Capítulo XXV

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Sentado quase às escuras no sofá da sala, Lazar fitava o fogo na lareira. Passava das 22h e Charlene já estava dormindo. Sob a fraca luz do abajur que ele direcionou, iluminando o quadro na parede sobre a lareira, que ele havia dado para sua esposa no dia do seu aniversário, Lazar meditava contido em seus pensamentos. Ao seu lado, em cima de uma mesinha, uma garrafa de uísque já pela metade.

- Por que me deixou? - sussurrou ele, com os olhos marejados.

De repente um barulho surgiu vindo da frente da casa. Em um sobressalto, Lazar se levantou e foi até o baú que ficava em um canto da sala. De dentro tirou sua espingarda calibre 12. Aproximou-se da janela, afastou a cortina e viu que lá fora uma pessoa de pé entre a escuridão observava sua casa. Destrancando a porta, Lazar apontou a arma na direção do estranho querendo saber o que fazia ali em sua propriedade.

- Quem é você e o que faz aqui? - Indagou ele com o dedo no gatilho, tendo o sujeito na mira. O estranho começou a se aproximar em passos lentos, ficou em silêncio por alguns instantes.

Lazar percebeu que ele mantinha os braços cruzados e que parecia estar usando um manto com capuz lhe cobrindo a cabeça.

- Você não precisa dessa arma - finalmente falou o estranho com um tom de voz firme e equilibrado.

- Quem é você? - Perguntou mais uma vez Lazar, dando um passo para frente.

- Vim aqui porque tenho respostas para as suas perguntas.

- Do que você está falando?

- Você é um bom homem e não deve se culpar desse jeito. Esta cidade vem sofrendo com muitas mortes e, se quiser que isso pare, vá amanhã cedo antes do sol nascer até a igreja. Lá você verá que o que tenho é para o bem desta cidade.

- Papai, o que você está fazendo aí fora?

Lazar se virou ao ouvir a voz de sua filha e, ao voltar-se para frente, viu que o estranho desaparecera.

- Com quem estava falando? - indagou a menina, parando ao lado da porta.

- Com ninguém, minha filha - respondeu Lazar, olhando para os lados a procura do estranho.

- Mas então para que a ar...

- Vamos! - Interrompeu ele. - Suba e volte para o quarto.

Está muito frio aqui embaixo. Não quero que pegue um resfriado.

Charlene começava a subir a escada, quando parou e viu sobre a mesinha a garrafa de uísque.

- Você me prometeu que não iria mais beber - disse ela com certa fúria na voz.

- Vá dormir! - bradou Lazar, percebendo em seguida que não deveria ter falado daquele jeito.

Charlene girou o corpo com firmeza e subiu correndo para quarto. Assim que entrou, trancou a porta.

Lazar, ainda com a arma em punho, olhou uma última vez pela janela antes de apagar o fogo da lareira e subir para o quarto.

* *

O galo começou a cantar alto, anunciando mais um dia que nascia. Antônio Lazar abriu os olhos e ficou observando o teto do quarto. Em seus pensamentos, lhe veio o acontecido de horas atrás. Vá até a igreja antes do sol nascer, sussurrou ele. Pela janela, viu que o céu ainda adormecia em meio ao escuro. Colocando os pés sobre o assoalho frio, Lazar trocou de roupa e, antes de descer, foi até o quarto de Charlene. Viu que a porta ainda continuava trancada.

- Me perdoe - disse ele, colocando a palma da mão na porta.

Ao entrar em sua picape, Antônio colocou sua espingarda sobre o banco, deu a partida e saiu rumo à igreja. Em poucos minutos, estacionava a picape nos fundos do lugar religioso. Assim que desligou os faróis, uma pessoa abriu a porta dos fundos e ficou de pé diante dele. Pela postura, Lazar percebeu que devia ser o mesmo homem que aparecera em sua casa. Os dois fitaram um ao outro até Lazar pegar a arma sobre o banco e descer apontado para o estranho.

Andando SozinhoWhere stories live. Discover now