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"Here stands a man

At the bottom of a hole he's made"

| J O A N A |

O tempo não para.

Por muito que eu quisesse que o tempo congelasse, para conseguir pensar com clareza em tudo, ele não parava. Ele continuava a passar, fazendo-me continuara naquela mentira, sem saber muito bem como sair dela.

Eu simplesmente não podia atirar tudo para o ventilador, mesmo que essa fosse a minha vontade e a vontade de todos. Não conseguiria suportar a reação da minha mãe, o desapontamento dela.

Eu iria contar-lhe a verdade, juntamente com a Paloma, o Diogo e o Tomás. Explicar-lhe-íamos tudo, juntos. Porque eu não conseguiria fazer aquilo sozinha, eu sabia perfeitamente que precisaria da minha irmã ao meu lado, pelo menos.

Mas antes da conversa que eu teria com a minha progenitora, eu precisava de estar com o Tomás. Precisava de falar com ele. Falar de verdade, sem palavras de ataque e defesa. Precisava de o olhar nos olhos e lhe expor a minha alma, lhe dizer o quanto sentira a sua falta. O quanto desejei que nada daquilo tivesse acontecido, o quanto quis que fosse ele ao meu lado, no consultório a ouvir, pela primeira vez, o coração dos nossos filhos.

Entrei no carro e antes de tentar saber onde o Tomás estava, passei por casa do Diogo, para lhe dar uma chave da minha casa. Eu sabia que as coisas entre ele e a Paloma estavam más por minha causa. Por isso, achei que ele lhe poderia explicar tudo.

- Obrigada, Joana – ele disse, genuinamente agradecido.

Voltei para o meu carro, enquanto ligava ao Tomás. Ele não me atendeu na primeira tentativa e nem na segunda e nem na terceira. Aquilo poderia ser uma indireta, mas eu estava longe de desistir de falar com ele.

"Preciso de falar contigo. Preciso de estar contigo. Diz-me onde estás, por favor!".

Esperei que ele me respondesse, mas nada de ele o fazer. Os meus olhos começaram a encher-se de lágrimas, enquanto o meu peito era preenchido pela angústia que a ausência de respostas vindas do Tomás me causava.

Decidi que o melhor era esperar. E com certeza eu não faria isso na berma da estrada. Por isso, dei a volta e conduzi em direção à casa da Iara Vanessa.

Fiquei deveras admirada quando, a meio do caminho, um carro se atravessou à minha frente. Travei a fundo, sentindo o meu coração quase furar o meu peito, e por pouco não bati no outro carro. O meu tronco foi impulsionado para a frente e se não fosse o cinto de segurança, teria batido com a minha cabeça no volante.

Pisquei, tentando raciocinar o que acontecer há breves segundos. No carro alheio, não notei qualquer movimento e temendo que tivesse acontecido alguma coisa ao condutor, desapertei o meu conto e saí do meu veículo.

Quando pousei os meus pés no asfalto e fechei a porta atrás de mim, uma mulher saiu do carro na qual quase bati. Ela era loira e extremamente magra. As suas feições não eram amigáveis, pareciam que continham uma raiva a mim dirigida e ela caminhava na minha direção a passos largos e furiosos.

Sem que eu pudesse ter alguma reação, ela alcançou-me, depositando algo na minha boca. Por mais que eu me debatesse, ela conseguiu imobilizar-me até que caí desmaiada nos seus braços.

***

Os meus olhos custaram a abrir.

O meu corpo estava deitado num chão duro e cimentado. O local onde estava, não era muito iluminado e ao inspirar, eu podia sentir o pó entrar pelas minhas narinas.

[Concluída] Acasos da vidaWhere stories live. Discover now