Capítulo 1

239 31 30
                                    

ERA difícil para mim voltar a ver o meu pai, mas não era exatamente nisso que eu deveria estar pensando.
Assim que chegamos a ilha corremos com Malia nos braços, ela havia piorado e eu estava sem reação alguma, a minha preocupação só não era maior por que Lucinda parecia surtar a cada cinco segundos, ela estava preocupada por nós três!
Viktor tentava acalmá-la dizendo que deveríamos confiar nas curandeiras da ilha e que daria tudo certo, ela andava de um lado para o outro revezando entre as unhas das mãos que já havia ruído e as que ainda faltavam. Eu observava enquanto Viktor a seguia tentando fazê-la sentar, a cena seria engraçada se tanta coisa não passasse pela minha cabeça.
Logo, logo saberíamos se Malia ficaria bem e eu esperava anciosamente para que ela estivesse bem. Nós estávamos na casa de uma das senhoras que me ensinara a fazer pomadas para dor e machucados, não haviam curandeiros de verdade na ilha, essas senhoras eram apenas experientes em curar doentes, pois não podiam pagar por um curandeiro de verdade, que por acaso estavam todos em Berm, capital de Frid. Todos a disposição do rei Harold Berm e do príncipe Duncan Berm I, herdeiro ao trono - não o legítimo já que o verdadeiro herdeiro ao trono de Frid era Viktor - Viktor quase fora assassinado a mando de seu pai assim que nasceu por ter nascido uma Atração, que são pessoas com características consideradas peculiares para o padrão de Frid. Sua característica são seus cabelos ruivos, eu também sou uma Atração, na verdade acho que eu sou uma das Atrações mais visíveis, quero dizer por causa dos meus cabelos, tenho cabelos extremamente loiros e olhos azuis, o que faz de mim tanto uma Atração quanto uma Clamorck por ser a única família não miscigenada de Frid.
Depois de meia hora esperando - enquanto Lucinda fazia um buraco no chão - a senhora Evans sai de dentro do quarto junto da senhora Jenkins que nos mandam entrar. Lucinda nem esperou que elas terminassem de falar foi entrando no quarto com pressa, Viktor e eu fomos atrás.
Ao entrar no pequeno quarto com paredes de barro com uma cama de solteiro velha eu pude ter a imagem de Malia pela primeira vez desde que Viktor a carregou para a casa da curandeira.
Ela estava dormindo, parecia exausta, tinha olheiras enormes debaixo dos olhos, ela havia ficado dias sem dormir direito por conta da dor da ferida em sua barriga e agora podia finalmente dormir, ela merecia aquele momento de paz.
Um tecido branco enrolava sua barriga negra fazendo um contraste bonito, mas o sangue que sujava o tecido conseguia acabar com a beleza de tudo. Lucinda que estava ajoelhada ao lado da cama acariciava os cabelos da amiga, ela tinha lágrimas nos olhos, desde todo o mês que levamos para voltar para a ilha era a primeira vez que víamos Lucinda chorar, na verdade acho que a única pessoa que conseguia fazê-la chorar era seu bem mais precioso, sua amiga Malia. Aquilo também me doía, por que me lembrava de alguém que eu jurei esquecer, alguém que conquistou minha confiança e que fez com que eu o incluísse em meus sonhos, mas que depois me traíra descaradamente.
Tentando afastar os pensamentos do que um dia fora meu melhor amigo eu balançava a cabeça, sentindo os olhos encharcados, quando um braço envolve minha cintura. Eu sabia quem era, mas não queria olhá-lo por que eu não queria que aquelas lembranças passadas estivessem alí.
_ Está tudo bem, Minha Rainha? - diz baixo apenas para mim. Eu não gostava quando ele me chamava assim, por mais fofo que parecesse soava como se eu fosse superior às pessoas a minha volta, eu era apenas Arabella e não A Rainha, como ele me descrevia. O trono eu teria de volta, mas até lá, não queria ser considerada superior do que eu realmente era.
_ Já disse para não me chamar assim. - um sorriso travesso brinca em seus lábios.
_ E qual a graça de chamá-la assim se não para irritá-la? - eu revirei os olhos sorrindo por suas bobagens.
_ Ela vai ficar bem? - pergunto olhando para a senhora Jenkins, que por acaso era avó de alguém que eu preferia esquecer, mas que eu sabia que veria logo em breve. Sorrindo carinhosamente ela responde:
_ Ela está muito cansada, vai precisar descansar por uns dias, mas vai ficar bem. A ferida estava infeccionando, mas conseguimos limpá-la e tratá-la antes que isso acontecesse, vai demorar a cicatrizar então eu não recomendo que ela faça muito esforço.
_ Okay, obrigado - disse Viktor - vamos nos certificar que ela fique em repouso, não é Lucinda? - disse ele olhando para Lucinda que após ouvir o nome dela assentiu freneticamente. Sorrindo me aproximo de Lucinda e ponho a mão em seu ombro, ela me olha de cenho franzido.
_ Ela está bem agora, podemos confiar, eu não teria nos trazido aqui se não pudéssemos confiar nelas. - Lucinda parece suavizar sua expressão assentindo.
_ E agora? - pergunta ela se levantando e limpando os joelhos - para onde vamos? E por que não tivemos que nos esconder quando chegamos aqui?
_ Essa ilha parece ser menos preconceituosa que a maioria do reino, em todo o período que morei aqui nunca fui perseguida ou caçada, de vez em quando haviam comentários maldosos, mas nada que eu não pudesse resolver - ou Jayson pensou Arabella, tentar evitar esses pensamentos não mudariam nada considerando que logo, logo veria ele.
_ E como você resolvia? - diz Lucinda erguendo uma sobrancelha - chorava no cantinho até eles pararem? - aperto os olhos, o que ela queria com aquele comentário? Eu sabia que Lucinda podia se bastante indiscreta, mas ela nunca havia me tratado dessa maneira antes.
_ Qual a necessidade disso Lucinda? - diz Viktor chamando a atenção dela - não se esqueça que é por causa de Arabella que a sua amiga ainda está viva.
_ Isso não importa! Vocês não responderam minha pergunta, para onde vamos? - dizia pondo as mãos nos quadris. Viktor olha para mim, ele tinha feito muito isso assim que chegamos a ilha, por ter crescido lá, eu era a única do grupo que conhecia a ilha então eu havia virado a nova navegadora deles. Considerando que eu nunca fora boa com navegação eu achava essa idéia péssima.

  Havíamos deixado Malia na casa da senhora Jenkins, por que ela precisava descansar e ainda não havíamos achado um local para ficar, Lucinda insistiu para ficar com ela então não podemos dizer não, quem éramos nós para separar amigas de infância?...

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.


Havíamos deixado Malia na casa da senhora Jenkins, por que ela precisava descansar e ainda não havíamos achado um local para ficar, Lucinda insistiu para ficar com ela então não podemos dizer não, quem éramos nós para separar amigas de infância? Essa frase fez meu peito pesar, estar naquela ilha trazia lembranças que eu havia jurado esquecer e Jayson não saía nenhum segundo da minha cabeça, era como se a ilha estivesse mandando energias negativas para mim, como se quisesse que eu me sentisse mal pelo que aconteceu, que eu me arrependesse de ter ido, mas eu nunca me arrependeria de ter saído de lá, por que agora eu era livre, eu poderia fazer o que eu quisesse, além disso era muito bom não ter que me preocupar se meu pai vai ou não se importar com as minhas ações.

Viktor andava com as mãos nos bolsos da calça de tecido velho e marrom, ele parecia meio aéreo como se estivesse no mundo da lua, ele olhava para o nada e parecia que ele apreciava a paisagem, mas os seus olhos desfocados o denunciavam.
_ O que está pensando? - perguntei. Ele olha para mim sorrir sem separar os lábios.
_ Eu estava pensando o que vai acontecer agora que você sabe sobre o noivado arranjado. - sinto minhas bochechas queimarem com a cena que havíamos passado aquela manhã, sozinhos no quarto escuro do navio, o nosso beijo.
_ O que acha que deveria acontecer? - instintivamente respondi na defensiva. Ele pensou um pouco, olhando para o chão e dirigindo seu olhar a mim respondeu:
_ Eu estou aqui para cobrar o seu pai. - franzi o cenho.
_ Como?
_ Sobre o noivado, ele a prometeu a Jayson, porém você e eu somos noivos desde de pequenos, mesmo que não soubéssemos ainda. Quando te encontrei... - disse ele parando no meio da estrada de terra e olhando nos meus olhos, sua expressão estava séria, ele estava se abrindo para mim e finalmente me contava o que ia fazer com meu pai. - eu estava vindo para cá cobrar o nosso noivado.
_ Mas, você disse que estava vindo trazer a informação de que os suprimentos rebeldes estavam acabando.
_ E eu estava, aproveitei essa informação para cobrar o casamento e acabei me deixando cegar por ela - suspirando ele passa as mãos nos cabelos olhando para os próprios pés - eu devia ter me concentrado no meu dever, proteger aquelas pessoas, todos são meus súditos eles precisam de mim e eu me deixei levar pelo rancor.
Então ele queria aquele noivado, era isso? Ele estava indo para lá para cobrar o que Jayson roubara dele, o direito a minha mão. Pensando nisso sinto algo mexer em meu estômago espalhando gelo por ele como se o inverno mais tenebroso acontecesse alí.
Involuntariamente um pequeno sorriso surgiu em meus lábios e eu disse:
_ Se quiser a minha mão vai ter que fazer algo bem mais majestoso que cobrar um acordo. - beijei a bochecha dele e segui andando na frente e eu podia jurar que havia visto seus olhos brilharam ao ouvir aquilo. Logo ele apressa o passo para me acompanhar e passa a me seguir em silêncio, ainda estava pensativo, mas era diferente, seus olhos tinham um tom mais vivo agora, era como se o mel dos seus olhos se transformassem na mais bela geleia real e eu havia feito aquilo, era gratificante saber que causava tanto efeito sobre ele, porém meu sorriso sumiu ao avistar a minha frente, minha antiga casa.

Pela LiberdadeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora