Cinquenta

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Tudo o que ouço pelos vários segundos que se seguem é um zumbido gigantesco em meus ouvidos, como se o silêncio tivesse me devorado por inteira

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Tudo o que ouço pelos vários segundos que se seguem é um zumbido gigantesco em meus ouvidos, como se o silêncio tivesse me devorado por inteira.

Primeiro, chego a pensar que morri, porque tudo é quieto demais. Sinto minha garganta seca, enquanto meu corpo implora por descanso, embora sinta estar sob algo macio e tenha acabado de abrir meus olhos. Aos poucos minha visão se torna mais nítida e me deparo co o teto que um dia já foi branco, mas que agora é infestado por mofo, que também chega ao meu nariz, como antes, e provocam-me um incômodo.

A luz faz meus olhos arderem por alguns segundos até me acostumar novamente com ela. Então, ainda deitada, passo meus olhos vagarosamente ao meu redor e sinto um arrepio percorrer minha espinha dorsal ao me deparar com a figura de Tierre, a alguns metros, de costas para mim; quando ele mexe seu pescoço, consigo enxergar um celular contra sua orelha. 

— Está tudo como o planejado, para de encher o saco! — seu tom é baixo, mas raivoso.

Engulo em seco. Ao erguer meu corpo no sofá e desviar minha atenção para a porta do apartamento, vejo que a maçaneta continua sem a chave. Mais devagar do que planejava, sento-me ereta e vejo-me tonta por alguns segundos.

Sli desliga o celular e se aproxima rapidamente de mim, que me encolho por reflexo no canto do sofá. Vejo-o engolir em seco e ergue a mão para tocar meu joelho, mas desiste ao fitar meu rosto mais uma vez.

— Por que eu estou no sofá? — questiono.

Seus olhos continuam avaliando meu rosto por vários segundos seguintes, em completo silêncio. Ao contrário dos meus, que vasculham o cós de sua calça em busca do revólver que estava ali, mas não encontro nada, o que me deixa nervosa. Tierre passa a língua por seus lábios cheios e endireita seu corpo com calma; acompanho seu caminho até a cozinha não muito distante de onde estou e só então percebo ter algo no fogo.

Ao tentar conectar os pontos, buscando em minha memória o momento anterior ao meu desmaio, para tentar entender o motivo de meu corpo ter respondido desta forma, tudo o que consigo é uma nova vertigem. Minhas unhas da mão direita perfuram a pele da minha palma esquerda.

A última coisa de que me lembro é de conversar com meu pai ao celular para me certificar de que ele estava bem.

— Você desmaiou. — seu tom é cauteloso.

Minhas sobrancelhas se movimentam automaticamente.

Abaixo a cabeça e tento controlar minha respiração em busca de alguma estabilidade e sinto meu coração disparar quando percebo já ter amanhecido e me lembro de que tinha um voo marcado para Chicago logo no início do dia, no qual ele também embarcaria comigo e Bolt.

Natanael deve estar muito preocupado. Merda.

Preciso sair daqui.

Quando Tierre retorna, ele segura uma caneca grande em mãos instantes antes de me oferecê-la. Observo a fumaça espessa deixar o copo por alguns instantes, sem saber se devo beber o que ele me oferece ou não, porque há uma sensação pesando sobre meu coração e meu sexto sentido implora para que não o faça.

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