- As tuas roupas ainda estão molhadas, não as podes vestir ainda. Podes ficar constipado.

- Sim, é melhor continuares com a minha camisola, é na boa- o Lourenço concordou comigo, mas mesmo assim o Frederico continuou a insistir.

- Já liguei ao José e ele já está a caminho para me vir buscar e trás roupa seca. Portanto, Beatriz, dá-me, se faz favor, a minha roupa para eu ir trocar na casa de banho.

Fui apanhada de surpresa pela meneira como ele falou comigo mas acedi ao seu pedido. Disse-lhe que as roupas estavam ao pé do secador na casa de banho e que se ele quisesse podia tentar secá-las mais um pouco antes de as vestir. O moreno dirigiu-se até à casa de banho e entrou lá dentro. Poucos segundos depois ouvi o secador a ser ligado.

O Lourenço pegou na mala que trazia e pousou-a no quarto antes de se sentar ao meu lado no sofá, porque eu já nem conseguia aguentar em pé da maneira que me estava a sentir. Parecia que até tinha ficado mal disposta, não só pela maneira como o Frederico me falou, mas por tudo o que aconteceu hoje.

A sala já estava a aquecer através do efeito do ar condicionado e do aquecedor, proporcionando um ambiente acolhedor na sala, que melhorou quando o Lourenço me puxou para ele e me enrosquei no seu corpo.

- O teu amigo é um bocado estranho.

- Ele está só um bocado irritado com isto que se passou. Normalmente ele é muito bem disposto.

Decidi nem lhe responder mais nada, porque nem sabia bem o que dizer. O que eu estava a dizer era parte da verdade. A outra parte eu estava a omitir, como era de esperar. Se depender de mim, o Lourenço nunca vai saber o que se passou nesta casa antes de ele chegar. Apesar de ele ser uma pessoa extremamente calma e descontraída, o que mais o exalta é sentir que lhe estão a mentir ou a esconder alguma coisa. Uma vez eu e uns amigos dele tentamos fazer-lhe uma festa surpresa, o que não passou mesmo de uma tentativa, porque ele, ao ver-nos juntos a segredar coisas sem ele ouvir nos intervalos, passou-se connosco, gritou, chamou-nos nomes, especulou tudo e mais alguma coisa e exigiu saber a verdade sob ameaça de que não ia parar de nos chatear se não lhe contassemos. E nós lá tivemos de lhe fazer a vontade e a surpresa ficou sem efeito. Mas agora este é um assunto muito mais sério, do qual ele não pode nem sequer suspeitar.

- Acho que vou começar a arrumar as minhas coisas, está bem?- levantou-se do sofá sem esperar a minha resposta e dirigiu-se ao meu quarto.

Fiquei sozinha na sala e durante dois minutos ponderei se deveria ficar aqui parada, à espera que o Frederico saísse da casa de banho para falar com ele, ou se ia bater à porta e convencê-lo a deixar-me entrar para falarmos com mais calma e sem o Lourenço ter possibilidade de ouvir. Era uma decisão difícil que não me apetecia ter de tomar. Porém, não queira que a nossa relação ficasse arruinada por uma coisa que nem chegou a acontecer. Pode ficar um pouco constrangedora, mas antes isso do que nos deixarmos de falar ou coisa do género.

Então levantei-me e bati à porta duas vezes. Ele não me respondeu, mas tenho a certeza que ouviu porque o secador já não estava ligado. Voltei a bater e enconstei-me à porta.

- Frederico, deixa-me entrar... Por favor- supliquei.

Só queria que ele me deixasse entrar para podermos falar com calma, resolver as coisas e para que eu pudesse perceber o que é que ele sente por mim. Talvez nem seja nada de especial, podia ser só uma coisa no calor do momento. Quer dizer, ele estava sem camisola e eu estava muito perto dele enquanto este me contava sobre as suas tatuagens, nas quais as minhas mãos tocavam inconscientemente. Nunca tínhamos estado numa posição tão íntima e isso pode ter levado a que ele, da mesma forma inconsciente, se tenha aproximado ainda mais e... e pronto! Quase que acontecia uma tragédia que pensando bem não era completamente uma tragédia porque apesar de tudo é o Frederico e ele é uma ótima pessoa e a sua aparência não é nada de se deitar fora...

Uma Cadeira e Dois Chocolates QuentesWhere stories live. Discover now