.27 | Parte 2.

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| T O M Á S |

O meu coração parou por breves segundos. Eu não queria acreditar no que os meus olhos viam. Aquilo era mentira. Uma mentira fodida capaz de acabar com o meu emocional.

Os cachos cor-de-mel da Joana estavam espalhados sobre o colo da Paloma, cujo lhos afagava, enquanto chorava e chamava pela irmã. Os meus olhos pararam numa poça de sangue, formada junto ao seu corpo inanimado.

Corri para junto delas, sentindo um tremor percorrer desde as minhas pernas até ao topo da minha cabeça.

- Joana! – Gritei, tendo a breve ilusão de que ela me responderia. – Joana, meu amor, acorda! – implorei, sentindo as lágrimas escorrerem pela minha face. Era impossível conter os soluços na minha voz – Não me podes deixar!

O seu rosto estava extremamente pálido, enquanto as suas mãos começavam a arrefecer.

- Meu amor – sussurrei. – Vai correr tudo bem, vais ficar boa, vais acordar!

Alguém me puxou para longe da Joana, enquanto uma equipa de enfermeiro começava a tratar dela, pondo-a numa maca e levando-a para uma ambulância. Eu fui com ela, sem discussões. A minha mão não largou a sua por um segundo, sentindo que aquele interlaçar de dedos a poderia manter comigo.

Nunca fui um homem religioso. Acho que se existisse algum Deus, ele não deixaria que me acontecesse o que aconteceu: tirando-me o meu pai, fazendo-me viver o que vivi, todas as perdas que sofri, ele não deixaria que isso tivesse acontecido com uma criança. Então, sempre achei uma estupidez rezar para um Deus que ninguém, se quer, tinha visto.

Enquanto estive na prisão, havia muita gente que rezava. Eu sabia que não nos levaria a lado nenhum, pois continuaríamos ali, naquele lixo de lugar.

Um dia perguntei a um deles porque rezava.

- Não rezo por mim – ele disse. – Deus sabe que não mereço a sua atenção. Mas rezo pela minha família. Eles, que nada têm a ver com os meus erros e que, eventualmente, sofrerão com eles.

É em momentos de extrema agonia e medo que as pessoas têm mais necessidade de se agarrarem a algo. Então, naquele momento, vi-me a rezar. Não por mim, mas pela Joana. Não rezava propriamente a um Deus Católico, mas se existisse alguma identidade divina, acima de nós, eu estava a rezar-lhe e a implorar-lhe para que a salvasse.

***

Fui obrigado a esperar na sala de espera, assim como toda a gente, enquanto a Joana estava no bloco operatório.

Vi o desespero da mãe da Joana, que se agarrava à Paloma como se ela fosse uma boia salva-vidas. Vi o medo nos olhos pequenos da Paloma, que encontrava no Diogo o seu apoio, apoiando a cabeça no seu ombro, enquanto chova baixinho. Por sua vez, o Diogo tinha um olhar repleto de culpa. O pai da Joana mantinha a postura de sempre: olhar cabisbaixo, enquanto observava os dedos entrelaçados e pousados no seu colo – poderia afirmar, sem qualquer dúvida, que pensava em algo.

Eu não conseguia ficar um segundo sentado, inquieto pela incerteza. Era demais para mim. O sufoco no meu peito, o medo nas minhas veias, tudo numa mistura demasiado pesada sobre os meus ombros.

Eu não poderia perdê-la, de jeito nenhum! Seria o meu fim, se isso acontecesse.

Pareceu-me uma eternidade, até que um médico viesse até nós. As suas notícias foram gratificantes, dizendo que tudo estava bem com a Joana e os bebés. Quase desmaiei, tamanha a minha felicidade.

No momento, ela estaria sedada, recuperando da operação e teríamos de esperar para que acordasse. As visitas seriam liberadas a partir desse momento, pelo que fomos obrigados a esperar novamente. Ninguém arredou pé – estava toda a gente demasiado preocupada e queria ver com os próprios olhos se ela estava mesmo bem.

Quando enfim a Joana acordou, quase corri até ao seu quarto. Parei por breves segundos à porta, inspirando profundamente, até ter coragem de bater suavemente.

- Tomás! – ela sorriu debilmente, quando pus a cabeça dentro do quarto.

A sua pele continuava extremamente pálida. Os seus lábios estavam ressequidos, ostentando grandes olheiras.

- Nem sabes o susto que me deste.

Prostrei-me ao lado da cama, agarrando-lhe uma das mãos e juntando as nossas testas. Acariciei-lhe suavemente a bochecha, enquanto as lágrimas lhe escorriam dos olhos.

- Eu imagino... - ela sussurrou como resposta. Os seus olhos fechados, ao mesmo tempo que a sua cabeça assentia suavemente. – Eu tive tanto medo! Eu não queria morrer, mas ela ia disparar contra a Paloma, ela ia...

Um soluço escapou-lhe da garganta.

- Shii... isso não importa agora. O que importa é que estás bem. Está toda a gente bem.

Sentei-me numa cadeira, ao lado da cama, continuando com a minha mão agarrada na dela, temendo quebrar aquele pequeno vínculo que nos unia.

- Desculpa! Eu não queria que nada disto acontecesse! Desculpa-me por tudo, Tomás!

O choro da Joana era tão sofrido e sincero, que eu senti a minha alma quebrar-se em mil pedaços. Eu não queria que ela sofresse daquele jeito.

- Isso não importa agora – eu respondi-lhe, afastando-lhe os cabelos da testa e fazendo-lhe um carinho.

- Importa sim. Eu queria que me perdoasses, por tudo o que eu fiz. Mas também sei que estou a pedir de mais.

A sua mão tocou a minha bochecha, com um certo custo. Lembrei-me da primeira vez que ela o fizera, quase como agora, e um sorrisinho surgiu nos meus lábios.

Aquele toque sempre me atingia da mesma maneira: aquecia-me por dentro, quebrava as minhas barreiras e fazia-me amá-la ainda mais – se algo assim fosse possível.

- Eu perdoo-te, se tu me perdoares.

- Tu estás perdoado, Tomás – ela disse, ainda que soltando um soluço. – Eu perdoo-te!

- Então, também te perdoo Joana. E espero que daqui para a frente possamos fazer as coisas de outra maneira.

Ela assentiu, levando a mão à barriga, onde a estacionou, esboçando um sorriso.

Sorri também, juntando a minha mão à sua. Ali estava a nossa prole, feita com amor, do mais puro que há. E saber daquilo deixava-me extremamente feliz.   

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Ahhhhh, estou tão feliz com estes dois!! 

ELES PERDOARAM-SEEEEE!!!

Mas como devem perceber, feridas abertas não saram com um simples curativo.

A história deles vai continuar, com algumas coisas ainda por acontecer. 

Não quero que acabe simplesmente assim, eles ainda vão ter que ultrapassar por uns contra-tempos, que trarão grandes revira-voltas e serão necessários para o amadurecimento de ambos e do seu relacionamento.

Beeeeeem... COMENTE!! É mesmo muito importante eu saber o que estão a achar!

E VOTEM - não esqueçam de fazer brilhar a estrelinha maravilhosa!

Beijos, até à próxima! 

Amo vocês!!  💞❤ 

[Concluída] Acasos da vidaWhere stories live. Discover now