– Ei, babe, você não precisa me contar, então. Não quero te ver mal. – acaricio suas mãos trêmulas mas ela nega com a cabeça.

– Então, depois de esforços da parte de minha mãe e avô, minha avó aceitou-nos em casa com tanto que minha mãe aceitasse tratamento e meu pai nunca mais se aproximasse de nós. Depois disso meu pai sumiu, eu não sei quem ele é... e, por mais que uma parte minha entenda que ele precisava fazer isso para o bem de minha mãe e o meu, eu me sinto abandonada. Ele nunca veio ver como eu era, Justin, nunca me procurou. Ele nunca quis conhecer sua própria filha. – ela diz ferida. – Se meu próprio pai nunca me quis, por que alguém faria?

– Eu quero você, Luísa. Eu quero muito você. – seguro seu queixo e a faço olhar para mim.

– O combinado foi você não me interromper. – ela diz com um sorriso de lado.

Ela está fugindo, ela está fragilizada e suas defesas estão armadas. Dói ver o que aconteceu a uma garota ainda tão jovem e que trouxe tantas consequências para sua vida. O sentimento de culpa em sua voz aumenta gradativamente ao avançar da história da mesma forma que a dor cresce e ela diminuía seu tom hora ou outra.

– Continuando... meu pai foi embora e minha mãe começou o tratamento, mas ela estava muito debilitada, então, a gravidez era de alto risco tanto para ela quanto para mim. De qualquer forma, o parto acabou sendo muito complicado e minha mãe acabou morrendo... Eu matei minha mãe, Justin. – um soluço sai de sua boca e ela a tampa com as mãos.

Eu nego com a cabeça e passo a língua por meus lábios, procurando as palavras certas a serem ditas nesta situação mas antes que isso aconteça ela volta a contar sua história depois de respirar fundo calmamente.

– Minha avó nunca me perdoou por isso. Ao contrário de meu avô, que sempre me tratou como seu bem mais precioso. – sorri sem mostrar os dentes. – Ele sempre cuidou de mim, já que minha avó nem ao menos conseguia me olhar sem me praguejar infinitamente. Com o passar do tempo tudo piorou; Glória, minha avó, sempre me tratou como um lixo, dizia que eu havia matado minha mãe, que eu era a única culpada por toda a desgraça que aconteceu em nossa família. – enxuga suas lágrimas. – Ao menos na presença de vovô ela não se dirigia a mim, mas quando saia eu era tratada como uma escrava e seu saco de pancadas. Era como se me dar surras fosse seu passatempo preferido. – faz uma careta. – Ela batia em lugares que não eram visíveis para meu avô não perceber; até que um dia, no meu aniversário de nove anos, estávamos voltando da escola – porque ele sempre ia me buscar e buscar, ele disse que me pagaria um sorvete; eu amava sorvete, também era uma forma de ficar longe de Glória por um pouco mais de tempo. – dá de ombros e molha seus lábios.

Eu não consegui controlar a raiva que senti por saber que sua avó, alguém de deveria amá-la e protegê-la, fazia tudo aquilo por um achismo absurdo, sendo que tudo o que aconteceu foi consequência de escolhas dos pais de Luísa, ela é apenas mais uma vítima do vício de seus pais. Ela era apenas uma criança.

– Então estávamos andando pela calçada, eu estava com meu sorvete de duas bolas – flocos e morango – ouvindo uma de suas intermináveis histórias de sua juventude como cantor de jazz enquanto ele rodava seu inseparável guarda chuvas com suas grandes mãos quando ele foi atingido por um tiro no braço.- os soluços estavam mais altos e cada vez mais lágrimas rolavam por seu rosto. – Um policial disparou vários outros seguintes porque pensou que ele estava com uma arma mas quando percebeu que havia confundido apenas entrou na viatura e fugiu... Ele nos deixou ali. Eu não entendia muito bem o que estava acontecendo então eu só me deitei entre braços de meu avô, em seu peito, e comecei a cantar a música que ele fez para mim e me cantava toda noite para que eu dormisse porque eu pensei ser isso que ocorria. – tampa seu rosto com suas mãos trêmulas.

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