Capítulo XXXVI

3 1 3
                                    


O delegado Walter Nortório estava sentado na cadeira. Com as mãos postas entrelaçadas sobre a mesa, ele olhava firme para Carlos.

- Então foi isso que aconteceu? Ela saiu escondida do pai para se encontrar com você. Passaram a noite juntos e - Nortório lançou o corpo para frente, aproximando-se mais de Carlos - depois você a levou para casa?

- Foi o que contei, não? - respondeu Carlos em tom irônico.

- E não voltou logo depois indignado com a resposta dela de querer esperar mais para fugirem?

- Eu sei o que o senhor está querendo fazer. Está querendo de qualquer maneira achar um culpado para prender e, como acabei de contar, fui a última pessoa a ver Amanda, mas - Carlos se levantou da cadeira, colocando as duas mãos sobre a mesa, encarando o delegado, que ficou surpreso com a atitude - não fiz e nunca faria algo contra Amanda. Eu a amava e, se preciso, esperaria o tempo que fosse para ficarmos juntos. Pergunte a qualquer um. Todos vão dizer o quanto eu a amava.

Nortório não gostou nem um pouco da ação de Carlos desafiando-o, mas levou em consideração a pressão que o jovem vinha sofrendo.

- Não sei se ficou sabendo, mas o senhor Marcondes teve que ser levado às pressas para um hospital de melhor capacidade. O coitado sofreu um choque ao ver a filha morta. Pelo que estou vendo, está com sorte, garoto. Seus amigos não contaram nada que pudesse colocar você como suspeito, mas - ele fez uma pausa ponderada - isso não quer dizer nada. Peço que fique por perto. Por enquanto vou liberá-lo, mas voltaremos a nos falar - disse erguendo seu corpanzil da cadeira.

- Quero vê-la.

- Ver quem? A garota? - indagou Nortório, surpreso com a atitude de Carlos.

- Eu quero ver o corpo.

- Isso já é besteira, meu jovem. Não posso permitir isso.

- Por que não? Como vou saber se é realmente Amanda que está morta?

- O que quer dizer com isso? É obvio que é Amanda Marcondes.

- Então me deixe ver o corpo.

- Não abuse da minha boa vontade, rapaz - vociferou Nortório. - Poderia prendê-lo por isso. É o que está querendo?

- Apenas quero ver o corpo. Quem o identificou?

- Por qual razão você acha que o senhor Marcondes foi levado às pressas para um hospital, hein? Agora chega dessa palhaçada e vá embora! - bradou Nortório, fazendo com que David, ainda no corredor sentado no banco, desse um sobressalto. David ficou de pé e viu, instantes depois, Carlos sair sozinho da sala de interrogatório.

- Então, o que aconteceu? - perguntou David vendo-o passar de cara fechada, indo em direção à porta de saída.

- Vá para casa, David - respondeu Carlos enfático. - Acabou!

Andando SozinhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora