Jogo de Cartas & Aeroportos

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          Todos os magos da Família Campbell estavam reunidos no salão da Sociedade, sentados nas poltronas ao redor da mesa de centro. Eu, obviamente, estava lá, segurando um grupo de sete cartas coloridas na minha mão.

          — Ok — falei, olhando para Jacob. — Deixe-me ver se eu entendi: nós vamos pegar o avião para o Torneio das Arenas amanhã e estamos utilizando nossas últimas horas no salão da Sociedade jogando Uno?

          — Exatamente! — falou o outro, assentindo.

          — Não deveríamos estar praticando conjuração de círculos mágicos ou qualquer coisa do tipo? Tipo, devemos ao menos ter uma estratégia para vencer o Torneio, seja ele o que for.

          — E o que você acha que estamos fazendo? — perguntou Cecyl.

          — Jogando Uno?

          Na poltrona ao meu lado, Gale riu baixinho, uma risada carregada de deboche e desdém.

          — Pobre alma ignorante — falou ela. — É muito mais do que isso. Veja, isso que estamos jogando é Umo, não Uno. É uma variação especial para magos. Toda vez que uma rodada acabar com as cartas 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 ou com as cartas especiais de fundo escuro, todos os que estão na mesa precisam conjurar um círculo mágico e deixá-lo acima da cabeça. Quem conseguir conjurar mais, ou seja, sobreviver mais rodadas, vence. Se seu baralho acabar ou se você não conseguir mais conjurar nenhum círculo mágico, perde.

          — Espera, então, no final das contas, vamos ter que conjurar um círculo mágico no final de todas as rodadas!

          — É, mais ou menos por aí.

          — E não é Uno se o objetivo é não acabar seu baralho. Então as cartas de "+2" e "+4" iriam ter que virar "-2" e "-4"!

          — Tipo assim — concordou Gale, visivelmente se forçando para acompanhar o raciocínio.

          — E se, no final das contas, o único objetivo é conjurar círculos mágicos, por que não os conjuramos de qualquer maneira em vez de utilizar uma ideia de Uno invertido? Ou por que não jogamos Poker, mudamos o nome para "Pokel" e usamos os círculos como fichas? No final das contas, não vai importar o que estaremos jogando.

          Todos os outros magos ao redor da mesa de centro colocaram a mão no queixo, refletindo com os olhares distantes. Por fim, Jacob disse:

          — Quer saber? Vamos só conversar.

          A Cidade, o mega conjunto urbano ligado por meio de linhas-férreas e formado pela junção das principais megalópoles do continente, era dividida em duas áreas: a Cidade Norte e a Cidade Sul. Elas eram separadas por um comprido trilho numa área de quase nenhuma densidade demográfica. Por questões de segurança, qualquer pessoa que passasse de uma área para outra teria que apresentar um passaporte e, na volta, passar pela alfândega, além de poder levar apenas 23 quilos em cada mala com um máximo de duas malas por pessoa, sem contar com a bagagem de mão. Era preciso ter esse conhecimento porque, enquanto o lugar onde estudávamos ficava a nordeste de Castelo, na porção Norte, o Torneio iria acontecer nas grandes planícies da porção Sul.

          Jacob estava explicando tudo isso nesse momento, mas demorando muito mais tempo em sua constante dificuldade em se lembrar qual das duas áreas era a Norte e qual era a Sul, além de uma impressionante incapacidade de memorizar as regras para a bagagem levada. Não precisam me agradecer por ter resumido tudo em apenas um parágrafo.

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