II.III - Um Lord Displicente

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Eleanor soltou um esgar.

— Temo que haja algum mal-entendido — sugeriu e subiu a mão para o pescoço. Suas entranhas reclamavam por tanta expetativa anulada tal como uma avalanche que cobre tudo o que encontra pela frente.

Well, permitam-me interromper-vos. Não é de todo meu desejo, mas ao que consta, Lord Rinley terá chegado num momento oportuno uma vez que seguíamos para um jantar. Não é de boas maneiras que deixe minha convidada a espera, pelo que sugiro que as explicações sejam deixadas para depois. — Camden decidiu intervir – continuava ilegível – mas estava claro que não lhe tinha passado despercebido tamanha animosidade.

— Com certeza. — John concordou num leve aceno cordial. — Me faço faminto. E as palavras não hão de fugir para lado algum.

Good. Shall we? — Perguntou e apontou a mão na direção da porta da sala comum, mostrando para Eleanor que deveria seguir na frente, mesmo que de momento não parecesse interessada em fazer aquilo.

— Agradecida. — Teve que ser educada ao se permitir sorrir para o Conde e se adiantar como sempre, sabendo que os dois prontamente viriam logo atrás. Fervia por dentro e apertava as mãos com tanta força que as unhas prometiam comer a carne das palmas.

— É uma honra estar em vosso castelo. De uma beleza imensurável, devo salientar, e como se encontra a vossa família? Soube que Lady Noemy e Lídia Byron-White irão debutar ano que vem. — John era suave na conversa, sem se mostrar muito curioso ou pouco interessado.

Manipulador. Eleanor pensava por si. E cínico.

— Se encontram de melhor forma impossível. — Camden também abusava de uma calmaria misteriosa, pois o tom deixava claro que era preciso saber onde pisar quando se dirigiam a ele. — É de nosso interesse afastar ambas do centro de Londres por alguns meses até completarem a idade para debutar.

— Uma atitude correta, deste modo não vão cair em desenganos. — Frisou a última palavra num tom um pouco mais alto. — Sem contar que despertará o interesse dos candidatos, uma vez que não se tornarão vulgares como todas as outras que circulam pelas ruas.

— A senhora minha mãe compartilha de mesmos pensamentos que os vossos, Lord Rinley — declarou, sem deixar de observar como a jovem Davies subia os longos degraus pisando-os com tanta força como se estes fossem culpados de algum infortúnio. Não sabia o que lhe tinha sido dito naquela carta que lhe deixara na cabeceira quando ainda se encontrava desacordada, mas podia antever.

— E o Lord Byron-White?

— Há de convir que não sou adepto de encarcerar pessoas contra a sua vontade apenas porque todos os outros não conseguem valorizá-las acima de qualquer moral e ética a que estão inseridas — respondeu com ardileza, mas a risada que escapou da boca de Eleanor que ia na sua frente, não lhes passou despercebido.

— Se a sociedade não seguir regras e os bons costumes, então tudo será banalizado. Estaremos em completo caos, Lord Byron-White. Cada um irá fazer o que melhor lhe convier sem se preocupar com o certo e o errado. — John rematou sem sequer se exaltar. — E devemos concordar que encarcerar é uma palavra forte.

Camden sorriu.

— É tudo uma questão filosófica entre o certo e o errado. No entanto, se a pessoa não resultar em nenhum perigo a si própria ou a terceiros, não prejudicar propositadamente ou causar discórdia geral... então por que devemos nos ocupar de suas escolhas ou percursos?

— Libertino? — John indagou.

— Conservador? — O Conde replicou.

Eleanor curvou para o corredor que os levaria para o salão onde quase tinha feito uma refeição com o anfitrião pela primeira vez. Acompanhava o debate com um certo deleite, torcendo internamente para Camden, pois concordava com a sua ideologia.

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