Ela amolece em meus braços, os joelhos fraquejam e ela apaga.

- Difícil domar a fera, hein? - Anthony ri, descartando a seringa. - Vamos rápido com isso, daqui a pouco ela acorda.

Coloco Annie deitada na maca, desacordada. Anthony prepara o material necessário enquanto eu saio da sala. Não quero ver. Só quero que dê certo.

A escuridão parece me engolir quando abro os meus olhos. Minha testa está molhada pelo suor, e eu estou assustado.

Porra, que pesadelo horrível.

Esfrego o meu rosto, solto todo o ar acumulado em meus pulmões. Preciso de água.

Levanto do colchão. Estou dormindo no quarto vazio do apartamento. O futuro quarto do meu filho. Annie disse que eu poderia colocar o colchão no meu quarto, mas eu acho melhor deixá-la à vontade.

As imagens do sonho não saem da minha mente. O pavor no rosto de Annie, a minha frieza em levá-la até a clínica... Isso vai me assombrar pelo resto da minha vida. É o meu maior arrependimento, e eu não me perdoei por ter sido tão babaca.

Viro no corredor, a porta do quarto de Mía está entreaberta. Eu me aproximo. Coloco a cabeça para dentro do quarto, tento não fazer nenhum barulho. Minha filha está dormindo tranquila na cama nova, respiro fundo. O quarto ainda não está mobiliado do jeito que ela merece, mas é o cantinho dela. Observo durante alguns segundos a pequena dormindo. Como eu tive coragem de pedir para Annie fazer um aborto? Como eu pude abrir mão da pessoa que eu mais amo no mundo? Como eu pude achar que Mía era um erro? Ela é o meu maior acerto.

Encosto a porta com cuidado, continuo seguindo pelo corredor. Minha boca está seca, eu preciso muito de um copo com água bem gelada.

Tenho a impressão de que o meu coração sobe pela garganta quando acho o interruptor na parede da cozinha e acendo a luz. Levo um susto ao ver a imagem da Annie aparecer diante dos meus olhos. Ela tem um sobressalto e solta um grito, mas coloca a mão na boca logo em seguida.

- Mas que porra... - digo, ofegante, colocando a mão sobre o meu peito.

- Ai que susto, Théo.

- Que susto digo eu, tá fazendo o quê aqui no escuro? - pergunto, recobrando a minha postura.

Annie balança as pernas para frente e para trás, ela está sentada no mármore preto, em cima da ilha central da cozinha.

- Eu fiquei com fome e vim comer. - Ela dá de ombros. - Quer?

Ao seu lado têm um pacote de pão, queijo, presunto, frutas e uma vasilha com brigadeiro.

- Você tá comendo tudo isso?

- Você não sabe o quê é carregar uma criança na sua barriga. - Ela aponta para mim, me julgando pela pergunta.

- Ainda bem que não. - Dou risada e me junto à ela. - Eu só vim beber água.

Pego a jarra de água na geladeira e despejo em um copo. O líquido desce gelando minha garganta, solto um ruído de alívio ao esvaziar o copo.

- Só isso? Tem certeza que não quer comer? - ela pergunta. - Tá muito bom.

Recosto no mármore da pia, cruzo os braços e sorrio, dando risada ao observá-la se lambuzando com o sanduíche.

- Eu to percebendo.

Annie faz uma careta e morde um pedaço grande.

- Deixa eu fazer um pra você - ela diz, deixando o sanduíche de lado para preparar o meu. - Você caiu da cama?

Inalcançável - Livro 2Место, где живут истории. Откройте их для себя