— Então... O quê aconteceu? — Vicente pergunta, dando um gole pequeno na cerveja.

Envolvo a garrafa com meus dedos e aperto, sem concentrar toda a minha força.

— O Fred agrediu a Annie.

— O quê? — Vicente arregala os olhos.

Solto uma lufada de ar e me ajeito na banqueta alta. Contraio o maxilar só de imaginar a cena na minha cabeça.

— Ela estava em um relacionamento abusivo. O Fred a agrediu quando descobriu que ela está grávida.

Os olhos dele arregalam ainda mais por detrás da armação preta do óculos.

— Ele bateu na própria mulher grávida?

Confirmo com a cabeça. Dou um gole grande na cerveja antes de contar a novidade.

— O filho é meu.

Vicente está bebericando a cerveja quando eu conto. Ele engasga e começa a tossir. Quando se recupera, me olha espantado.

— Mas que porra de detalhe eu perdi?

Solto uma risada, balançando a cabeça para os lados.

— Nenhum. — Dou de ombros. — Eu te contei sobre Minas. Te contei que transei com ela, de novo.

Meu amigo coloca a garrafa em cima do balcão e esquadrinha o meu rosto. 

 —  Quer dizer que a Annie está grávida? De outro filho seu? — Eu confirmo com um aceno. — E a criança tem o quê... 5 meses? 

Ergo a garrafa em frente aos nossos rostos, como quem propõe um brinde. 

 —  Bingo!

Ele solta uma risada incrédula e cruza os braços. 

— Cara, que loucura. A história de vocês parece até uma novela doida. —  Vicente segura a garrafa no ar. — Um brinde ao mais novo Carter. 

Abro um sorriso. O tintilar das garrafas batendo uma contra a outra chama a atenção dos poucos clientes presentes no bar. Eu bebo um gole. 

— É um menino — conto, com um sorrisão bobo no rosto. 

— Meus parabéns, cara! — Vicente pousa uma mão em meu ombro. —  Agora são dois.

A hora seguiu assim, na companhia do meu melhor amigo, acompanhados de cervejas e de uma conversa boa. Vicente é bom em me escutar, ele tem sempre um conselho e palavras amigas quando eu preciso. Nós nos conhecemos na Empresa Mansur, no meu primeiro dia de trabalho. Era um dos únicos que eu confiava naquele lugar. Ele só soube do meu envolvimento com a Sarah quando me encontrou depois do expediente, no meu escritório, discutindo com ela ao telefone. Eu precisava conversar com alguém naquele dia, e Annie já tinha sumido do mapa sem deixar rastros. Vicente foi o responsável por encontrá-la na primeira vez, e foi quem me encorajou a ir atrás dela de novo. 

Meu celular toca quando estou dando o último gole na segunda garrafa. Franzo a testa ao tirar o celular do bolso e observar o número desconhecido na tela. 

—  Alô?! 

—  Théo? Você pode me encontrar? 

Reconheço a voz de Annie. Pelo tom, ela parece nervosa. Dou um pulo da banqueta, segurando o telefone firme contra a minha orelha. 

— Claro, onde você está? O quê aconteceu?

Vicente me olha preocupado.

— Eu... eu estou na faculdade, to ligando do telefone público e... Théo — Ela solta um suspiro pesado. —, eu preciso que você venha. 

Inalcançável - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora