Capítulo II - Park Ji Min

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Ji Min correu como nunca, fugindo desesperadamente dos soldados. O que eu fiz de errado? Não mereço ser preso, sou inocente! Era isso que gostaria de gritar para eles, mas o garoto temia ser morto se tentasse argumentar. Por isso, se ateve a correr o mais rápido que suas pernas conseguiam.

Sempre se achou um bom corredor, mas quase foi pego mais de uma vez na perseguição — a multidão que enchia o mercado foi o que realmente o ajudou a não ser pego. Ele foi no fluxo de pessoas que iam e vinham, se escondendo em uma das lojas. Havia conseguido despistar os soldados, estava livre! Agora só precisava descobrir uma forma de sair daquele lugar bizarro e voltar para sua época...

Era isso que Ji Min gostaria de dizer. Mas suas pernas o haviam traído, e ele tropeçara e caíra em cima de alguns potes de tempero de uma das barracas. Ficar cheirando a pimenta e ser preso já era degradante o bastante, mas os soldados ainda tinham que tacar três baldes d'água em sua cabeça logo que o jogaram na cela. Agora estava preso, cheirando a pimenta, tremendo e espirrando, agarrado às grades de madeira e implorando que o soltassem, que havia um mal-entendido, que não tinha feito nada de errado. Mas os guardas postados à entrada do corredor o ignoravam.

Não bastasse estar em uma cela escura, tremendo de frio dentro de suas roupas encharcadas, o único lugar que tinha para sentar era o chão sujo e coberto de palha úmida nada confortável — nem para ter um catre ali! —, era insalubre. Tenho que sair desse lugar horrível! Se é um pesadelo, quero acordar agora! Desejou com todo seu ser, mas de nada adiantou. Beliscou o próprio braço, mas só conseguiu dor (e um vergão que na certa ficaria bem roxo). Outro espirro.

Ele soltou mais um berro e se abaixou, abraçando as pernas e começou a chorar.

Algum tempo depois, Ji Min ouviu passos no corredor e, em poucos instantes, avistou um grupo de homens a se aproximar. Um dos soldados que o haviam capturado vinha à frente, reconheceu-o de imediato por causa da armadura negra e da agitação; a mesma que todos os companheiros dele tinham ao agarrá-lo na barraca de temperos e arrastá-lo até a prisão. Ele se deteve diante de sua cela e disse, apontando um dedo em sua direção:

— Aqui está ele, senhor.

O único do grupo a se vestir de modo distinto se acercou da cela. (Mesmo que ele não tivesse sido chamado de "senhor", o hanbok preto com motivos tecidos em fios de prata e bordas cinza-grafite que ele usava por si só já demonstrava bem a superioridade de status dele em relação aos soldados, todos trajando uniforme bordô e branco asseado, porém deveras mais simples.) O ânimo calmo dele, a expressão austera e o olhar de pedra que lhe lançou, tão diferentes dos do soldado de olhos arregalados, fizeram com que Ji Min se sentisse acuado e se afastasse da grade. O lugar era tão pequeno que acabou com as costas coladas à parede e o bumbum no chão. O que fariam com ele?! Eu preciso acordar logo.

— Agora o senhor acredita em mim? — indagou o soldado de armadura.

— Tudo o que vejo é um garoto assustado.

— Mas os cabelos...

— De certo há uma explicação lógica para isso. Abra a cela.

— Mas, general... — O homem lançou um olhar cortante para o soldado, que baixou a cabeça de imediato. — Como quiser, meu senhor.

A porta foi aberta, e com dois passos o general estava dentro da cela. Ele não parecia nem um pouco amigável, mas, como havia sido o único a dar mostras de querer ouvi-lo, Ji Min pensou que se houvesse um meio de sair dali sem despertar seria com a ajuda dele. Então, começou a falar à voz pequena:

— Moço, houve um engano. Eu não fiz nada para merecer vir parar aqui.

— Os soldados acham que você é um espírito mal. Uma raposa de nove caudas¹ ou algo pior...

Outlander || YoonjikookWhere stories live. Discover now