Capítulo XXXIX - Mensageiro dos Ventos

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Jeon Jung Kook era um demônio.

Tae soube disso no instante que o viu sorrir em triunfo, a despeito de estar no chão do Escritório Imperial, com o nariz e a boca sangrando, graças à lambada que o Oitavo Imperial lhe dera com o cabo da lança e que o fizera atravessar o painel de dragões e lebres antes disposto atrás da mesa dele, a despeito de ter dois, dois! Filhos Favoritos dos Céus espumando de ódio diante dele, um prestes a abandoná-lo, levando embora metade dos recursos financeiros do Exército Imperial só para ter o prazer de vê-lo definhar até ser completamente destroçado pelos inimigos dele e o outro querendo literalmente parti-lo logo em pedaços de uma vez.

Jung Kook queria o ódio deles, quanto mais eles o odiassem por ter tomado Chin Tae para si melhor, pois isso significava que amavam Chin Tae em igual medida; mais, muito mais que o suficiente para passarem por cima de qualquer coisa, até de si mesmos para protegê-lo. Ele queria que se tornassem os escudos dele e de Chin Tae, peças no jogo que armava para se livrar do acordo firmado com a Quarta Imperial, e sem perder a própria honra nem nada que tinha ganho com ele.

Ele era um demônio.

Por isso, Tae estava diante de Seok Jin, reassumindo a identidade que tanto detestava, pronto a recuperar tudo de que fugia há nove anos e a machucar Seok Jin, talvez até causar o banimento dele do clã para cumprir a primeira parte do plano de Jung Kook. Aquele maldito pirralho astuto o tinha na palma da mão. Ah, como Tae se arrependia de não lhe ter triturado a língua antes que fosse tarde…

— Que piada — zombou a Quarta Imperial, com uma risada seca. — Você abandonou os assuntos do nosso clã há anos, Quinto Príncipe. Quem confiaria em você para liderar?

— Irá comigo até o pátio ou arriscará a vida de todos me enfrentando aqui, Terceiro Príncipe? — quis saber Tae, seu olhar focado na face anormalmente descorada de Seok Jin, que o encarava de volta, às lágrimas, parecendo incapaz de esboçar qualquer reação.

— Eu falei com você, Quinto Príncipe — insistiu Kim Ji Ye, falhando em mascarar a irritação por ter sido ignorada em público. — Sequer lhe resta educação suficiente para responder?

— É de conhecimento geral que você está ativamente envolvida nas políticas do clã, Quarta Imperial. Portanto, é desnecessário gastar tempo lhe explicando nossas leis. — Tae finalmente retribuiu o olhar da tia, a frieza em seu olhar ganhando traços de enfado, quase desapontamento. — Você já sabe, apenas deseja denegrir minha imagem na esperança de angariar apoio o bastante para barrar o avanço dos acontecimentos. É um esforço inútil, porém. — Voltou a mirar a face de Seok Jin, vendo-o estremecer e baixar o olhar para as próprias mãos espremidas ao colo. — O desafio já foi lançado, negá-lo agora seria o mesmo que admitir o desvalor do atual líder, condenando-o à morte e cobrindo o clã de desgraça. Tenho certeza que nenhum lorde gris que se preze lançaria o clã a uma situação tão vergonhosa para impedir a ascensão de alguém que porventura não aprove. — Olhava os lordes que o cercavam, como se os desafiasse a contradizê-lo, já sabendo que séculos de tradição os impediria disso. — Todos os lordes gris são guerreiros valorosos, e como tal lutariam para mudar o principado de mãos, sem nunca diminuir o valor do clã e os seus próprios.

Tae havia mexido com a ganância dos lordes, ao relembrar a tradição milenar que tornava o Principado de Kim acessível a qualquer membro do clã que conseguisse derrotar o atual líder em um combate público. Havia séculos que ninguém se atrevia a fazer essa tradição valer, mais especificamente desde que a Família Principal se entrelaçou à Família Imperial, e Tae, um dos príncipes gris privilegiados por essa sacralização, havia acabado de dar as costas a ela e ressuscitar a tradição.

Nem o mais fiel aliado da Quarta Imperial a defenderia agora.

— O Quinto Príncipe tem razão, eoma mama — concordou Jin, pondo-se de pé. Ele ainda estava pálido, mas enxugara as lágrimas e tentava sorrir com confiança. — Kim não é um clã de covardes. Além do mais, eu jamais pretendi me recusar a lutar, só estava me refazendo do choque de ver meu irmão agindo como um Príncipe Imperial e neto do Príncipe Predecessor após tanto tempo. É uma alegria vê-lo retornar para nós, Tae Hyung-ah.

Outlander || YoonjikookOnde histórias criam vida. Descubra agora