A DATE

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Acordo na manhã seguinte e me espreguiço, sonhei com um par de olhos castanhos que nunca serão meus. Sento na cama me lembrando que hoje teria um encontro para ir, envio uma mensagem para as gurias perguntando se uma das duas poderia vir me ajudar a achar uma roupa para usar. Geórgia prontamente responde que a tarde viria me ajudar.

Coloco uma roupa de ginástica e saio para correr. Em meus fones a música retumba com o volume no máximo. Tudo dentro de mim está uma bagunça, não quero pensar em Justin, pois toda vez que faço isso sinto a vergonha tomar conta de mim. Eu pedi para ele me beijar. Onde estava com a cabeça? Foi uma coisa muito idiota da minha parte fazer isso. Se ele realmente quisesse algo eu não teria como retribuir da maneira que ele merece, não me sinto pronta para um relacionamento. Sinto um medo irracional tomar conta do meu corpo, a única coisa que quero fazer agora é me esconder de toda essa situação. Tenho medo de me machucar de novo, não sei se aguentaria outra vez tudo aquilo. Giro meus calcanhares e em um movimento rápido já estou correndo de volta para casa.

Chego em casa depois de 50 minutos quase desintegrando de suor e cansaço. Tomo um banho e corro para a cozinha arranjar algo para o almoço, acabamos eu e Victória criando uma comida estranha.

Victória é uma menina legal de conviver, mas o máximo de intimidade que tivemos foi dividir um pote de sorvete uma vez quando ela tinha brigado com o seu namorado. Olhamos filme enquanto ela chorava, uma em cada canto do sofá. Creio que de alguma forma isso a ajudou naquele dia. Pode parecer estranho, mas às vezes só precisamos da presença de alguém para saber que vai ficar tudo bem. E naquele momento parecia ser tudo o que ela precisava.

Chamamos Filipy para comer conosco, no fim foi bom passar um tempo com eles, nossos horários dificilmente se encontram.

Depois de revisar todas as minhas redes sociais e ver que não tinha nada de bom ali, decidi me deitar um pouco. Não demorou muito até sentir meus olhos pesarem e se renderem ao sono.

Acordei em um susto com o barulho de alguém tocando a campainha, procurei pelo celular que estava perdido em meio as cobertas para ver que horas era.

14:26




Sábado, 16 de junho

Sentei-me rápido na cama percebendo que deveria ter acordado mais ou menos uma hora atrás, mas o despertador não tinha tocado. Ou tocou e desliguei para dormir mais um pouco, o que é bem provável. Arregalo os olhos quando lembro que tenho um encontro hoje. Estou quase morrendo dos nervos com a situação com o Justin, mas nem me dei conta que aceitei ir a um encontro, uma coisa bem provável de se tornar algo sério. Isso não faz sentido.

Tento cancelar esses pensamentos, respiro fundo e faço o maior esforço possível para manda-los para longe.

Ainda estou meio zonza de sono quando a campainha toca mais uma vez me fazendo lembrar o motivo de estar acordada, levanto procurando minhas calças de pijamas para ir atender a porta. Geórgia salta animada para dentro da sala dizendo que já tem algumas ideias de looks. Sabia que tinha chamado a pessoa certa.

Geórgia me faz experimentar alguns vestidos que ela trouxe, mas no fim decidimos por um meu mesmo. Aproveitamos o resto da tarde para pôr o papo em dia.

- Você deveria colocar o sapato vermelho. - Diz Geórgia colocando mais um marshmallow na boca.

- Não quero colocar salto alto, não sei onde vamos ir.

- Então coloca o preto que tem o salto menor. Mas você sabe que o vermelho ficaria mil vezes melhor.

Concordo com a cabeça enquanto me estico na cama para pegar meu celular que acabou de apitar indicando uma nova mensagem.

- Quem é? Meu Deus! É do Evan? - Leo salta para o meu lado.

Desbloqueio o celular, e o nome de Justin salta na tela com o conteúdo da mensagem.

"Hey. Vou estar por casa hoje, se quiser aparecer..."

Bloqueio o celular novamente e o jogo em cima da cama. Ainda não sei como vou lidar com isso, pelo menos hoje tenho certeza que não quero vê-lo.

- Ele te chamou para ir à casa dele, Melina!

- Sim. - Dou de ombros como se não fosse grande coisa. Não é grande coisa, vou à casa dele quase todos os dias. Não era, pelo menos até ontem. Agora não sei como vou olhar para ele e fingir que esqueci que nos beijamos.

- Não lembro de nenhum Justin na nossa turma. - Ela me olha desconfiada.

- Ele não é da nossa turma, o conheci em uma festa que fomos.

- Você o conheceu em uma festa, ele está te chamando para a casa dele e vocês são só amigos? - Geórgia estreita os olhos duvidando de mim.

- Sim, é só amizade.

- Ah. Meu. Deus. Você gosta dele!

- Nós nos beijamos. - Confesso. Mordo a parte de dentro da bochecha, nervosa. - Mas somos só amigos, decidimos que seria melhor assim.

- Você tem certeza disso?

- Acho que sim. Ele é importante para mim, não acho que conseguiria ficar sem a amizade dele. E também não quero nada sério, não tenho paciência para isso agora. - Coragem talvez seja a palavra mais adequada, na verdade.

- Mas você está indo a um encontro hoje.

- Eu sei. Mas com Evan sei que não tem perigo, não sinto por ele o que sinto por Justin. - Faço uma careta ao falar - Você entende?

Geórgia balança a cabeça concordando.

- Ah, amiga! Você está tão ferrada. - Ela aperta minha mão em forma de consolo. Dou um sorrisinho dando graças por ter uma amiga comigo nesse momento.

Geórgia vai embora um pouco antes das 17:30. A porta de saída do prédio está com problema, então tenho que descer para poder abrir para ela.

Antes de subir de volta, depois que Geórgia já foi embora, vejo Justin dobrando em minha rua. Ele está correndo, sem camisa e suado. Penso em fingir que não o vi e entrar do prédio, mas ele é mais rápido do que eu e me chama antes que eu consiga fugir. Abano para ele e o espero em frente ao meu prédio. Não posso deixar de notar o quanto seu corpo é bonito.

- Meli, oi. Esperei você ir lá em casa, mas você não apareceu. - Ele diz com as mãos na cintura enquanto recupera o fôlego. Noto um tom de cobrança em sua voz.

- Tinha algumas coisas para resolver com uma amiga. - Digo fazendo minha explicação parecer convincente.

Nunca tinha o visto sem camisa antes e assim como em seus braços, seu peitoral também tem algumas tatuagens. Uma me chama mais atenção, uma flecha torta no lado esquerdo do seu corpo, um pouco acima da costela, e ela esconde uma cicatriz. Chego um pouquinho mais perto para vê-la melhor, quase estendo a mão para toca-la, mas me contenho. Justin fica tenso com a minha aproximação.

BURNING COLORSWhere stories live. Discover now