.9.

3.7K 306 34
                                    


| T O M Á S |

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

| T O M Á S |

Mostrar estabilidade.

Aquela pequena frase de duas palavras entoou na minha mente, como se algo estivesse errado. Mostrar estabilidade...

- Basta mostrar estabilidade – o advogado continuou a fala. – Repara, tu tens tudo: dinheiro, condições... e o juiz quer que demonstres estabilidade necessária para criares duas crianças.

Parecia uma coisa simples, quando não eras constantemente julgado por ações do passado, por atos mal contados.

- Como acha que devo demonstrar estabilidade? – inquiri rodando na minha cadeira do escritório.

- Tens de te manter quietinho durante um tempo. Relacionamentos, geralmente, são sinónimos de estabilidade, significam que tens um plano definido, casamento mais tarde...

Soltei uma gargalhada demasiado alta e falsamente divertida.

- O Doutor está a dizer que tenho de me casar para ter a guarda dos meus irmãos? – perguntei encarando o Doutor Carlos Luís fixamente.

- Não necessariamente. O senhor Queirós só tem de demonstrar ao juiz que não trará instabilidades à vida das crianças. Sem mudança constante de companheira, sem aparições nos jornais por andar a agredir clientes da sua discoteca, coisas desse tipo. Está a entender, senhor Queirós?

- Perfeitamente – assenti com a cabeça, inspirando profundamente. – E já sabe onde a... - suprimi um "vadia" - ... a mulher foi com os meus irmãos, local ao certo?

- Ainda não.

- Foda-se! – esmurrei a mesa, levantando-me bruscamente da cadeira e virando-me de costas para a secretária.

Tentei controlar a minha fúria. Pus as mãos nos bolsos das calças e olhei pela janela.

- Eu preciso de saber onde ela está. Preciso de saber se os meus irmãos estão bem.

- Sei disso, senhor Queirós. Vou fazer de tudo para que ela volte o mais rápido possível. – Assenti, voltando a olhar para o advogado, que se levantou e apertou a minha mão. – Até uma próxima.

Apertei-lhe a mão e vi-o sair do meu escritório. Sentei-me pesadamente no estofado da cadeira e os meus olhos encheram-se de lágrimas de cólera. Era demasiado enervante saber que a desgraçada estava com os meus irmãos num lugar qualquer, sem eu poder falar com eles, saber se estava tudo bem, ouvi-los discutir, nem que fosse através da linha telefónica.

- Tomás – o Miguel chamou o meu nome, cauteloso. – Sei que o assunto é sério, mas por agora não podes fazer mais do que o que estás a fazer...

- O advogado disse que tinha de demonstrar estabilidade... com um relacionamento, talvez.

Olhei para a cara do meu amigo, dando de caras com um filho da puta sorridente.

[Concluída] Acasos da vidaWhere stories live. Discover now