STAR TREK: SÉRIE SPIRITUS - Ep. 1 - A Quarta Lei

Capítulo 23

Três dias depois, o capitão Jean-Luc Picard estava confortavelmente sentado em sua cabine a bordo da Enterprise. Em sua companhia estavam Willian Riker e o almirante vulcano Murak, este último sendo levado ao seu planeta natal.

Os outros almirantes que haviam participado do incidente com a Siegfried retornaram às suas atividades normais depois de uma longa reunião envolvendo líderes da Frota Estelar e da Federação Unida dos Planetas. O principal assunto da discussão foi o conhecimento que a coletividade Borg possuía a respeito do projeto secreto das naves de classe Spiritus. Muito se falou sobre vazamento de informações, mas a palavra traição foi usada com cautela pelos participantes.

Também foi discutida a viabilidade de continuar o projeto das naves com escudo de teletransporte reverso. E, devido à falta de entendimento e concordância, decidiram adiar a discussão. Outro ponto sem solução foi o uso de androides no comando de naves. Apesar dos fatos, Picard foi um dos que votaram a favor da inovação, provavelmente porque estava vivo devido às habilidades de um deles.

— O que será feito do doutor Yoshikawa, agora? — perguntou Riker.

— Ele se tornou um homem muito importante — disse o capitão —, e como tal jamais terá paz de novo. Ele provavelmente continuará no projeto de naves com escudo de teletransporte reverso, ou será escondido em algum quadrante da galáxia, se a Frota Estelar decidir não usar mais esta tecnologia. Minha opinião é que a Frota com certeza vai construir outra nave da classe Spiritus comandada por um androide.

— É uma decisão difícil — comentou o almirante Murak. — A nova tecnologia pode ser de grande utilidade contra o avanço Borg, no entanto seria catastrófico se fosse assimilada por eles. Isto significa que ela tanto pode ser a nossa salvação quanto a nossa destruição.

— Graças ao capitão Picard, a primeira tentativa da coletividade foi frustrada — congratulou o imediato.

— Ora, aquilo não foi nada — disse Picard erguendo os ombros. — Bastava ter conhecimento das Três Leis da Robótica e de um pouco de história... Quando os primeiros cérebros positrônicos foram construídos, muitas pessoas achavam que os robôs poderiam dominar os humanos. Por isto as Três Leis foram criadas, garantindo que robôs e androides estariam sempre sob o nosso controle. Não permitir que cometam ou cometer mal aos humanos, obedecer ordens humanas e proteger a própria existência é o que guia estas criaturas artificiais. Mas, como seus criadores, robôs e androides não são perfeitos, e houve muitos casos de cérebros que paravam de funcionar quando se deparavam com dilemas insolúveis como o que eu apresentei ao capitão Rast. Aliás, eu acredito que em algum momento enquanto Rast perdia a razão, ele deve ter notado qual era o meu plano, de modo que ele julgou sua "morte" a única solução para salvar seus criadores.

— E como você sabia que destruindo o cérebro positrônico do androide, isso afetaria também os sistemas da Siegfried? — indagou o imediato.

— Eu não sabia... — disse Jean-Luc se permitindo sorrir. — Foi um chute baseado no conhecimento de que os computadores das naves também seguem a lógica positrônica, logo dependem das Três Leis. Eu imaginei que isto seria muito mais intenso em uma nave cujo computador era conectado a um capitão androide. Ambos, nave e capitão, eram apenas um quando conectados. Então, anular o androide significaria inutilizar a nave.

— O que me causa estranheza — comentou o vulcano — é a limitação e a falta de lógica das Três Leis da robótica... Quando deparado com o dilema de ser responsável por mortes humanas, o capitão Rast deveria ter optado por destruir a nave, matando a todos nós e o físico Yoshikawa. Desta forma, poucas vidas seriam perdidas em nome da salvação de bilhões... Afinal, as necessidades de muitos sobrepõem-se às necessidades de poucos.

Jean-Luc Picard suspirou e, sorrindo para Riker, disse:

— Ainda bem que esta máxima vulcana não é a Quarta Lei da robótica!