Capítulo 36 Apenas mais um

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O resto da tarde seguiu normal, Natan continuou dedicado no serviço.

No término do dia, todos os pedreiros foram embora, Afonso pediu para o celeste ir até José, pois o velho queria lhe falar.

-O Sr. quer falar comigo?- Falou Natan encarando o homem.

-Sim rapaz... Eu gostei do seu serviço e queria que você trabalhasse comigo esses dias até terminar essa obra. Falou José trocando de camiseta para ir embora.

-Trabalho sim. Senhor eu sei que o mal me conhece, mas preciso lhe pedir algo.

-Desembucha rapaz, o que é que posso fazer por você? - Perguntou José colocando a mochila nas costas.

-Eu gostaria que o senhor pagasse o meu dia de hoje para eu comprar alguma coisa para comer e se não tiver problema, gostaria de dormir por aqui na obra em qualquer lugar, pois não tenho para onde ir.- Falou o Arcanjo.

José tirou a mochila das costas, pegou duas cadeiras, sentou em uma e mandou Natan sentar na outra. O celeste fez o que o velho pediu.

Os dois sentados na cadeira, José puxou do bolso um maço de cigarro e um isqueiro.

-Garoto, eu preciso saber quem é você? Da onde vem? Quero saber a sua história.- Falou o homem acendendo o cigarro.

-Senhor, vou ser realista, Fazem dois dias que saí da prisão, minha mãe é falecida e essas coisas que carrego comigo, eu ganhei de um Padre. Não tenho nada e nem ninguém nesse mundo. Quero trabalhar e viver até onde Deus pai permitir. - Falou Natan com um olhar de frustração.

As palavras do Arcanjo comoveu o velho que acreditava que tinha visto de tudo nessa vida. Ele se levantou da cadeira e terminou seu cigarro. Pensava o que iria fazer com o rapaz ao seu lado. Natan aguardava a resposta e também não falou mais nada.

-Aqui não tem lugar para dormir. Vou levá-lo para minha minha casa hoje, Teresa, minha amada esposa fará uma janta de rei para nós. Amanhã eu vejo o que faço. Tenho umas casas de aluguéis e tem uma que está vazia, talvez eu alugo para você. - Falou José se aproximando de Natan e emendou - Vou te ajudar rapaz, mas não pisa na bola comigo. Eu sou um cara bom, mas sou o dobro de ruim. - Terminou José para causar impacto no Arcanjo.

-Sim senhor. - Falou Natan de cabeça baixa.

E foi assim que Natan começou a estruturar a sua vida. José deu a oportunidade que o rapaz precisava para se erguer. Ele alugou a casa do velho que ficava nos arredores do Capão redondo, num bairro chamado Vale das virtudes. Em um ano, o Arcanjo mobiliou a sua casinha, pequena, mas aconchegante. Continuou a trabalhar por anos com José em várias outras obras. Chegou a ir na formatura do filho do velho, que se formou em engenharia civil. O Arcanjo se sentia como um membro da família, pois José o acolheu como um filho.

Natan também adquiriu alguns vícios, ele começou a fumar cigarros e a beber vinho nos finais de semana. Fez algumas amizades, mas não gostava muito de baladas. Fazia sua comida e lavava a sua roupa. Não curtia muito televisão. Não se envolvia em brigas alheias e se afastava de qualquer tipo de drogas ilícitas. Respeitava as autoridades e ficava longe de traficantes e ladrões da região. Um jeito humilde de viver, era apenas mais um sobrevivente da favela.

Tudo seguia normal na vida do Arcanjo, até que numa noite de sábado, ele na frente de casa tomando vinho e dando umas tragadas de cigarro, olhando para o nada, avistou uma ruiva de olhos azuis passar na rua. 

ArcanjosWhere stories live. Discover now