VI.IV - A Redenção das Sogras

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Neide percebeu que a pergunta lhe tinha sido dirigida porque ainda segurava a xícara em suas mãos. Tinha perdido tanto tempo a analisar tudo ao seu redor, principalmente por sentir que, ao contrário do que esperava, aquele lugar transmitia uma paz incrível. A última vez que havia experimentado tal sensação, tinha sido com seu irmão Sales na fazenda onde moravam no Brasil.

— Pode ter a certeza de que se não tivesse do meu agrado, expressaria — respondeu e encontrou os olhos castanhos da criada de queixo quadrado que indicou que além de governanta, provavelmente seria a responsável pela cozinha.

— Frontal. — Lady Rinley entrelaçou os dedos, exibindo apenas uma joia no dedo anelar com uma grande pedra verde cujo reflexo parecia alternar a tonalidade de acordo com a luz que recebia.

— Senhora minha mãe. — John estava impaciente e de cenho unido. O traje militar acompanhado do semblante lhe dava um ar naturalmente autoritário, mesmo sendo o mais novo naquela sala. — Devo me apresentar ao exército em alguns dias, como muito bem sabe, pelo que precisarei de vossa bênção quanto a minha união com a Neide.

A brasileira levantou a cabeça num ápice para encontrar o rosto do jovem Capitão e sem querer entornou a xícara sobre o belo vestido azul-escuro. Levantou-se no mesmo instante.

— Há-de de me desculpar por tamanho desastre — pediu e começou a limpar com o guardanapo que a criada prontamente a entregou. — Agradecida...

— Senhora Ferney. — A mulher alta respondeu enquanto ajudava a minimizar o ocorrido numa rapidez invejável. — Aposto que um licor viria em melhor grado.

— Certamente.

A sala ficou em silêncio e a senhora Ferney arregalou os olhos, as bochechas pintaram de encarnado e se afastou com um sorriso amarelo até parar novamente ao lado da poltrona.

— Terá sido uma brincadeira de mau gosto de minha parte. — A governanta se desculpou e baixou os olhos, mas John se mostrou irritado no mesmo instante e caminhou em passos pesados como se as botas pudessem esmagar o chão, até alcançar um dos armários de onde tirou uma garrafa e serviu num pequeno copo de vidro.

— Sei que deveria recusar para que tenha uma boa impressão de minha parte, Lady Rinley, mas há-de compreender que serei tudo, menos falsa. — Neide recebeu o pequeno copo e bebeu um gole curto. — Agradecida, John.

Outro silêncio invadiu o espaço e apenas se escutou o chilrear de alguns pássaros lá no vasto jardim que ficava na parte frontal da belíssima mansão. Lady Rinley foi a primeira a falar depois de refletir por uns instantes.

— Se alguma coisa, o meu estimado filho há-de ter aprendido comigo, é que não se deve enrolar os momentos desta vida como um novelo de lã. John foi criado com princípios básicos, na maioria das vezes, rígidos, devo admitir, mas sempre com a maior educação. Não se faria a qualquer dama sem que tivesse as mais bem quistas intenções. — Pigarreou um pouco e balançou a cabeça. — Estará óbvio para todos, que Lady Amâncio é uma mulher madura, com poucos anos à frente e, que, pelo que posso constatar fala por si própria. Seria esperado que algum familiar se fizesse presente.

— Sou órfã.

— Lamento. — Lady Rinley deixou uma prece baixa. — Se fará parte de nossa família, presumo que deixará de se sentir de tal forma. Não entenda a minha pessoa como compreensiva, porque de momento não o sou de todo, mas sei que nada do que possa dizer fará com que meu filho mude os anseios, pelo que não é necessário perder tempo com contra argumentos.

— Poderia imaginar, pois quando conheci o vosso filho pude escutar exatamente o traçado de uma mulher que consideraria ideal, mas devo adiantar a vossa pessoa que não só cuido de meus próprios negócios, como sou separada e muito pouco saberia bordar, tocar ou cozinhar. — Neide adiantou o assunto e prendeu um sorriso quando viu a criada a fazer um sinal da cruz com rapidez para disfarçar a risada que a acometeu.

Nove Meses Para SempreWhere stories live. Discover now