Represália

Check in

Depois de ter confirmado a decisão de ir ao estado de São Paulo com Lorenzo, Caian faz uma ligação para Otoniel afirmando que passará apenas dois dias longe e, no terceiro, voltará para Villa Áurea. No entanto, ele disse que iria em uma cidade ali perto - não era São Paulo. Ele pede para que Otoniel não comente tal saída com Maria Clara, até porque ela, talvez, não autorizaria. O pai achou tudo muito estranho, no entanto, sabia que, de alguma forma, seu filho receberia dinheiro para ajudar a pagar o aluguel atrasado. Todavia, permitiu a saída do filho.

00h45. Caian está muito ansioso pelo dia seguinte. Não consegue dormir. Nessa ideia de aceitar a proposta de Lorenzo, ele encontrou um pouco de alegria diante de tudo o que tem passado nos últimos tempos. Deitado em sua cama, olhando para o teto e com o antebraço por cima da testa, ele pensa: "Talvez a partir de amanhã meus problemas financeiros acabarão...", "será que um dia vou andar pelas passarelas de Milão, representando grifes famosas?! Ou posso aparecer em um comercial na televisão, anunciando algum produto?!" "Tudo isso depende muito de mim..." Ele sorri. Aquele sorriso cheio de alegria e empolgação. Ao mesmo tempo, ele quer dormir o mais rápido possível, desejando a chegada do amanhã. Liga o celular. Coloca uma música longa e calma. Uma que ouviu em um filme de drama e suspense certo dia. Ela traz boas lembranças a ele. Passam-se alguns minutos. Caian está adormecendo. E dorme.

Caian sonha: ele é um menino. Um menino que aparenta ter 5 anos de idade. No sonho, ele vê Maria Clara chamando-o de longe, em uma longa rua, para ele ir pegar com ela uma caixa de bombom. Ele está sedento por doces. Corre alegre em busca de sua mãe e, logo, da caixa de bombons. Entretanto, quando se aproxima de onde ela se encontra, Clara simplesmente desaparece. Está de noite. O local é escuro. Só há a luz de um poste de energia. Mas é como se tivesse tido um blackout. A rua é deserta. Caian está sozinho. Ele procura por Clara, mas não a encontra. Olhando no chão, vê a tão desejada caixa de bombons. Ao pegar, com um pouco de medo, a abre. Não acredita no que vê: chocolates que parecem ser muito saborosos. Caian come um deles, aliás, está com muita fome. Em seguida, ele devora todos os outros restantes. Joga a caixa na rua. E volta pelo mesmo caminho que chegou até aquele lugar esquisito. Voltando, ele começa a sentir um mal estar. Uma dor aguda surge do seu estômago para o resto do corpo. Falta de ar. Suor frio. Ele se desespera com tal situação. Caian tenta gritar, mas não consegue. Quer pedir socorro. Sem êxito. Cai no chão. Ele está morrendo. Falece.

Caian finalmente acorda. Está assustado. Coração acelerado. Ele olha para os lados do quarto e ao seu redor. Rapidamente liga para Otoniel: quer saber sobre o estado de Maria Clara. Ela se encontra bem. Não aconteceu nada grave. Está até se alimentando mais. Mas ele fica pensativo. O sonho que teve martela em sua mente. Para Caian, aquilo tem algum significado. Ora bom. Ora ruim. Mas ele morria. Então, talvez não seja algo agradável. Entretanto, lembra que o dia será decisivo para sua vida. Levanta-se da cama, sem camisa. Direciona-se ao banheiro. Lava o rosto. Olha no espelho pregado na parede daquele pequeno compartimento. Admira seu rosto. Olha nos olhos do próprio reflexo e diz:

- Talvez a partir de hoje a sua vida mude, rapaz. Você vai ganhar o mundo! - Ele sorri. - Acredite em você mesmo. Você é capaz! - Afirma o aspirante a modelo, esperançoso.

Em seguida, Caian começa a cantarolar, ao mesmo tempo em que vai para seu quarto arrumá-lo e dobrar roupas. Está empolgado com o novo dia. Quer que a tarde chegue logo para, finalmente, ir ao destino extremamente desejado.

14h17. Ele já está pronto para sair de casa. Nem almoçou. Aliás, não há mais comida. E o único dinheiro restante usará para chegar até o aeroporto, pagando a passagem do ônibus. Sua mochila já está com roupas, toalhas e escova de dente. Ele reservou, inclusive, uma camisa social vermelha que sua mãe havia comprado - já que fará algumas fotos. Está contente. Esqueceu um pouco que sua mãe pode morrer mais cedo ou mais tarde. Ele quer ter esperanças de, no mínimo, dar algo melhor para ela e para o pai em um futuro próximo.

Caian chega ao aeroporto de Curitiba. Puxa o celular do bolso e liga para Lorenzo. Olha para todos os lados, procurando-o. De longe ele avista o jovem tomando sorvete e mexendo no celular em um estabelecimento dentro do próprio aeroporto. Logo, ele guarda seu telefone e vai em direção ao recém-amigo:

- Ei...

- Ah! E aí, Caian. Muito bom te ver! - Diz Lorenzo, contente.

- Como você tá, cara?! Acho que cheguei um pouco em cima da hora... Mas cheguei. - Pergunta Caian, sorrindo.

- Estou bem. Melhor agora que você chegou. - Lorenzo ri. - Bom, olha, essa é a sua passagem, é de ida e volta, falta alguns minutos para fazermos o check-in... Você está com sua identidade?! - Pergunta ele, tirando da mochila um papel com o código do embarque.

- Sim, com certeza. Não se preocupa.

- Perfeito amigo! Alguma novidade? E aí, o que você disse pros seus pais? - Pergunta Lorenzo, curioso.

- Falei que iria a uma cidade que fica a 10 quilômetros longe de casa. Eu preferi não dizer a verdade porque acho que a mamãe não iria gostar que eu viesse. São apenas três dias também. Então achei melhor mentir. - Responde Caian, sem jeito.

- Tudo bem! Não se preocupe! Faremos um book. Depois você faz um cadastro na nossa agência e assina um contrato. Daí eu te pago e você aguarda minha ligação. Tenho certeza que aparecerão trabalhos para você! Acredito poder te ver nas passarelas internacionais ou estampando revistas aqui no Brasil.

- Obrigado pelas palavras, Lorenzo. Vou torcer muito pra que isso aconteça. Estou muito empolgado e ansioso desde ontem. Espero que dê tudo certo.

- Com certeza vai dar sim! Olha, deu a hora de fazer nosso check-in, vamos. Estaremos em São Paulo às 18h15. - Conclui Lorenzo, ao olhar o painel de viagens e verificar o horário.

Os dois enfrentam uma pequena fila. Em seguida, se dirigem ao portão de embarque. Entram no avião.