BEHIND HIM

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No meio da semana, Isis me convida para darmos uma volta pela cidade. Andamos pelas ruas passeando e parando em algumas lojas apenas para especular, depois de um tempo chegamos a um café para comermos algo. Enquanto ela fala, tomo chá e Justin surge em meus pensamentos. Um sorrisinho se forma em meus lábios, me sinto alegre por ter não ter contado a elas que o conheci naquele dia e isso ser o meu segredinho.

Durante a semana, encontrei Justin mais algumas vezes pelo campus, tudo muito rápido. Combinamos que eu iria até a sua casa no sábado e depois sairíamos.

Ouço Isis suspirar e volto minha atenção para ela.

- O que foi? - Pergunto.

- Eu queria ser igual a você, conseguir criar um mundo só meu.

- Como assim?

- Tipo agora, você parecia tão entretida em seus pensamentos, como se estivesse no próprio mundo. Acho isso bonito, poético. -- Ela dá uma risadinha encabulada, não posso deixar de sorrir com o seu jeito.

- Você deve ser a primeira pessoa que acha isso legal, Isis. Viu? Poucas pessoas conseguem ver beleza em lugares onde ela não está explicita. Eu queria ser igual a você nesse ponto.

-É verdade. - Isis sorri animada, seus olhos brilham e ela parece uma fada. Tenho quase certeza de que ela não pertence a esse mundo. - Fico feliz em ser sua amiga, Meli.

Sorrio e me sinto sortuda por ter pessoas assim em minha volta, que conseguem ver amor e beleza em qualquer lugar.

- Eu também, Isis.

Quando o sábado chega, tento fazer de tudo para as horas passarem rápido, mas parece que hoje elas resolveram se arrastar. Vou para a academia, crio algo estranho com os restos de outras refeições para comer e então, finalmente, começo a me arrumar. Escolho um vestido vermelho e pego uma jaqueta jeans caso esfrie. Às oito horas da noite subo as quadras que separam as nossas casas.

Estou nervosa, sinto uma sensação estranha na boca do estômago. Não sei se devo fazer isso, não combina nem um pouco com quem sou. Não sou de sair com pessoas que mal conheço, mas tudo bem. Talvez seja o início de novas experiências.

Entro no prédio e subo as escadas até o seu andar. Bato na porta e ela se abre, está só encostada. Entro sem fazer barulho procurando por alguém ali. Sinto alguma coisa trompar em mim.

- Mas o que... - Justin me olha com os olhos arregalados. - De onde você surgiu?

- Você deixou a porta aberta. - Respondo me afastando.

- Ah, devo ter esquecido de fechar quando cheguei.

O apartamento dele é maior que o que moro, como já esperava. A sala é bem maior e parece ter mais cômodos também, mas o que mais me chama atenção é a sacada. Amo sacadas e queria muito ter uma assim onde moro, ela tira um pouco a sensação de que você está morando dentro de uma caixa. Aproveito que ela está aberta e que um ventinho está entrando por ali, e vou até lá.

- Não acredito que você tem uma sacada. - Justin me segue e se escora na grade.

Lá em baixo tem uma grama verde e uma área privada com piscina.

- Sim. Você não tem no seu apartamento?

- Não.

- Hum... acho que é só alguns prédios que tem isso. - Olho para ele intrigada, para conseguir vaga nesses prédios não é nada fácil.

- Como você conseguiu vaga aqui nessa época do ano?

- Antes eu morava aqui, quando tranquei a faculdade aluguei para não perder a vaga. Sempre tive em mente de voltar para Sidney.

Tenho vontade de perguntar porque ele foi embora, mas fico com um pé atrás já que nos conhecemos a pouco tempo. Seguro minha língua e decido esperar pelo momento certo.

- Ah. Você mora sozinho aqui então?

- Sim.

- Deve ser bom.

- É. Solitário demais às vezes.

- Acredite, mesmo com o apartamento cheio ainda é solitário às vezes. - Dou uma risadinha amarga.

Em resposta, ele fez um sinal positivo com a cabeça.

- Então, vamos lá? - Pergunto entrando de volta na sala.

- Acho que nada de Cafeteria, não é mesmo? - Justin rebate minha pergunta rindo. Coloco a língua para ele. - Vamos lá.

Rodamos de carro pela cidade passando por alguns pontos turísticos. O clima está muito agradável e tem um ventinho bom, então deixamos as janelas do carro abertas.

Depois de muitas voltas e risadas, paramos para comer em um restaurante meio bar e pedimos batatas fritas. Não conseguimos ficar muito tempo por lá, o lugar estava muito cheio e é impossível conversarmos normalmente, só gritando para conseguir a voz do outro. Então resolvemos voltar para a casa dele.

Sentamos no chão da sala para assistir um filme, mas no fim passamos tanto olhando as opções que desistimos. Justin se vira para mim e começa a me observar, sinto como se ele estivesse analisando cada pedacinho meu. Fico com vergonha, seu olhar é de curiosidade quando ele diz:

- Quem é você realmente, Melina?

No início não sei como responder sua pergunta. Na verdade, nunca sei responder esse tipo de pergunta. Apenas sou Melina, um conjunto de coisas boas e ruins, desastre e sucesso. Conto as coisas básicas, o que gosto de fazer e sobre o curso que escolhi.

- Só isso?

- Não sei mais o que falar. - Dou de ombros - Agora é sua vez de me contar quem você realmente é.

- Eu? Baseado nas coisas que você me contou, você já sabe quem sou. - Justin dá um risinho sem graça pensando que ia conseguir me desdobrar e fugir da resposta, mas continuo o olhando esperando que ele fale.



É estranho quando você sente que pode confiar em uma pessoa. Não é nada que consiga explicar, você apenas se sente à vontade com ela e de alguma maneira sabe que pode contar para ela o que quiser. É assim que Justin se sente na presença de Melina. Ele não gosta de compartilhar sobre o seu passado, geralmente as pessoas o encaram com pena depois que ele o faz. Mas com ela ele se sente seguro, e quase não nota quando já está contando sua história.

Justin morou em Vancouver desde que nasceu, mas sempre quis sair de lá e a faculdade pareceu a oportunidade perfeita para isso. Ele nunca se deu bem com seus pais, as únicas pessoas daquela família com quem se dava bem eram com a sua irmã Jazmyn, dois anos mais nova que ele, e com Jaxon que ainda é uma criança.

BURNING COLORSOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz