Beatriz o que é que estás a fazer à tua vida, mulher? Tens um namorado te esqueceste!?

Passados poucos segundos após a minha luta interior comigo mesma, a porta da casa de banho foi aberta e eu entrei, fechando-a novamente logo de seguida.

- Frederico...- tentei falar, mas ele impediu-me logo de o fazer.

- Aqui tens a roupa do teu namorado- entregou-me para as mãos a camisola que lhe tinha dado- E agora, se me dás licença, eu quero ir para casa.

Ele estava a falar-me como no dia em que nos conhecemos e eu não estava a gostar nada disso. Não queria que deixassemos de ser amigos para nos voltarmos a tratar como desconhecidos. Porque, sim, acontece sempre isso em certas amizades. Até que chega ao ponto em que se muda me passeio ou se finge estar ao telemóvel só para não falar com a pessoa ou para olhar para ela. Não ia deixar isso acontecer entre nós, que ainda estamos a criar uma amizade que eu não queria perder por nada deste mundo.

- Não, não te dou licença coisa nenhuma!- pus me à sua frente e não o deixei alcançar a porta- Vais me ouvir, primeiro.

- Diz lá o que é que queres, mas rápido. O José já deve estar à minha espera lá fora.

- Desculpa não te ter contado sobre o Lourenço, está bem?- eu não tinha de me desculpar por ter mantido essa parte da minha vida privada quando ele também nunca me falou da sua, mas sentia que tinha de o fazer- Simplesmente não estava à vontade para falar dele contigo. E eu não sabia que ele ia aparecer cá hoje, era suposto ele só vir amanhã. E... E aquilo que aconteceu antes de ele chegar...

- Não aconteceu nada- ele voltou a interromper-me, o que me estava a deixar profundamente irritada, mas eu não queria passar-me da cabeça com ele, então mantive-me calma.

- Mas...

- Mas nada!- ai o caraças, se me volta a interromper perco a clama toda e dou-lhe com o secador na cabeça- Não aconteceu nada, não ía acontecer nada e não vai acontecer nada!

Eu não sei se ele está a dizer aquilo para ele próprio acreditar ou para me tentar convencer, mas acho que nenhuma das duas opções parece estar a resultar.

- Eu só quero esquecer este dia e ir para casa antes que fique constipado, o que muito provavelmente vai acontecer.

- Desculpa...- não sei do que me estou a desculpar, mas pronto - Eu deixo-te ir.

Estava à beira de começar a chorar, Mas felizmente ele não tinha reparado nisso. Ou talvez reparou mas decidiu ignorar.

Abri a porta e sai, deixando-o fazer o mesmo de seguida. O Lourenço já estava sentado no sofá de novo, com a televisão ligada e de costas para nós. O Frederico dirigiu-se para a porta e eu acompanhei-o, apesar de saber que ele não queria que eu o fizesse.

- O almoço fica para outro dia, está bem?- perguntei calmamente e esperei a sua resposta, mas essa não veio. Abriu a porta e saiu.

Fiquei a olhar para a porta com cara de atrasada porque... ele acabou de me ignorar? Ele fez mesmo isto?! A minha vontade de o matar é tão grande neste momento! Tivemos uma ótima manhã que de certeza ia acabar num ótimo resto de dia e agora... agora isto!

Ah pois é!

Corri até à cozinha sobre o olhar atento do Lourenço e peguei na caixa com o nome do Frederico que a Tia Ana nos tinha dado. Já me estava a esquecer dela e de certeza que ele também nunca mais se lembrou com esta confusão toda do autocarro e do resto.

- Onde é que vais?- perguntou o causador de metade desta terceira guerra mundial, ao ver-me correr pela casa.

- Ele esqueceu-se de uma coisa, volto já.

Abri a porta e ainda o consegui apanhar antes de chegar ao carro. Gritei o seu nome e ele virou-se para trás. O Sr. José estava agora mesmo a sair do carro para o ajudar, mas parou quando me viu. Acenou-me com a mão e após eu ter retribuído o gesto, permaneceu sentado no banco do condutor.

- Esqueceste-te disto lá dentro. Pensei que talvez quisesses levar- coloquei-me à frente do rapaz da cadeira de rodas e estendi-lhe a caixa. Ele agarrou-a, assim como às minhas mãos, aquecendo-as ligeiramente, por uns escassos segundos, o que eu sei que foi propositado.

- Obrigado- mostrou-me um sorriso forçado e voltou-se para o carro.

- Frederico, espera...- esperei que este me voltasse a olhar e continuei- Nós... Estamos bem, não estamos? Eu não quero estar chateada contigo por causa de...

- Bea...- desta vez agradeci-lhe mentalmente por me ter interrompido, porque não sabia o que ia dizer- Está tudo bem. Nós estamos bem. Prometo. Agora volta para dentro, sei que estás cheia de frio.

Estava, de facto, a morrer de frio, mas não tinha reparado nisso até ele o dizer. Estava mais concentrada em saber se realmente a nossa amizade não tinha sido arruinada por um erro que nem chegou a acontecer.

- Está bem...- assenti- Depois eu ligo-te e combinamos algo, achas que pode ser?

- Pode- foi o "pode" menos convincente que eu ouvi na minha vida, mas tinha de me contentar com isso - Adeus, Beatriz.

Deixei-o finalmente ir e voltei para dentro, onde me deixei deprimir um pouco nos braços do meu namorado enquanto ele me mexia no cabelo e falava comigo sobre como correu o seu Natal em família. No entanto eu não estava a prestar atenção a nada. Só conseguia pensar no Frederico e naquilo que quase ia acontecendo. Dizem que um quase não chega para mudar tudo, mas neste caso, acabou por mudar.







Desculpem por esta demora toda para publicar este capítulo, mas os últimos tempos foram muito complicados com testes e trabalhos e exames e agora estou finalmente livre disso tudo e já posso voltar a publicar mais regularmente. Espero que tenha corrido tudo bem a quem também tenha exames e que tenham conseguido corresponder ao que desejavam para este ano letivo.

Espero que tenham gostado e não se esqueçam de votar e deixar um comentário com a vossa opinião sobre o capítulo! 

Ah e já agora, passem pelo meu perfil e leiam a mini história que eu publiquei à uns dias atrás chamada By The Sea. Ela só tem disponível 1 das 2 partes, mas daqui a pouco tempo já vai estar completa. É uma história muito diferente daquilo a que estou habituada a escrever, mas acho que são capazes de gostar. Por isso se o fizerem, votem também e digam-me o que acham. Significava muito para mim se o fizessem, então obrigada a quem o fizer!

Até ao próximo capítulo.

Uma Cadeira e Dois Chocolates QuentesWhere stories live. Discover now