Capítulo 2

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   A VISÃO familiar daquela casa me perturbava, fora nela que eu crescera e que brincara com Jayson, eu definitivamente poderia estar apavorada, mas eu não me sentia assim. A vontade de confrontar o meu pai era bem maior que a vontade de fugir para bem longe daquele lugar.
  A casa não era muito pequena, mas quando eu era só uma garotinha a imaginava como uma mansão enorme. Mais uma vez lembranças vinham na minha cabeça, eu não queria elas, eu queria explicações!
  Tomando iniciativa adentrei a casa sem bater, Viktor atrás de mim se aproxima ficando ao meu lado, seus músculos estavam tencionados e ele fechava os punhos apertando-os. Entrando observei a casa que eu havia deixado para trás, tudo estava em seu lugar, era como se eu nunca tivesse saído dali, eu não sei por que, mas eu imaginava que tudo estaria aos pedaços pegando fogo agora, mas era como se a minha ida não significasse nada, aquilo doeu de se pensar.
_ Será que seu pai está em casa? - Perguntou Viktor baixinho. Observando aquela casa parecia que estava vazia, mas ela sempre foi assim, com o meu pai trabalhando ou cuidando do dinheiro para pagar as contas aquela casa sempre parecia vazia, exceto por Jayson que sempre estava por lá me fazendo companhia.
  Eu suspiro, aquelas lembranças não estavam me fazendo bem, eu não queria admitir, mas eu meio sentia um pouquinho de saudade de casa, do meu pai e daquele idiota também! Eu só queria paz, mas eu nunca poderia ter a paz que tanto almejava, talvez quando finalmente fosse rainha eu pudesse achar a paz que tanto queria e faria com que todo mundo pudesse contar com paz todos os dias.
  Viktor começou a vasculhar cada cômodo da casa, o quarto do meu pai, a cozinha, o banheiro, o meu quarto, tudo e então voltou frustrado para a sala onde eu me encontrava sentada no sofá de pedra feito por meu pai.
_ A casa está vazia, onde será que Alfren se meteu?! - ele estava perdendo a paciência, rindo eu o puxei para o cômodo-nada-cômodo fazendo ele sentar. - ai! Arabella isso doeu!
_ Desculpe raposinha. - ele franze o cenho, confuso me fazendo rir.
_ Raposinha? - ele move a cabeça para o lado fazendo um sorriso de lado surgir em seus lábios.
_ Não faça esse  sorrizinho! - digo zombando - é assim que eu chamo os meus amigos.
_ chama seus amigos de raposa? - ele coça a cabeça rindo, eu riu também.
_ Não! Eu dou apelidos! Peguei essa mania quando era pequena. - digo olhando para as minhas mãos, por que doía tanto falar aquilo? Por que aquele lugar não me deixava esquecer o cara que havia me feito sair dali? Por que eu queria tanto vê-lo? Eu não estava com saudade, não queria estar. Suspiro, Viktor observava de cenho franzido.
_ O que está pensando? - diz pondo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
_ Eu sei que perece estranho, mas eu estava com saudade deste lugar - ele franziu as sobrancelhas novamente.
_ Pensei que tinha dito que não queria voltar para cá.
_ E eu não queria, mas estar aqui me trás lembranças... Eu não sei como explicar! - digo soltando minhas mãos sobre minha pernas.
_ Está falando do seu pai ou... Dele? - disse a última palavra meio receoso, olho para Viktor e sorrio levemente de lado, depois de descobrir que ele pretendia fazer meu pai restituir o acordo do casamento arranjado eu descobrira um pouco mais sobre ele, ao que parecia ele sentia algo por mim. Eu não achava mau, ele realmente era bonito e me trazia sensações boas, coisas que não sabia como explicar, mesmo já tendo-o beijado eu ainda achava meio cedo pensar em uma relação, ainda mais agora que minha luta pela Honra de Frid estava apenas começando.
_ Sim, sobre ele. - digo olhando em seus olhos. Ele suspira apoia os braços nos joelhos e abaixa a cabeça olhando para o chão.
_ Pensei que nunca mais fosse perdoá-lo, ele a traiu, não traiu? - disse virando a cabeça para o lado, me encarando.
_ Sim, ele me traiu, mas eu nunca disse que iria voltar a perdoá-lo, ele não merece o meu perdão e a não ser que ele faça algo extremamente esplêndido, eu não serei capaz de perdoá-lo. Apenas disse que sentia falta dele. Ora! Ele era meu melhor amigo! - digo ficando de pé e jogando meus braços para cima do corpo.
_ Tudo bem, calma! - diz ele erguendo as mãos ao lado da cabeça - eu apenas acho que se você não quer perdoá-lo então por que se incomodar em sentir saudades dele?
_ Não é como se eu pudesse controlar, acha que se eu realmente pudesse controlar tudo o que vem na minha mente eu estaria aqui agora?!
_ Ei! Não precisa levantar o tom, estamos apenas conversando - disse se pondo de pé a minha frente. Eu suspiro, estava me sentindo uma criança agora, por que ele sempre agia como o adulto enquanto eu seguia meus instintos como uma garotinha assustada? Ele afasta a mesma maldita mecha que fica caído na frente do meu rosto, ele a põe atrás da minha orelha deslizando seus dedos por minha pele nesse processo fazendo os pelos desde o meu rosto ao pescoço se arrepiarem. Era disso que eu pensava, as sensações estranhas que ele me trazia, como um simples toque conseguia me arrepiar por inteiro?
_ Desculpe, eu fico estressada. Tudo vêm mudando muito depressa, tudo aconteceu rápido demais e o meu cérebro não consegue processar direito, é como se ele repetisse tudo que aconteceu de novo e de novo na minha cabeça, é estranho, eu sei.
_ Não é estranho - ele diz erguendo meu queixo, acaricia meu maxilar com o polegar - assim que a guarda real descobriu que a governanta que fugiu comigo estava viva, eles a mataram sem piedade. Além de arrancarem de mim minha mãe biológica também arrancaram minha mãe adotiva. Foi tudo muito doloso para mim e eu era só um garoto, eu repassei aquela cena diversas vezes na minha cabeça e pode acreditar eu queria vingança. Eu não conseguia pensar direito, era tudo o que eu queria, que tudo voltasse a ser como era antes, mas não voltou. Acredite minha Rainha eu entendo, o nosso cérebro costuma brincar com a gente quando nos sentimos tristes, mas se nos deixarmos levar pelo que os nossos pensamentos ruins nos falam então vamos fazer coisas pelas quais nos arrependeremos pelo resto da vida. - ele me olhava profundamente e eu não conseguia tirar meus olhos dos seus, ele tinha razão, eu sempre me reclamava de estar aqui e que  tudo estava dando errado, mas tudo isso aconteceu por que eu agi quando estava triste, quando o meu cérebro me torturava e me deixava cada dia mais louca.
  Enlaço meus braços ao redor de seu pescoço e o abraçando, ele era um bom amigo, sempre sabia o que dizer e eu adorava isso. Ele me aperta me abraçando, encosta a cabeça em meu ombro, eu podia ouvir sua respiração e sentir seu sorriso na minha pele.
_ Pode contar comigo para o que quer que aconteça - sussurra fazendo-me sorrir, ele realmente me provocava sensações estranhas, o que será que isso é?
_ O QUE ESTÁ HAVENDO AQUI?! - ouvimos vindo da porta nos fazendo separar rapidamente, eu conhecia aquela voz, era meu pai, Alfren.

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