e ao virar o rosto vi que lá estava ela, também analisando as opções de DVD.
— O que sugere, senhorita Fortescue?
Ela me deu um sorriso que podia jurar ter uma ponta de malícia. Então, chegou mais perto.
— Algum...romance. Algo como "Paixão Inocente"...ou "Beleza Americana"...
Eu não era nenhum cinéfilo, mas sabia que ela havia acabado de mencionar dois filmes em que os protagonistas tem uma diferença de idade grande. Olhei para a sala e todos conversavam ainda animadamente, então fingi que continuava decidindo qual filme seria escolhido.
— O que você está fazendo, Sophie? Está ficando maluca?
— Eu não estou fazendo nada! — Ela se defendeu, encolhendo os ombros, mas sem tirar o sorriso do rosto — Estou apenas sugerindo um filme. Coloca esse aqui. É um clássico — Ela me entregou o DVD de "Sociedade dos Poetas Mortos" e eu acabei colocando ele mesmo.
Durante o restante da aula, eu não prestei atenção no filme. Alternava meu olhar entre a televisão e Sophie, sentindo ela fazer o mesmo comigo.

O TreinadorWhere stories live. Discover now