Capítulo XXXVII

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Carlos Montenegro continuava sob a vigilância de um dos franciscanos - como ele os apelidou em sua cabeça (por causa do manto e capuz).

Encostado ao pé do que sobrara do altar, ele olhava a imagem de Cristo na cruz, achando a situação quase que irônica. Por tanto tempo ficou longe de tudo que fosse referente a Deus ou a religiões, mas agora ali estava ele, preso, tendo apenas a imagem de Cristo como companhia. E quem sabe ao seu lado.

Refletindo sobre o que passou até chegar onde estava, deu uma curta risada. De repente seus pensamentos foram cortados, um barulho surgiu vindo da porta central da igreja. Aguçando os ouvidos, tentou escutar o que se passava. A porta fez um rangido ao ser aberta e sons de passos abafados surgiram, vindo em sua direção junto a um assoviar compassado.

- Afinal de contas, vocês vão me levar daqui ou pretendem acabar comigo de uma vez por todas?! - bradou ele erguendo a cabeça, fazendo sua voz ecoar na igreja.

Sussurros e uma conversa baixa entre quem havia chegado foram trocadas com o homem que o vigiava. Em seguida os passos abafados se multiplicaram, Montenegro notou que um deles se afastava, o outro a cada segundo se aproximava mais. Depois silenciou. A porta da igreja mais uma vez foi aberta e logo fechada, fazendo o som do baque se espalhar pelo lugar.

- Vejo que está muito bem, meu caro Carlos Montenegro.

Montenegro achou estranho pois, pela primeira vez, um deles falava diretamente com ele.

- O que fizeram com Charlene e Antônio Lazar? - interrogou ele. - Se querem me matar, ou fazer sei lá o que, que façam isso logo. Pois está me parecendo que seu chefe não está nem um pouco interessado em mim.

Nesse instante, Montenegro voltou a ouvir sons de passos vindo em sua direção.

- "Chefe?" - falou em tom ponderado aquele que se aproximava. - Quem aqui disse haver um chefe?

- Sempre têm. Ou vai me dizer que vocês, um bando de franciscanos, acordaram em um belo dia e decidiram dominar a cidade?

- Pelo que estou vendo... você não mudou nada, Carlos. Continua com o mesmo sarcasmo - falou o homem, dando uma curta risada.

- Que bom, vejo que devem estar se divertindo muito comigo.

- É aí que você se engana. Não estamos fazendo isso por diversão e sim, meu "chefe", como você mesmo falou, me mandou aqui para levá-lo.

Nos poucos segundos que pareciam lhe restar, Montenegro tentou pensar em algo que pudesse tirá-lo daquela situação. Mas, a cada passo dado, pressentia que nada que fizesse iria salvá-lo. Foi quando os passos novamente silenciaram, deixando-o apreensivo. Montenegro sabia que estava sendo observado furtivamente, mas não quis se virar. Então disse:

- Essa é boa. Mandaram um novato que está com medo de fazer o serviço.

- Cale a boca! Tenho que pensar em algo.

- O quê? - pensou Montenegro.

Ele estranhou e logo lhe passou pela cabeça que, quando entrou, o estranho assobiava uma música que conhecia, mas que há tempos não a ouvia. Várias coisas começaram a passar por sua cabeça, então decidiu se virar para ver o que seu visitante estava fazendo. Ao se mover, estacou com um susto, pois o homem já estava parado de pé à sua frente, e disse:

- Olá, velho amigo.

* *

Carlos Montenegro não conseguia acreditar no que seus olhos viam. Seria mesmo imaginação depois de tudo que passara? Ou o sujeito à sua frente, que deveria matá-lo ou levá-lo para sofrer as consequências, era na verdade...

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