Capítulo III - Entre Irmãos

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Ji Min estava sentado na banheira.

Não fazia ideia de há quanto tempo estava ali, mas o fato de a água ter esfriado, de estar tremendo de novo e de seus dedos estarem superenrugadinhos confirmava que já fazia um bom tempo, bota tempo nisso.

As roupas que usava ao adormecer na escrivaninha estavam jogadas pelo chão do banheiro, mais úmidas que esponja de lavar-louças, mais sujas que pano de chão. Seus braços estavam cobertos de marcas roxas (a pior era resultado de um beliscão), e o fino corte em seu pescoço doía um bocado. A pequena pena que havia encontrado em seu cabelo, castanha como as das flechas do Imperador Yoon Gi, descansava molhada sobre a borda da banheira. Os restos da corda com a qual os soldados o haviam amarrado estavam no fundo da lata de lixo, a faca que havia usado para cortá-la jazia sobre a pia com a lâmina ainda suja de sangue, os cortes que ela havia deixado em seus pulsos eram uma dor a mais, porém ao menos já não sangravam... Várias marcas, muitas marcas. Muitas provas, várias provas de que cada momento que passou naquele lugar estranho havia sido bem real, embora não pudesse ter deixado o conforto de seu quarto, embora estivesse sonhando, apenas sonhando.

Nunca mais iria dormir. Nunca mais.

Alguém começou a bater na porta (bater é eufemismo, estavam era espancando a pobre da porta sem dó nem piedade) e logo Ji Min escutou a voz de Jo Hee berrar seu nome:

— Ji Min-ah! Como é que é, menino?! Tem mais gente vivendo nessa casa, além de você!

Sua noona gritou mais algumas coisas, mas sua mente havia deixado de processar a informação no "tem mais gente vivendo nessa casa". Tudo o que ouvia eram ruídos, e tudo bem. Não precisava ouvir para saber. Ainda que ela só tivesse batido na porta, saberia que ela queria que desse o fora do banheiro. Afinal, tinha mais gente além dele vivendo naquela casa.

Agora tem... Ele pensou, apanhando a pena e saiu da banheira.

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Sexta-feira. Dia par. Dia branco.

Ji Min tinha dado perda total nas aulas de Obstetrícia e de Psiquiatria e Saúde Mental, e a história teria se repetido em Medicina Legal se não fosse pelas anotações de Yang Soon. Suspirou ao pensar no amigo e pegou o celular do bolso da calça, sentando-se no banco da parada de ônibus e checando para ver se havia alguma mensagem ou ligação perdida dele.

Nada.

Então, enfiou o celular de volta no bolso e cruzou os braços à frente do corpo, segurando os ombros. Depois se curvou sobre as pernas, recostando a testa aos joelhos.

Estava tentando aguentar aquela loucura toda sozinho, por isso havia dito "madruguei fazendo trabalho, estou bem" a todos os colegas que perguntaram se estava tudo bem ao ver sua cara abatida. Estava tentando, jurava que estava tentando. Porque seria egoísta da sua parte reclamar atenção quando não podiam lhe dar. Todo mundo tinha os próprios problemas para lidar, certo? Não seria justo roubar o tempo deles com os seus, não seria. Mas... Não estava conseguindo mais. Precisava de ajuda, precisava de alguém.

Mas não tem ninguém...

Foi só a primeira lágrima cair que as outras a seguiram num jorro. Tremores violentos sacudiram seu corpo.

Se deixou estar assim, prostrado em um choro convulso em plena luz do dia e em via pública. Por sorte, já passava das uma e meia. Havia saído um pouco mais tarde porque, como de costume, o Dr. Byun estendera a aula, e o ponto já estava vazio a essa altura — e mesmo que não estivesse, duvidava que algum desconhecido fosse lhe perguntar o que havia de errado. Não tinha por que se conter.

Outlander || YoonjikookOnde histórias criam vida. Descubra agora