Represália

A agência Kannenberg

A aeronave decola. Eles estão em poltronas lado a lado. Lorenzo demonstra verdadeira felicidade. Está sorrindo e conversando pelo aplicativo de mensagens do celular. Enquanto isso, Caian está pensativo. Um frio na barriga toma conta dele. Por segundos ele acha que não deveria estar ali. Não entende o porquê daquela sensação estranha. Fica confuso. Vem à tona, em seus pensamentos, o sonho que ele teve na última noite. Ele se aflige. "Deve ser porque nunca viajei de avião, devo estar receoso, por isso esse sentimento" pensa ele. Minutos depois, Lorenzo guarda o celular. Vira-se para Caian e diz:

- Preparado para iniciar a melhor fase da sua vida, meu amigo?!

- Acredito que sim. - Caian esbanja um sorriso falso, ao modo de que parece não estar mais tão contente.

- Quero só ver mesmo! - Afirma Lorenzo.

A alegria do fotógrafo é tamanha que nem nota o leve desânimo de Caian. Parece que aquilo era exatamente o que ele queria: estar indo para São Paulo com o futuro modelo.

- É... Lorenzo, você pode me contar um pouco mais sobre a história da agência? Por que vocês estavam em crise? - Caian está curioso.

- A Kannenberg era dos meus pais. A mamãe brigava muito com ele porque ele só queria saber dos negócios e não dava a mínima atenção para ela e pra nós, que somos filhos. Depois de um tempo, ele tomou consciência disso e resolveu nos levar para passar uma temporada na Itália. Os negócios ficaram sob supervisão dos irmãos postiços dele. Mas não souberam administrar. Só sabiam roubar dinheiro, daí quase faliu... Porém, éramos uma empresa muito importante e valorizada em nível nacional e internacional. - Responde Lorenzo, indignado.

- E o que aconteceu com o seu pai? - Pergunta Caian.

- Bem... É... Ele soube que a mamãe o traiu. Tentou se matar quatro vezes. Uma delas fui eu quem impediu. Daí ele, atordoado com essa situação, acabou fugindo de casa. Nunca mais o encontramos. Fiz uma campanha na internet e uma pessoa disse que tinha visto ele na cidade onde você mora. Fiquei desesperado e fui atrás. Mas não o encontrei. - Responde Lorenzo, cabisbaixo.

- Nossa. Você é forte hein, cara! Meus pais são tudo pra mim. Não consigo me imaginar sem eles. Eles são o meu chão. - Finaliza Caian.

- Pois é. Mas não se preocupe. Nossa agência está em ascensão. Meus irmãos estão contratando novos fotógrafos. Estamos em busca de modelos. Já comprei novas câmeras. Enfim, vamos reerguer a Kannenberg. - Lorenzo demonstra esperança. - E, você Caian, será essencial para isso.

- Mais uma vez, obrigado meu parceiro! Eu até estava um pouco inseguro minutos atrás. Mas me animei depois dessas suas palavras. - Conclui Caian, contente.

- Sua vida mudará rapaz. Acredite. - Termina Lorenzo, sorrindo maliciosamente e olhando com um olhar estranho para Caian.

- Ah, e por que você é fotógrafo e não modelo? Por que quis seguir essa profissão, sendo de uma família tão importante e tendo muito dinheiro?

- É tudo uma questão de identificação. Eu nunca me senti bem em fotos. Mas eu amo muito fotografar. Tenho talento para isso. E gosto demais. Parece que eu nasci para ser fotógrafo. - Responde Lorenzo, rindo.

- Entendi. - Retruca Caian, surpreso.

Em seguida, depois de conversarem a cerca da agência, dos principais problemas que Caian tem enfrentado e de todos os sonhos que o jovem tem e tirarem várias selfies, eles cochilam em um curto intervalo de tempo. 18h07. Estão pousando no aeroporto de São Paulo. Acordam. Desembarcam.