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| 8, dezembro, 2017|

- Então... Conta lá como foi essa tua viagem a Londres? Depois da razão do nome do teu cão fiquei interessada. Imagino o que mais se pode ter passado nessa viagem- ele mostrou um sorriso divertido e encostou-se na cadeira, a beber um pouco do nosso segundo chocolate-quente.

Já chovia há um bom tempo, mas agora com menos intensidade. Tal como ao outono e inverno, eu sempre adorei a chuva. A forma como a chuva cai, ora violentamente ora de uma maneira calma, sempre me fascinou. Por vezes, associava-me a ela. Tanto podia estar bem num minuto e no outro a seguir a minha mente virava um completo furacão. Sempre adorei ver a chuva cair sobre a relva verde, empoleirada na janela do meu antigo quarto de criança, com esperança de ver uma flor nascer por ente as ervas, para me mostrar que as coisas mais bonitas também precisam de passar por muito. Sempre adorei ouvir o som da chuva, que parecia sussurrar segredos numa língua diferente, uma língua que por muito que tentasse não conseguia entender, mas do ponto de vista da criança inocente que era, as suas gotas traziam consigo histórias de todas as partes do mundo. Acalmava-me e deixava-me relaxada.

Daqui a pouco tempo talvez sejamos capazes de abandonar o estabelecimento da Tia Ana que continua a encher-se de gente encharcada que vinha a correr e tentava escapar à chuva.

- Essa viagem nem foi nada de especial. Quer dizer, para uma criança pela primeira vez num país estrangeiro, aquilo foi incrível. Mas agora que já fui a tantos lados, posso considerar que foi normal.

- Eu nunca saí de Portugal, mas adorava um dia visitar Paris, Londres, a Austrália talvez... Muitos lugares. Aqueles que se vêm nos filmes.

Era, de facto, um grande sonho meu. Largar tudo e correr o mundo. Viajar por todos os cantos do mundo, ter experiências inesquecíveis, visitar os mais famosos lugares, conhecer novas pessoas e embrenhar-me por entre novas culturas, novas maneiras de pensar e de sentir. Trocava tudo para viajar, mas não trocava nada pelo meu país à beira-mar plantado. Acabaria sempre por voltar para casa. Mas quanto às questões financeiras é um bocado impossível. Isto de ser pobre tem os seus problemas.

- Gostava de ser como as Kardashians, só por respirar ser rica, para puder ir a todo o lado que quisesse- reclamei.

- Querias ser como esse bando de malucas com a mania que são boas só porque têm dinheiro? Só falta dizer que querias um rabo igual ao da Nicki Minaj porque ela é o teu ídolo de infância. (no hate às Kardashians ou à Nicki)

Comecei a rir-me desalmadamente ao imaginar-me a olhar para o espelho com um rabo – falso, devo acrescentar – que nem cabia lá. Era uma visão mesmo muito cómica.

- Ai credo, achas? Que horror- ele também se ria, mas por eu me estar a rir.

Sinceramente, começo a gostar muito deste ser que se encontra aqui à minha frente, a partilhar histórias comigo, a fazer-me rir, a acompanhar-me no lanche de um dia típico de dezembro. A princípio pensei que ele fosse ser uma pessoa arrogante, que se passasse comigo por o ter convidado – eu sendo uma completa estranha – a beber um chocolate-quente. Pensei até que tinha sido uma má ideia, mas agora percebo que foi uma das melhores que tive nos últimos tempos. O Frederico tem-se mostrado uma pessoa bastante divertida e que pode mesmo vir a tornar-se um grande amigo, se continuarmos a falar.

- Conta-me algumas coisas sobre o país que mais gostaste de visitar.

Pedi após dar mais um gole na bebida quente que estava à minha frente. Ele acedeu ao meu pedido quase imediatamente, começando a falar sobre a sua viagem à Dinamarca. Queria ser transferida para esse país logo quando ele o mencionou. As suas palavras cativavam-me por mostrarem o seu entusiasmo e as saudades que ele tem do lugar.

Uma Cadeira e Dois Chocolates QuentesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora