III.III - O Passado da Condessa

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Camden levantou as sobrancelhas.

— São raros os momentos que me disponho para tocar — respondeu com brandura. — Por ora, devemos nos sentar.

— Duvido que nos faria uma desfeita. — Arabella não se fez de rogada, ainda de queixo erguido e atenta a cada movimento de sua filha tal como uma professora que avalia seus estudantes.

Of course no. — Ele disse que não e apontou a mesa com a mão para que Celestia se sentasse. Não queria ser indelicado, mas não podia perder a manhã inteira ali quando tinha tantos assuntos por tratar. Principalmente com a situação das estradas daquele condado. Precisava reunir alguns habitantes, avaliar os danos e redefinir rotas melhores, apenas para ter tempo de dar o mergulho habitual antes de voltar para cuidar de seus doentes. — De mesma forma que posso imaginar que irá tratar pessoalmente dos vestidos da Eleanor.

— Com certeza Madame Gotshalg não vos faria tamanha desfeita! — Lady Amâncio aumentou água no caldo e deixou um sorriso lateral permear o rosto alvo. Os olhos castanhos claros pareciam se divertir só de imaginar o possível cenário.

— São necessárias tirar apenas algumas medidas, pois já temos modelos prontos que só precisariam de ajustes. — Arabella disse entre dentes, as narinas dilatadas não escondiam o desgosto e os olhos arderam. Em nenhuma ocasião aceitaria tal feito, nem que Eleanor entrasse no seu estabelecimento com sacos de dinheiro. No entanto, recusar ao Conde estava fora de questão.

— Não precisam de se aborrecer com a minh...

— Pedirei que mande dois modelos para que Eleanor possa ter certeza que são de agrado. Os outros todos deverão ser feitos sob medida e costurados com os melhores tecidos e modelos amodernados. — Camden a cortou, mas lhe ofertou um aceno pela deselegância. O tom da voz era firme demais, de quem estava acostumado a dar ordens disfarçadas de pedidos.

— Faremos o melhor para a senhorita Davies. Se é de vossa importância, também o será de nossa! — Celestia – que já se encontrava muito bem sentada – era mais esperta, principalmente quando esboçou um sorriso singelo para Eleanor.

Good. — Ele olhou para a gestante que ainda se encontrava afastada e lhe apontou a cadeira de igual forma.

— Mil perdões, não é de meu interesse fazer nenhuma desfeita, mas de momento preciso me recolher. Estou um pouco indisposta. — Eleanor não mentiu, a única diferença era que a sua indisposição se devia ao facto de compreender que era não só mimada como talvez, egoísta, pois não conseguiria suportar ficar na mesma sala com uma possível candidata ao título de Condessa de Champnou. E, o pior de tudo é que não sabia explicar isso porque seu dever era o de se alegrar com a felicidade daquele homem que tão bem a tinha recebido, isso, sem contar que seus sentimentos eram todos pertencentes a Lord Parker.

— Terás algum problema? — O Conde deu um passo em frente, mas travou quando a viu dar um para trás. Arqueou o sobrolho devagar, mas como sempre não demonstrou suas emoções em expressões faciais.

— Apenas tive uma noite difícil. Não devo incomodar-vos com minha sonolência, seria indelicado de minha parte. — A jovem Davies tentou se justificar mais uma vez, mas percebia que os orbes cinzas não eram facilmente enganados.

I see... Neste caso, permita-me acompanhar-vos. — Decidiu, nem um pouco preocupado com a troca de olhares que as Gotshalg se dedicaram em completo espanto. Já não bastava aquele espetáculo incomum diante de quem estava abaixo deles, ainda por cima a preocupação dele se mostrava genuína. Tal momento presenciado levantaria comentários desagradáveis pela sociedade, se não fosse o caso de aquelas duas terem a necessidade de se manterem caladas para o bajularem até atingirem o objetivo. Não era segredo para ninguém que o Conde era fora da maioria dos limites éticos, mas nunca imaginaram que fosse tão abaixo do aceitável. Em que planeta um homem na sua posição se mostraria a serviço de uma jovem como aquela?

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