Políticos e Insônia

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CAPÍTULO 9

          Acordei sobressaltado, tendo que segurar um grito. Senti meu rosto suado e meu coração batendo tão rápido que parecia estar competindo com as turbinas do avião.

          — Eu consegui ver — disse, assombrado.

          — Eu também — respondeu Jacob, apontando para sua tela, onde um jogo de Sudoku era mostrado. — Vamos ter que tirar esse cinco e trocar pelo três, colocando o quatro no lugar do três e o cinco na antiga posição do quatro. Aí a gente pode colocar, nesse outro quadrado, o três aqui e o sete embaixo, e então é só completar o restante da linha, aí é só...

          Ignorando o mago, olhei ao meu redor, me lembrando de onde eu estava. Pela janela distante, via o avião ir descendo devagar, passando pelas nuvens. Já devíamos estar no momento do pouso. Ao meu lado, Gale e Cecyl estavam acordadas, comendo um pacote de biscoitos e lendo, respectivamente.

          — Eles distribuíram para todo mundo do avião — disse a maga baixinha, apontando para os cookies. — Você perdeu.

          — Não, vocês não estão entendendo. Eu vi. O momento do sequestro de Leroy. Nos meus sonhos.

          Aquilo gerou um silêncio repentino nas duas magas, que pararam o que estavam fazendo para me encararem. Aproveitando a oportunidade contei tudo. Não nos mínimos detalhes, já que, como todo sonho, alguns momentos pareciam meio nublados para mim. Mas o que era realmente importante, o rápido confronto entre o mago e o sequestrador, estava bem registrado na minha memória.

          Quando terminei de falar, Gale colocou a mão no queixo, pensativa.

          — Leroy é um Armadilheiro, não é? — perguntou ela, colocando o pacote de cookies de lado — Nós temos essa habilidade. Eu ainda não, já que não sou treinada o suficiente, mas os Armadilheiros experientes podem enviar lembranças para outros. Talvez esse sonho tenha sido causado por uma magia de Leroy querendo enviar uma mensagem para você. A pergunta é: que mensagem? Ele poderia muito bem ter enviado para você algo que revelasse a localização dele, o lugar onde ele está sendo mantido preso. Por que mandou logo isso?

          Cecyl suspirou, guardando seu livro.

          — Essa magia permite que Armadilheiros enviem espécies de registros de suas memórias para outros, certo?

          — Sim, isso mesmo — confirmou Gale, ainda pensativa.

          — Oliver, você estava vendo a situação se desenrolar pelos olhos de Leroy? Ou estava observando tudo como um vigia invisível?

          Aquela era uma boa pergunta. Os pensamentos se embaralhavam em minha mente e, entre o medo e as perguntas que tinha, não conseguia alcançar a resposta. Mas então, me lembrei do momento final, do desfecho do pequeno conflito, quando o homem bateu a cabeça e tudo ficou escuro. Não apenas para o mago atacado, mas para mim também.

          — Estava vendo pelos olhos de Leroy. Não sei se o tempo todo, mas tenho quase certeza que sim.

          — Ótimo, essa é a resposta que eu esperava. Veja, o mago pode enviar por essa magia apenas coisas que ele viu, ouviu ou sentiu. Certo, Gale?

          — Certíssimo.

          — É verdade — seguiu Cecyl — que os outros sentidos podem nos dar pistas, mas a visão é, definitivamente, o principal em mensagens como essa. Vocês acham que Leroy poderia mostrar para Oliver sua localização atual se o próprio Leroy não pudesse enxergar? Claro que não, pois só teríamos sons e cheiros, e isso nem sempre é o suficiente. Gale, você conseguiria saber se estou numa sala de aula caso eu enviasse para você o som do grafite riscando um papel e o cheiro de artigos de papelaria? Eu poderia, da mesma forma, estar num escritório.

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