Grande parte dos seus colegas já havia chegado e jaziam sentados, preenchendo a sala com o rumor indistinto de suas conversas e pensamentos. Uma das poucas que ainda não se encontravam ali era Jill. Amber começou a ficar preocupado. Ela tinha pego um resfriado semana passada. Talvez estivesse de cama de novo? Estava prestes a ligar-lhe quando sentiu alguém pensar em seu nome no primeiro andar e compreendeu que era ela.

          — Droga, estou atrasada. Será que o Amber já chegou? Aposto que sim. É um saco ele morar na direção oposta à da minha casa. Seria maravilhoso se fossemos vizinhos... Ah, aquela garota está com o mesmo penteado e blusa que eu. Vou pelo outro corredor. Ninguém merece... Amber... Eu me sinto cada vez mais conectada a ele, isso é tão bom. Eu sequer preciso dizer, e ele já sabe como estou me sentindo, o que eu quero, do que preciso, como se fôssemos um só... Me pergunto se é isso o verdadeiro amor... E no entanto... E no entanto... Ops, quase passei da porta.

          Jill entrou sorrindo, radiante, com o olhar apontado diretamente para onde sabia que Amber se sentava. Depois de avistá-lo, adentrou o corredor de classes e caminhou até ele; o corpo esguio de curvas suaves movendo-se com desenvoltura dentro de uma estilosa blusa carmim sem mangas.

          Os dois se beijaram. Jill acionou o modo movimento de sua mesa e arrastou-a até acoplar-se com a de Amber. Ela então ajeitou sua cadeira ao lado e sentou abraçada nele. Nenhum dos outros alunos parecia notar suas presenças. Continuaram tagarelando, sem jamais virar o olhar em sua direção.

          Minutos depois, o professor entrou e iniciou a aula. Em um determinado momento, pousou os olhos nos dois e franziu o cenho.

          — Jill, o que está fazendo aí? Não dei permissão para se juntarem. Faça o favor de arrastar sua carteira de volta pro lugar.

          — Ela vai ficar aqui, professor — disse Amber com um tom monótono. Jill estava com a cabeça deitada em seu ombro, sem expressão, observando o professor.

          — Do que está falando, garoto? Não estou aqui para ser desrespeitado. Ou ela volta para o lugar ou dos dois serão deslogados da aula.

          — Ela vai ficar aqui — repetiu Amber. — Agora, continue a aula.

          Uma sombra perpassou o rosto do professor antes do mesmo suavizar-se e, como se nada tivesse acontecido, recomeçar a aula.

*

          Durante o intervalo, os dois desceram para o primeiro andar. Amber caminhou pelos corredores puxando Jill pela mão.

          — Onde estamos indo? — perguntou ela depois de um tempo. — Eu não tomei café da manhã, estou faminta. Podemos passar na cafeteria?

          — Desculpa, só preciso fazer uma coisa. Pode ir se quiser, nos encontramos na sala.

          — Tem certeza? Tudo bem.

          Ela aproximou-se e depositou um delicado beijo em seus lábios, então virou-se e desapareceu entre os estudantes.

          Amber parou diante da porta da sala dos professores. Poucos alunos passavam por ali, a maioria para entrar ou sair de alguma porta dos conselheiros. Calmamente, deu alguns passos até um dos bancos acolchoados alinhados contra a parede e sentou-se. Caso alguém perguntasse, estava aguardando um colega.

          Então, sem querer perder tempo, começou a concentrar-se, abrindo uma a uma as barreiras mentais que impediam os pensamentos alheios de lhe sobrecarregarem. Aos poucos, o mundo circundante foi sendo iluminado por fios cintilantes que atravessavam paredes, teto e até mesmo o chão. De olhos fechados, pôde sentir os locais onde eles se reuniam e conectavam-se às mentes humanas, formando pequenas esferas que se moviam e pulsavam como estrelas.

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