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      Não sei o que se passa na cabeça das meninas, a Maju tem idade o suficiente pra entender o que está acontecendo comigo, mas a Violeta é só um bebê. Me pergunto o que se passa na cabeça delas, porque desde quando voltei para o meu trabalho, elas grudaram em mim. A Violeta agora, está deitada sobre meu colo, me abraçando como quem não quer perder algo. A Maju está com a cabeça no meu ombro, tirando um cochilo.
    Eu comecei a fazer terapias novamente, e dessa vez estou até tomando remédio. Não que eu goste, porque como é remédio controlado tem que ser naquela hora exata, mas eu venho aprendendo com isso. Minha psicóloga disse que eu sou forte, porque passar por todas as crises que eu passei nos últimos tempos, sem auxílio de nenhum profissional, não é para qualquer um. Eu ainda tenho um pé atrás com ela, mas sei que ela só quer o meu bem, e também é paciente.

    Por mais que eu tente, eu não consigo bloquear o Mendes da minha cabeça. Ainda acompanho ele, mas eu não quero ser notada. Me dói saber que eu preciso desistir de nós, sufocar as memórias lindas que construímos juntos. Ele merece alguém melhor que eu, e eu acredito que logo isso vai acontecer.

-Aduldão, eu quer ir com a Baah... -fala a Violeta- vem com nois?

-Para onde meu bebê? -olho nos olhinhos cheios de expectativas dela.

-Pa o mesmo canto do Awn. -fala sorrindo sapeca.

-Como assim?

-A Baah tá viajanu o mundo fazeno aquele tal de imbio... -fala explicativa- ela já foi pa o zu ioqui e agola vai po canto do Awn. Mamãe falou que nois vamo pa lá, pa ela taptá, aí depois nois vorta e ela fica como lá em zu ioqui. -sorri sincera- Mamãe falou que tava com sodade da Baah, e minha vó não pode ficar com eu dê novo. Então mamãe vai pa lá com nois. Bola?

     Ela me olhava com expectativas altas, e eu não queria decepicioná-la.

-Eu não sei se posso... -digo afetada por um nó na garganta.

-Eu num quelo sepalá de tu dê novo. -ela diz já chorando, aquilo me parte o coração.

-Nós não vamos nos separar, eu nunca deixaria isso acontecer. -abraço ela.

-Eu num cunsigo. -ela chorava- Mamãe falou que tu tava dodói, pôlisso num vinha ver eu, e nem eu podia ver tu... -ela soluça- eu tiquei com um negoço no colação que deixou ele pequenininho Aduldão, mamãe disse que ela medo. Mas num ela que nem o medo do biço papão, ela medo de nunca mais ver tu. Eu num quelo mais senti meu colação daquele jeito dê novo, dói.

     Meu coração apertou ao ouvir a confissão da minha pequena. A Maju percebendo a movimentação acordou, e também ouviu aquela confissão.

-Eu também tive medo Aysla de que você não conseguisse sair dessa... -confessa a Maju com a voz já embargada- e pensar que estava tão longe de você, no momento em que mais precisava de mim, me deu um sentimento de frustração. Me senti uma inútil.

-Bola com nois Aduldão, mamãe compa os lemédios lá pa você tomar tumém. Eu cuido de tu. -disse olhando para mim sorrindo.

-Ôh minhas meninas... -não segurei as lágrimas- me desculpem por ter feito vocês passar por isso, vocês não mereciam...

-Num chola... -ela enxuga minhas lágrimas com as mãozinhas pequenas-  papai disse que só sentimos sás coisa cando a zente ama a pessoa. E eu amo tu.

-Eu também, te amo muito. -a Maju fala.

    Eu abraço as duas como se quisesse que elas sentissem a imensidão do amor que eu tenho por elas. Sinto braços fortes envolver nossos corpos, e logo percebo a quem pertencem.

-Hey! Ela abaço só de menina! -fala a Violeta irritada pro irmão.

-Pensei que fosse um abraço de família, perdoe-me vossa majestade. -Theo responde fazendo reverência. Rimos.

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   Eu havia conversado com a minha psicóloga, minha mãe, Theo, dona Thais, Phill... com todo ser humano possível de minha confiança. E no final das contas, acabei cedendo. Decidi ir passar uns dias, morando com as meninas e a dona Thais lá em Toronto.

     Eu não posso negar que estou com meu estômago cheio de borboletas dando cambalhota de tanto nervoso, já perdi as contas de quantas vezes peidei hoje, nem parece que eu ainda tenho minhas pregas...

-Eu sei que é um processo natural, mas não acha que tá um pouco exagerado não? -fala o Theo com a voz fanha pelo fato de estar tapando o nariz com os dedos. Digamos que o último não foi nada agradável.

-Pela Santa! O que foi que te deram no almoço?! Carne com ovo e batata doce?! -pergunta o Phill.

-Desculpa gente, eu não consegui evitar. -respondo com a voz fanha por estar repetindo o ato do Theo. Nem eu estava aguentando.

    
    Estávamos dentro do carro a caminho do aeroporto de Recife, o Theo teve que abrir as janelas para o odor passar. Eu não tenho muito controle sobre meu corpo, perceberam né?

    Após um longo trânsito chegamos ao aeroporto. Nos juntamos ao restante da família Mansk, e aguardamos o vôo ser chamado. A Violeta estava toda serelepe, feliz da vida porque eu ia junto, ela não largava de mim, toda hora me puxava para um canto diferente do aeroporto. A Maju, apesar de mais contida também estava empolgada com minha ida. A dona Thaís, bem, ela estava radiante. O Theo a fez prometer que ia ficar de olho em mim 24h por dia, até achei graça quando ela me confessou distante dele.

    No momento eu estava encostado no peitoral aconchegante do Theo, enquanto um Phill ciumento resmungava algo sobre como a vida era injusta com ele, "Nem pro meu peitoral servir de apoio pra minha Algodão eu sirvo..." foram as palavras dele. O Theo aproveitava a situação para se gabar, eu só gargalhava da briga dos dois. A Violeta tinha adormecido, e estava no colo do pai. Maju e dona Thaís tinham ido comprar alguma coisa. Aquela era a minha segunda família...    

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