Doze

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Pensei que, se eu pudesse tocar este local ou senti-lo,
Esta tristeza dentro de mim poderia começar a se curar
Aqui fora é como se eu fosse outra pessoa
Pensei que talvez pudesse me encontrar
Se eu pudesse apenas entrar, juro que irei embora
Sem levar nada além de um lembrança. – The House That Built Me, Miranda Lambert – Revolution.

Coloco os fones de ouvido e encosto minha cabeça no banco, olhando o movimento das ruas de Nova Iorque através da janela do ônibus

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Coloco os fones de ouvido e encosto minha cabeça no banco, olhando o movimento das ruas de Nova Iorque através da janela do ônibus.

Eu sinto todo meu corpo pedir por cama, apesar de ter certeza de que não pregarei os olhos quando me deitar.

A porra do meu cérebro não para, afinal.

Eu odeio estes períodos de pesadelos, porque eu sempre acabo com meu organismo e mesmo que eu tenha consciência disso, é automático. Às vezes, nem percebo alguns atos meus.

Mas eu não consigo parar; eu já havia tentado. É como se ela aparecesse em meus sonhos e permanecesse em minha consciência, fazendo com que o medo, o ódio, a angústia, a dor estivessem sempre aqui e despertassem ainda mais fortes. Todos os sentimentos da última vez que eu a vi vêm como dardos e têm todo meu corpo.

Eu ainda me lembro do seu olhar em minha direção, me lembro de cada palavra que ela me disse. Eu me lembro de tudo.

– Vai acontecer o mesmo que aconteceu com sua mãe, sua piranha. Você acha que ele se importa com você? Não, querida. Ele só se importa consigo mesmo. Eu sei que você ainda vai bater na minha porta, assim como sua mãe fez. – passa língua por seus dentes amarelos.

Tierre segura meu braço para sairmos daquela maldita casa. Minha mochila está no bagageiro do carro que ele havia conseguido. Eu sinto meus olhos molhados, mas não deixaria que aquela mulher me visse chorando, não mesmo.

– Bom, pelo menos eu tenho alguém que finge se importar comigo, diferente de você, não é, Glória? – arqueio minhas sobrancelhas e dou-lhe um sorriso irônico.

A negra tenta avançar para me bater mas Tierre a segura e me manda entrar no carro. Olho ao redor e percebo alguns vizinhos fofoqueiros na porta, olhando para nós ali na porta da pequena casa onde sempre vivi, até agora.

– Até nunca mais, vovó. – digo com nojo e entro no carro.

Tie diz algo em seu ouvido que a fez arregalar seus olhos e me olhar, concordando com cabeça. Ele, então, vira suas costas para ela e caminha até o carro.

Mas, mesmo assim, quando estamos saindo de lá, depois que o negro entra no carro, ela ainda tem seu olhar sobre mim, agora com repulsa e um sorriso presunçoso nos lábios. Seu olhar parecia que poderia me matar dali mesmo.

Sinto um arrepio percorrer todo meu corpo e pisco meus olhos fortemente, respirando fundo. Percebo que já estamos chegando ao local em que irei parar e ajeito minha bolsa em meu ombro.

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