O Novo Professor & Um Wyvern

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CAPÍTULO 5

          Era um homem de estatura mediana, sem músculos e com uma cara simplesmente normal. Gostaria de poder ser mais específico, mas não há outro adjetivo. Ele usava óculos, tinha um volumoso cabelo escuro bagunçado e profundas orelhas debaixo de profundos olhos. Devia ser somente uns sete anos mais velho do que nós. Bem mais novo do que nosso professor habitual.

          — Olá — disse ele, com a cabeça ainda baixa, como se tivesse com medo de encarar os olhares dos alunos. — Eu sou Leroy McCarten, o professor substituto de vocês. Infelizmente, o professor de vocês teve que faltar por causa de um problema de saúde grave, então darei aula a vocês por um tempo indeterminado. Por favor, abram seus livros na página trinta e nove e... preciso de algum voluntário para ler esse texto no quadrinho verde.

          Alice Griffiths, como já era de se esperar, levantou a mão sorridente, sendo, como sempre, um exemplo para todos os outros alunos.

          Uma pena que nem todos os alunos seguiam o modelo de Alice. Quando a garota começou a ler o texto, duas pragas que pareciam ter saído do nada só para me incomodar começaram a conversar atrás de mim. Minhas notas já eram ruins – as piores da sala – e A Escola era o único colégio público com estrutura e bons professores na redondeza. Meus pais não tinham dinheiro para pagar um colégio particular, então eu tinha que arrebentar nas próximas provas.

          Por isso que esses dois alunos conversando atrás de mim, num texto aparentemente tão importante para o entendimento do conteúdo, me irritava tanto.

          — Ei, os dois! — sussurrei, querendo gritar, para os que conversavam atrás de mim. — Dá pra falar um pouquinho mais baixo?

          Embora não tivesse dito isso, minha mensagem estava clara: calem a boca. Porém, um dos dois meliantes – Jack, um duplo repetente com as orelhas cobertas de piercings – não parecia disposto a fechar a matraca.

          — Está querendo prestar atenção na aula, Oliver? Mude de lugar, então. As bocas são nossas, mas as pernas são suas, e você pode fazer o que quiser com elas.

          Se eu tivesse uma daquelas magias de explosão insanas de Jacob, usaria uma agora. Porém, como a magia ofensiva mais forte que eu tinha eram meus punhos – que infelizmente não eram mágicos – decidi responder com palavras serenas e pacíficas:

          — Sim, as pernas são minhas e, se vocês não pararem de conversar, terei total direito de enfiá-las em suas caras!

          Aparentemente eu falei isso mais alto do que deveria, pois um pigarreio por parte do professor me fez virar em direção ao quadro e me deparei com o homem segurando uma folha. Era a chamada, com o nome e a foto de todos os alunos. Não demorou muito para ele me identificar:

          — Oliver, não é? Além de conversar em sala, ameaça alunos? Isso é grave...

          — O quê? — Fiquei confuso de início, mas logo percebi que ele só ouviu minha última frase, sobre as pernas e as caras, e por isso achou que eu era algum tipo de meliante juvenil. — Não, professor! De modo al...

          Mas, antes que eu pudesse terminar a frase, a voz de Jack me interrompeu:

          — Sim, professor. Ele nos ameaçou e disse que pegaria nosso lanche no recreio! — O falso tom de voz era choroso. Uma entonação típica de nerds isolados que sofrem bullying. Definitivamente, Jack estava bem longe disso.

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