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|26 de dezembro, 2017 |

Os dias continuavam a ser tipicamente de inverno. Sistemava em chover e fazer frio, alimentando um desejo profundo de não sair dos cobertores, ser uma preguiçosa e ficar em casa sem fazer absolutamente nada. Porém, os meus planos com o Frederico arrumaram essa possibilidade, tendo até de me levantar bem cedo do condorto da minha cama para estar a pé agora.

Entramos para o café da Tia Ana que a esta hora - onze da manhã - começava a encher, e dirigimo-nos diretamente para o balcão. As pessoas nas mesas falavam animadamente umas com as outras, todas vestidas de forma apropriada para a época em que nos encontrávamos. Nunca percebi aquelas pessoas - quase sempre raparigas - que andam na rua como se fosse verão, quando eu tenho um quantidade inacreditável de camadas de roupa a cobrir e minha pele e continuo com frio!

- Os meus meninos vieram fazer-me uma visita!- a melhor e mais simpática atendedora de balcão sorriu largamente assim que nos viu - Feliz Natal!

- Feliz Natal!- adorava a animação da senhora. Desde que me mudei para cá e passo pelo café nesta época, ela está sempre feliz e bem disposta, como se a sua única preocupação fosse atender bem os seus clientes. Ate parece que o espírito de Natal vive dentro dela.

- Feliz Natal, Tia Ana- o Frederico contornou o balcão para lhe entregar os chocolates que tinha comprado, assim como uma peça de decoração natalícia para o seu café - Temos aqui umas coisas para si, que esperemos que goste. É simples, mas foi comprado com carinho.

O seu olhar iluminou-se e o seu sorriso aumentou ainda mais quando viu o que o Fredeico lhe tinha comprado. Era adorável ver a sua reação, como se fosse uma criança de cinco anos a receber um presente dos pais.

- Ah, que amores! Não precisavam de me comprar nada, que nós, velhotas, já não precisamos destas coisas.

- Toda a gente merece um miminho- juntei-me a eles e dei um abraço rápido à senhora que tem sido como uma avó ( ou até mãe ) para mim- E a Tia Ana em especial.

- Agora vão ter de me deixar oferecer-vos o pequeno-almoço! O que é que vão querer?

Antes de virmos aqui já tínhamos ambos tomado o pequeno-almoço e bebido um café rápido na minha casa, por isso negámos a sua gentil oferta, mesmo com todas as contestações.

- Não vão sair daqui com as mãos a abanar. Vou preparar-vos um lanche para a tarde, está bem?

Não tivemos tempo de dizer nada porque sem mais demoras a Tia Ana foi para a parte interdita aos clientes, onde prepara as refeições com ajuda dos seus dois cozinheiros e ajudantes, provavelmente para começar o nosso tal lanche, deixando-nos impossibilitados de argumentar com ela de que não precisaríamos de nada.

A Tia Ana não existe...

Enquanto esperávamos que ela voltasse, eu e o Frederico sentamos-nos numa mesa aleatória, já que a nossa habitual estava ocupada por um casal e a sua filha, que brincava com um conjunto de bonecas enquanto os pais conversavam e tomavam café.

Muitas vezes já pensei em pedir à Tia Ana um lugar aqui no café para a ajudar e para ganhar algum dinheiro próprio, já que a minha mãe me manda dinheiro todos os meses - e eu nem sei de onde ele vem, já que não éramos assim tão abastadas quando vivia lá - que é mais que suficiente, mas que não me dava liberdade. Era como se ainda vivesse presa e dependesse da minha mãe, uma coisa que eu odiava. E que melhor lugar para trabalhar do que neste ambiente perfeito? Gosto de estar aqui, gosto da Tia Ana, que iria ser a patroa perfeita, não sei exatamente servir às mesas, mas aprendia depressa... Só que a faculdade dá me cabo da cabeça e tira-me todo o tempo que tenho. Isso e a minha mania de querer tudo perfeito que me obriga a fazer e refazer montes de trabalhos. E agora, o Frederico.

Uma Cadeira e Dois Chocolates QuentesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora