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| J O A N A |

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| J O A N A |

Sentia-me imobilizada. O meu corpo estava demasiado entorpecido e pesado para corresponder aos meus comandos.

Inspirei o ar profundamente, sentindo o cheiro profundo a desinfetante. Os meus ouvidos captavam um bip constante. E a minha cabeça doía terrivelmente.

Abri os olhos lentamente, habituando-me à claridade. O local, como calculava, era quase todo branco. Fui captando coisas lentamente: um quarto de hospital, uma máquina de estados vitais, uma agulha espetada no meu braço, uma cadeira, o Tomás lá sentado a olhar-me atentamente...

Apenas os seus olhos se mexiam, enquanto a suas feições permaneciam impercetíveis. Lábios cerrados, pernas ligeiramente abertas e braços pousados nas laterais da cadeira.

Os segundos que ele ficou simplesmente a olhar-me, pareceram horas intermináveis. As suas órbitas tempestuosas queimavam a minha pele de uma forma dolorosa. O meu interior estava um emaranhado de sentimentos, tão difusos e misturados, que era completamente impossível distinguir um.

O Tomás finalmente se moveu. Desencostou as costas da cadeira e pousou os antebraços nas pernas. Olhou um tempo para o chão, enquanto esfregava os dedos uns nos outros. Quando levantou a cabeça para me voltar a olhar, foi como ser atingida por uma bala, diretamente no meu peito.

- Já sabias? – De tantas perguntas, afirmações para dizer, a primeira coisa que ele proferiu foi aquela interrogação, deixando-me completamente confusa. – Há quanto tempo já sabias?

Com custo, consegui sentar-me na cama, apoiando as minhas costas no encosto da mesma. O Tomás nem fez questão de se mexer, para me ajudar. Onde está o meu Tommy? Que se passou?

- Já sabia de quê?

Ele deu uma risada amarga, levantando-se da cadeira, furioso. Não entendi a sua reação. A minha cabeça exigia respostas, a minha garganta ansiava por implorar por elas, ordenando para que o Tomás se deixasse de meias palavras.

- És mais irresponsável do que eu pensava! Já sabias e ainda assim fizeste aquela cena toda, pondo em risco a vida do teu bebé!

O meu coração parou por segundos. O ar tornou-se demasiado pesado, impossibilitando que eu o respirasse, tão pesado que não passava na minha garganta.

- Que bebé? – o Tomás nada disse, continuando a olhar-me cheio de fúria. – Que bebé, porra? – gritei, começando a sentir-me verdadeiramente nervosa com aquela conversa. – Que merda de piada é essa, Tomás?

Ele abanou negativamente a cabeça. Parecia... enojado.

Aquilo não podia ser verdade. Eu não podia estar grávida, não agora.

- É meu, ao menos? – ele voltou a perguntar.

- Isso é mentira! Eu não posso estar grávida! Eu não posso, Tomás! – A aflição era tanta que os meus olhos encheram-se de água, derramando-a em forma de lágrimas. – Eu não posso!

[Concluída] Acasos da vidaWhere stories live. Discover now