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    Eu estava no aeroporto, triste por ter que partir. Na verdade, eu queria que tudo fosse eterno, onde eu não tivesse que partir para longe dele de novo. Não sei, senti um vazio grande quando ele me abraçou e me beijou a testa, na nossa despedida. Meu coração apertou sabe? Como se ele soubesse que algo de errado fosse acontecer, eu tenho medo desses meus pressentimentos.

-Ele vai ficar bem, não se preocupe. -o Theo me abraça, me confortando.

-Eu sei que ele vai ficar bem, eu só...-tento segurar minhas lágrimas- eu só não sei se eu vou ficar bem...

-Você vai ficar, eu vou te fazer ficar bem, prometo.

     Acho que o Theo soube do que eu estava falando, e também estava com medo.

  

     Chegamos em Recife à noite e logo pegamos a estrada rumo a Toricity. O Theo era quem dirigia, e eu estava dormindo no banco do carona. Eu não estava bem, e eu sabia disso. Fazia algumas horas em que aquela angústia que me vem não sei de onde, me antigiu. E meu peito doía, eu só queria ficar quietinha sem mexer em nada, uma hora aquilo ia passar, eu sei que ia.

-O que aconteceu com você? Você tava tão animada com essa viagem, tava tão empolgada todas as vezes que a gente se falou, e quando volta, volta desse jeito. Minha filha, aconteceu alguma coisa? Alguém machucou você? -pergunta minha mãe após o banho.

-Não mãe, foi tudo perfeito. -sorrio fraco.

-Então o que aconteceu? Por que você tá tão tristinha? -insiste preocupada.

-Eu, não sei mãe. -digo cabisbaixa.

     Ela não insiste e me deixa chorar no seu colo, e eu choro como se não houvesse amanhã. Não sei porque eu sou assim, sabe? Eu sou toda coisada, nunca vou poder ter uma vida normal, porque sempre, sempre as merdas do meu passado vão voltar pra me atormentar. E isso é um saco! Eu não aguento mais, e sei que ninguém aguenta também. Uma hora, nada do que fiz resta, tudo vai embora e eu me afogo num mar sem chance de sair viva.
     Levo para dentro de toda minha confusão, todos os que estão ao meu redor. Como se eu fosse uma arma letal sabe? Vou destruindo tudo a minha volta. Minha mãe tenta ser forte por nós duas, eu sei, obriguei ela a ter uma filha não perfeita, uma vida incerta. E de quebra, ainda trouxe o Theo para a minha ruína. Eu sou uma péssima pessoa.

      Eu não consigo ter uma vida normal, quando penso que estou bem, quando acho que finalmente vai dar certo, percebo que tudo não passou de uma ilusão.

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Uma semana depois...

 
     É  tudo está bem pior do que imaginávamos. Eu venho tendo pesadelos constantes, venho tendo dias bem ruins. Não tenho me alimentado direito, mas estou coseguindo sair de casa e estou tentando ter uma vida normal, apesar de tudo o que está acontecendo.
    Não tem sido fácil, mas tenho o apoio do Theo e de mainha, isso me ajuda a seguir em frente.

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Um mês depois...

     É, hoje a situação ficou crítica. Eu estava quietinha, só pensando em uma maneira de fazer tudo parar. Eu já não aguento mais tudo o que me está acontecendo, sinceramente eu não tenho esperança de que vá passar logo, já tem tantos dias e ainda estou aqui, na mesma. Acredito que pior, porque faz dias que eu não saio da cama para nada, literalmente nada. Eu não consigo entender, eu quero sair dessa situação mas parece que meu corpo não concorda comigo. Me sinto presa, dentro de mim mesma.

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Dois meses depois...

       Hoje eu escutei minha mãe chorar. Ela chegou do trabalho, eu estava deitada, ela me balançou pra lá e pra cá. Resmunguei alguma coisa apenas para ela saber que eu ainda estava viva. Ela me olhou, levantou e saiu. Escutei o seu choro. Mainha não é muito de chorar, e saber que eu sou o motivo dela estar assim, chorando pelos cantos, me doeu.
    Levantei, fui até o banheiro, liguei o chuveiro e tomei um banho. Eu estava podre. Vesti minha calça tactel, uma blusa larga, e fui até minha mãe com a escova de cabelos. Ela me olhou sorrindo e bateu no espaço do colchão a sua frente, sorri com as lágrimas nos olhos e me sentei. Ela começou a pentear meu cabelo.

     A partir daqui, eu me levantei. Me levantei por conta da minha mãe. No dia seguinte, tive noção do tamanho do estrago que havia feito. Eu estava parecendo um saco de ossos, emagreci bastante, uns 10kg eu acho. Estava fraca, com carência de ferro no sangue, quase uma anemia. Eu havia perdido o brilho da vida. Era como se eu tivesse morta.
      Os estragos não se limitaram a mim, minha mãe estava com o semblante cansado. O Theo, nossa, parecia que ele tinha estado no mesmo lugar que eu. Seus olhos tinham bastante olheiras e ele também estava mais magro, ou era impressão  minha?

- Desculpa... -sussurrei pra ele. Ele me abraçou forte e derramei toda minha dor no seu ombro, como eu senti falta desse abraço- desculpa...

-Shhhh... -ele afagava meus cabelos, e isso me trazia conforto.

      Fazia um tempo que a gente não se  via. Nos primeiros dias, ele ficava ao meu lado, me fazia carinho e tentava me levantar. Depois de um tempo, eu me senti um fardo pra ele, e o afastei de mim. E agora percebo que isso foi a pior decisão que eu tomei. Ele nunca desistiu de mim, todos os dias, minha mãe me dizia que ele estava na sala, que queria me ver, mas eu não permitia. Então ele ia embora, e no dia seguinte estava lá de novo. Eu fui muito egoísta.

-Eu... eu... -tentei falar em meio ao meu choro desenfreado.

-Aysla, você não precisa se desculpar por nada. Eu sempre vou tá aqui, sempre vou tá aqui por você. -ele disse olhando nos meus olhos.

-Eu não mereço... -digo afetada pelo choro.

-Não é questão de merecer, é questão de amor. Eu te amo você tamborete... -sorri de lado.

-Eu também amo tu... -sorrio fraco e volto a abraçar ele- Senti saudade...

-Também senti...

NervousOnde histórias criam vida. Descubra agora