Capitulo 2 Uma conversa entre irmãos

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Aurélia tentou de todas as formas encontrar um entendimento para o que aconteceu naquela noite na casa do vizinho, perguntou inúmeras vezes para o filho o que ele fez naquele quarto diante de um menino possuído, mas a resposta era sempre a mesma, " Eu joguei água benta naquele bicho e depois me abaixei". De fato o menino Natan não estava mentindo, mas ocultava outros fatos que preferiu não relatar para sua mãe. Aurélia por horas, resolveu esquecer o assunto, passou a acreditar que o que aconteceu foi um milagre divino, e por sorte, Natan saiu ileso diante de algo tão perigoso.

E os dias foram passando, foi quando o Domingo chegou. Era o dia de ir para a igreja, algo que mãe e filho estavam acostumados a fazer, poderia fazer sol ou chuva, que a presença deles era certa.

A igreja que Natan e Aurélia frequentavam, era simples, ficava ali perto da comunidade que eles moravam, era nova, tinha apenas oito anos que havia sido construída, suas paredes eram cinzas e era cercado por muros e grades. Dentro dela tinham diversos bancos, algumas imagens de santos, e na frente próximo do altar, uma enorme cruz. Em frente da igreja, tinha um pequeno parque, onde as crianças costumavam brincar após o término da missa.

Natan e Aurélia rezaram, ouviram as palavras do padre, cantaram cânticos, colocaram o dinheiro do dízimo nos saquinhos de panos que eram passados de mão em mão e por último receberam a eucaristia.

Ao término da missa, já na saída, Aurélia precisava conversar com senhora chamada dona Mercedes. O assunto era sobre a festa junina que a igreja estava pensando em fazer para arrecadar fundos para realizar uma reforma no lugar. Natan não estava interessado na conversa, pediu dinheiro para sua mãe e foi comprar um sorvete.

O menino comprou um picolé de chocolate e se sentou no banco do parque na frente da igreja.

O dia estava quente, diversas crianças brincavam no parque. O lugar era grande, com diversos brinquedos, entre eles, escorregador, balanço, etc. Alguns meninos e meninas choravam, pois se machucavam, mas logo eram acolhidos por seus pais.

Natan assistia tudo com entusiasmo, até que um homem lhe interrompeu:

_ Ei garoto... Eu posso me sentar ao seu lado?

_ O banco é público meu senhor, pode se sentar sim. - Falou o menino sem olhar para os lados.

O homem era alto, loiro, cabelos longos até os ombros, olhos azuis, corpo atlético, aparentava ser muito forte.

_ Você mora por aqui? - Perguntou o homem para puxar assunto, mas Natan não queria papo, respondeu seco _ Sim. O menino perdeu o interesse de ver as crianças no parque,mas continuou a devorar o picolé. A pessoa que estava ao lado do menino era insistente.

_ Qual o seu nome?

_ Meu senhor me desculpe, mas minha mãe me proibiu de conversar com estranhos, então não me leve a mal se eu não responder suas perguntas.

_ Mas você é um menininho forte, consegue até expulsar demônios, não há o que temer.

Natan ficou surpreso, mas mesmo assim manteve sua pose, terminou o picolé, limpou a boca com o braço e olhou para o homem ao seu lado:

_ De todos os avatares que temos, o seu é o mais parecido com sua verdadeira forma Miguel.

_ Meu irmão Uriel, você está bem?

_ Sim... e você?

_ Eu também, a propósito, seus irmãos mandaram lembranças.

_ Eles são livres para poderem me visitar quando quiserem.- Resmungou Natan, agora olhando para seu irmão.

_ Uriel, sabe que não podemos nos comunicar com você aqui no plano físico, eu só estou aqui por força maior.

_ Que seria?

_ Vim aqui te pedir para não interferir nos planos espirituais novamente. O que você fez na casa daquela família foi perigoso e imprudente. Não tem a força necessária para combater um demônio e está proibido de usar seus poderes angelicais. - Falou Miguel num tom sério.

Natan olhou para as crianças que continuavam brincando no parque.

_ Eu não tive escolha, me senti na obrigação de fazer alguma coisa, afinal de contas, você me conhece, não tolero o mal perto de mim.

_ Se eu não estivesse aparecido? Poderia ter sido morto e violaria a sua punição. Sabe o que Arcanos faria?

_ Não me importo com Arcanos, não me arrependo de nada que fiz.

No meio da conversa dos dois, um homem passou próximo vendendo sorvete num isopor, ele gritava:
_ Olha o sorvete, olha o sorvete.

Miguel puxou do bolso da calça umas moedas e pediu dois picolés. O homem abriu o isopor e o Arcanjo escolheu o seu sabor de amendoim, Natan pegou um sorvete no sabor de limão.

O anjo irrompeu o silêncio dando conselhos ao irmão.

_ Uriel ouça seu irmão, cumpra sua pena de cem anos como ser humano, passa rápido, depois disso, voltará a ser um Arcanjo como sempre foi.

_ Sim Miguel, eu vou fazer isso, não entrarei mais nos assuntos angelicais, ficarei longe de problemas, viverei uma vida simples e despercebida.

_ Faça isso por favor.

O Arcanjo devorou o sorvete, se levantou do banco e se despediu do irmão.

_ Devo ir agora, como você sabe, temos muita coisa para fazer. Rafael, Gabriel e eu estamos proibidos de lhe oferecer qualquer tipo de ajuda e nenhum meio de contato, então cuide-se meu irmão.

_ Eu sei as condições da punição, por isso eu entendo o afastamento de vocês.

Miguel balançou a cabeça, deu um joia para o irmão e depois disto saiu andando sem rumo.

Uriel permaneceu sentado do banco, devorou o picolé e ficou pensando no seu passado, o que o levou a se tornar um ser humano. Sua mente estava longe viajando pelo passado.  

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