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| J O A N A |

Vocês não entendem. Não, não há como! Mas cada um é como qual e no meio de tanta diversidade, existem pessoas com mais defeitos que outras.

Eu sou uma dessas pessoas: cheia de defeitos.

Eu e a Paloma somos diferentes. Enquanto que ela não se preocupa com os que os outros pensam, eu não consigo simplesmente ligar o foda-se. Não, não dá.

Ainda mais sendo a irmã mais velha, em que me incutiram a obrigação de ser a mais ajuizada.

Acho que desde cedo, bem antes de Paloma começar a andar, já dava para perceber que ela ia dar trabalho. Uma palretas que não deixava ninguém dormir durante a noite, era bem visível que ninguém a domaria com palavrinhas mansas ou chantagens baratas. A minha mãe sempre fez questão de o dizer.

Enquanto a mim, apenas dois anos mais velha, tinha a obrigação de por moderação à minha irmãzinha. Não resultava, mas eu era vista como a moderada.

Sempre calada, educada, não levantava a voz mais que o necessário, acatava as várias ordens que me eram dadas sem refilar, isto desde pequena. Cheguei a um ponto, que nem que quisesse, conseguiria mudar a minha forma de ser.

Eu não queria ser assim. Ser a perfeitinha era uma merda! Porque bastava um pequeno deslize, por mais ínfimo que fosse, que logo era o meu fim.

Já da Paloma, eram esperadas todas as coisas "más".

Não sei se me estou a fazer entender. Mas cheguei a um ponto que tinha medo de mudar, porque se mudasse a minha mãe passaria a olhar-me de uma outra forma.

Talvez fosse comodismo. Acomodei-me a ser assim, e assim permaneci.

Até ir para a Universidade...

Vi aquela mudança como uma forma de finalmente me libertar das amarras impostas pelo rótulo de perfeita.

Sim, no início foi difícil de mudar, mas aos poucos tornei-me uma pessoa... normal! Saia à noite, bebia, fazia sexo... coisas da vida. Claro que não deixei de ser a pessoa responsável e educada, apenas me tornei mais atrevida.

Assim fiz o primeiro ano do curso de Bioengenharia, como uma universitária normal. Mas as coisas mudaram no segundo ano. Não foi com nenhuma mudança de apartamento, ou com um vizinho gostoso, ou com um professor novo! Não, não ocorreu nenhuma mudança. As coisas simplesmente mudaram por elas mesmo. 

***

Era sexta-feira e as aulas tinham acabado de começar.

Aquilo era sinónimo de uma saída noturna. E daquela vez decidiram ir à discoteca ou pub (nunca entendi bem a diferença entre essa palavras) que estava a ser falada no momento. Tinha sido inaugurada há pouco tempo e as pessoas que já lá tinham ido diziam que era muito top.

Resumindo, paguei os olhos da cara para entrar, porque acabei por ficar curiosa em relação ao novo espaço. Duvidava que a nova discoteca (ou pub) fosse assim tão espetacular como diziam. Quer dizer, no geral as coisas nunca variavam muito.

Atá poderia mencionar as diferenças, mas não é para isso que aqui estamos.

Entrei, bebi, dancei, voltei a beber e bebi ainda mais um pouco. No geral, bebi e tentei dançar. Sim, irresponsável, é verdade! Mas devo salientar que a minha garrafinha de água estava sempre comigo e cheguei a beber umas três!

Portanto, a dúvida se fiquei simplesmente bêbeda ou a minha bebida tinha sido "batizada" ainda persiste até hoje. A verdade, é que com tanto líquido no meu organismo e movimento, a vontade de mijar foi imensa.

Claro, entrei na casa-de-banho e não voltei a sair de lá. Não sei o que aconteceu e penso que nunca vou descobrir.

Quando senti alguém bater na minha face, balbuciei algo e entreabri os olhos, dando de caras com um sujeito desconhecido. O seu cabelo era encaracolado e eu teria ficado horas a admirar aquela cabeleira linda se os meus olhos simplesmente não se tivessem fechado novamente.

A minha consciência voltou a entregar-se ao mundo dos sonhos, até sentir o meu corpo em movimento. Voltei a entreabrir os olhos e quase gargalhei do meu estado lastimável: daquela vez, quem vi foi alguém totalmente diferente, com a pele negra e brilhante.

Sentia a minha consciência ir e vir, sempre que um movimento brusco era feito. Balbuciava algo demasiado incompreensível, até para mim, e a minha consciência voltava a ir embora.

- Hei! – alguém me dava chapadinhas na cara. – Hei, acorda!

Dei um remusgo demasiado infantil.

- Bebe água! – a voz masculina voltou a falar, encostando uma garrafa aos meus lábios.

Abri os olhos, fazendo um esforço descomunal, e voltei a ver aquela pele escura. Se lhe olhasse diretamente para os olhos, veria duas esferas azuladas. Um sonho, deduzi.

Dei uma risadinha, enquanto engolia um golo de água. Senti os meus olhos cansados, querendo se fechar. Tentei tocar-lhe no rosto, para ter a certeza de que era real, mas ele desviou-se ligeiramente, impossibilitando que os meus movimentos grogues o acompanhassem.

- Bebe! – ordenou aproximando ainda mais a garrafa dos meus lábios. Ele não deixou que eu pegasse nela, fazendo-me soltar outro remusgo.

Olhei um pouco em volta e apenas fixei que estava num sofá, no que parecia um escritório.

Aninhei-me um pouco mais e senti o meu corpo entregar-se para o sono.

- Não, não durmas! – ele ordenou, fazendo-me querer realmente lutar contra o sono.

Abri o máximo os olhos que consegui e sorri-lhe. Porquê? Nunca o saberei também.

Estiquei novamente o braço, para lhe tocar o rosto, e daquela vez, ele deixou.

A sua pele era quente. A sua barba fazia cócegas contra os meus dedos. Os seus lábios transportavam uma expressão séria.

O meu braço descaiu e eu finalmente deixei que a minha consciência navegasse pelo mundo dos sonhos.    

*****

Hello!

Como se sentem? 

Temos aqui mais um capitulinho da Joana!

Espero que a entendam melhor com esta história. Temos visto as coisas apenas pelo ponto-de-vista da Paloma, e o que ela acha não quer dizer que seja a verdade. Existem sempre dois lados da moeda. 

Sim, é verdade, eu gosto da Joana! 

Gosto dela porque ela não é perfeita e toma decisões erradas, como qualquer pessoa. 

Se gostaram cliquem na estrelinha!

E comentem o que estão a achar!

Beijinhos, amo muito vocês! ❤❤ 

[Concluída] Acasos da vidaWhere stories live. Discover now