Capitulo 6

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 -Olha como esse lugar é lindo! –diz Mariana com os olhos arregalados para a Catedral de Notre Dame –Eu definitivamente acho que vou chorar.

- Calma gente, eu sei que é lindo, mas não precisa chorar –diz Mariana enquanto pega a câmera na sua bolsa e aponta para a janela e começa com a sessão de fotos.

   A Catedral era incrivelmente enorme e a sua história era coerente ao fato da Mariana querer chorar. Sei que ela lembrou das nossas aulas de história da arte que tivemos no ensino médio, depois daquela aula eu e Mari ficamos fascinadas pela arquitetura gótica e esta por muito tempo foi motivo de várias perguntas a professora e pesquisas das construções dessa época gótica na Europa. E claro, a Catedral de Notre Dame estava como uma das principais construções no mundo.

   Ela foi contruída em 1163 e é dedicada a Maria, mãe de Jesus Cristo. Nela existem mais de duzentos vitrais e alguns entre os maiores construídos na história. No seu interior haviam tantos detalhes cuidadosamente feitos que até lembravam o barroco. Se o gótico em si não fosse tão sombrio, esta fase na arte seria a minha favorita.

   Fomos conhecer algumas lojas de cosméticos em alguns centros e a Victoria’s Secret foi o ponto principal para Clara. Comprei meu perfume dos sonhos, que é o miss Dior, em outra loja e alguns cremes hidratantes para levar de presente (claro que Clara era exagerada e tudo que pegava para presente comprava um pra ela também).

   Passeamos em outros parques lindos até chegarmos ao Jardim de Luxemburgo e fazermos outra sessão de fotos. Não diferente dos outros, neste parque haviam vários parisienses, ou turistas, sentamos e deitados a grama conversando e admirando o céu e o vento frio.

   O Palácio do Luxemburgo ao fundo daquele enorme jardim era incrivelmente lindo, não lembrava a arquitetura gótica já este palácio foi construído em 1611 e trazia consigo leveza e requinte, ao contrário da aparência sombria que as arquiteturas góticas tinham.

   Mariana ligou para David enquanto degustávamos de um pequeno lanche no fim de tarde.

- O David já está em casa, vamos¿

- O que¿ Não só porque ele chegou que temos que ir embora. –disse Clara ajeitando seu cachecol e guardando seu óculos de sol não mais necessário.

- Ele está todo suado do treino e disse que ia esperar para tomar banho comigo. –ela faz beicinho.

- De qualquer forma ele já vai estar seco quando chegarmos, então relaxa aí. – riu-me com Clara e não me meto da discussão.

    A inquietação da Mariana foi tão grande que após trinta minutos estávamos a caminho de casa. Quando o elevador abriu ela entrou no apartamento como um raio e pude jurar que parecia uma adolescente louca para ver seu presente de aniversário. Bem... era quase isso.

- Vamos nos arrumar para o jantar. – eu disse enquanto Mariana subia as escadas. “Certo!” foi sua resposta e ela nem se virou para responder.

- Que roupa se usa para barzinho francês¿ -Clara me pergunta abrindo a porta do seu quarto.

- Não sei, mas acho que nada muito extravagante.

   Tomo um banho quente e visto minhas roupas íntimas, tranco a porta do quarto porque não quero que a Clara entre sem bater na porta. Escolho uma jaqueta de couro vermelho escuro, calça preta e scarpin preto. Faço maquiagem bem marcada com delineador nos olhos e gloss coral. Seco o cabelo e ajeito com o babyliss.

   Saio do quarto para ir até Clara e apressá-la, mas dou de cara com o David abrindo a porta do quarto da Mariana vestindo somente uma toalha branca enrolada no quadril e os cachos molhados. Era nítido na expressão do seu rosto que ele pretendia não encontrar ninguém agora, então eu não podia desperdiçar a oportunidade em tirar onda dele.

   Cruzei meus braços e encostei-me na porta, fazendo cara de reprovação e comecei:

- Posso ajudar¿ -ele sabia que eu estava começando uma sessão em deixa-lo com vergonha.

- Só vim pegar as roupas da Mari.

- Então já posso chama-lo de cunhado¿ -David começa a rir e não aguento não me juntar a ele –Você está dormindo e tomando banho com a minha amiga, isto é mais sério do que imagina.

- Claro que pode me chamar de cunhado.

- Ah que bom... –ele pegou a mala e abriu, seria provável ele escolher a roupa que ela iria vestir¿ -Porque não leva as coisas dela lá pra cima¿ Assim não iria precisar descer para pegar roupa e encontrar pessoas chatas para te fazer interrogatório.

- Neste aspecto você está certa. –ele fechou a mala –Não acha que vai ser muito apressado da minha parte querer que ela mude-se para o meu quarto¿

- Absolutamente não –sorrio lembrando da conversa que a Mari disse em achar o quarto do David mais dela do que dele – Leva a mala enquanto junto as coisas dela para você buscar o resto.

   Ele passa com a enorme mala da Mariana e junto o material de maquiagem, higiene e sapatos. Porque as meninas não arrumaram a roupa dela no guarda-roupa também¿ Talvez elas também sentissem que Mariana estava prestes a ficar no quarto do David.

   Deixo tudo em cima da cama e desço a escada com a Clara explicando-a da cena que acabou de ocorrer. Ela leva sua cabeça para trás quando ri lamentando perder o momento de confrontá-lo sobre a Mariana.

   Eles chegam à sala e David revira os olhos quando cutuco Clara e ela rir-se. Mari não entende, mas não se importa em perguntar o que há.

   O ar é muito gelado mesmo na garagem e percebo como o carro do David é mais alto em relação ao que estávamos passeando com o motorista. O som é alto em músicas brasileiras e em alguns minutos chegamos a um bar à margem do Rio Sena. O frio é intenso, mas não tão intenso quando chegamos. Talvez eu estivesse me acostumando com o frio¿ Isto é possível¿

   O “bar” parecia um chalé gigante e as mesas ficavam no gramado e o rio Sena estava completamente à vista. Entre uma arvore e outra haviam varais de lâmpadas amarelas iluminando o local junto com os refletores. Era aconchegante e tocava músicas que deduzo ser da cultura francesa.

   Sentamo-nos a uma das mesas de madeiras e pedimos nosso jantar. O tempo passa muito rápido enquanto conversamos e tomamos cerveja. David fala sobre a sua família e da sua nova vida em Paris enquanto Mariana desmanchava-se olhando para ele. Contei sobre as minhas expectativas para o terceiro ano de faculdade e a minha ansiedade para conseguir um estágio, ganhava mesada dos meus pais, mas eu já estava com 21 e não quero mais depender deles para conseguir dinheiro.

   Clara fala sobre seu drama de ter nossos pais metendo-se em sua vida e sobre suas desilusões amorosas. Quase acho que Mariana vai tocar no assunto do Bernard, mas ela não o faz, admito que estou ansiosa para o David apresenta-los, sei que ele vai conseguir isso.

   Bocejo uma e outra vez e sinto-me uma adolescente que não aguenta sair com os amigos e beber que logo fica com sono, esta não sou eu. Gosto de sair para beber e dançar... E o problema é justo esse: estamos sentados a horas só a beber e conversar. Isto dar-me sono mesmo o papo estando muito bom.

- Letícia você poderia bocejar menos antes que engula uma de nossas cabeças¿ -David me diz ao fim de mais um bocejo meu.

- Me desculpe, acho que hoje seria um daqueles dias que eu queria dançar.

- Próxima saída será uma balada, prometo.

- Não, relaxa... –bebo dois goles da minha cerveja –É só eu ficar um pouco bêbada que não sinto sono.

- Não queremos cuidar de bêbados –diz Clara.

- É. Vamos te jogar no rio Sena –David aponta para o rio com o tom cheio de certeza.

- Chatos. –digo e bebo mais um gole da cerveja gelada. Em lugares frios elas não deveriam ser menos geladas¿ Talvez queiram nos congelar ou parece que estou dentro de uma geladeira gigante chamada Paris.

   Era quase uma da manhã quando voltamos para o apartamento. David e Mariana ficavam ainda mais engraçados e combinavam ainda mais quando estavam levemente bêbados. Um ajudou ao outro a subir os degraus e riam-se sem motivo algum.

   Tirei a maquiagem e vesti roupas quentes para esta noite fria. Deitei e dormir antes que pudesse pensar sobre o dia de amanhã.

Amigas, romances e Paris.Where stories live. Discover now