I - Uma Dama Inesperada

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Bom, ao que lhe competia era receber uma estranha em casa por nove meses e , todos saberiam que ela vinha de Londres – lugar onde fazia metade do ano sem colocar os pés – e que já tinha chegado à Champnou naquela condição. Pelo que o poupariam de qualquer acusação possível e iriam se concentrar em tentar descobrir quem era o nobre responsável por tal feito. Conversas como aquelas sempre rendiam longos serões de coscuvilhices entre as damas. Ao menos, sua dívida estaria finalmente paga, e poderiam esquecer o episódio triste que teria marcado o primeiro encontro dos dois.

Os habitantes paravam para o reverenciar ou ofertar alguns agrados sempre que atravessava a vila todos os dias, normalmente parava para ouvir uma e outra lamúria de praxe, era comum e garantia uma fidelidade entre os habitantes que o sentiam mais próximo do que todos os outros suseranos que se situavam pelas redondezas. Porém, naquele final de dia foi diferente porque Camden passou a galope mostrando que conhecia suas terras e não temia qualquer deslize na terra escorregadia, e sequer lhes dedicou um segundo da sua ansiada presença. Muitas eram as jovens que sonhavam com a possibilidade de algum conto de fadas acontecer e se tornarem no alvo do interesse dele, tanto que se apetrechavam e cirandavam sem parar na esperança de alguma mágica acontecer e se transformarem em futuras Condessas. Todos murmuravam que já era altura de ele se casar novamente.

Os portões subiram assim que um dos sentinelas o avistou do alto de uma das duas torres de pedra com vários andares e formato rectangular – que serviam para a vigilância do castelo e da vizinhança – e deu um grito de aviso não só pela chegada do Conde como para o cavalariço que correu a tempo de segurar Leão, assim que o seu dono parou e desceu.

— Vossa Senhoria. — O empregado que lhe concedeu uma reverência não deveria ter mais de vinte anos e era um pouco alto, com os cabelos pretos na altura do pescoço e uns grandes olhos verdes brilhantes. As ligeiras sardas que se espalhavam ao redor do nariz pontiagudo lhe davam até uma certa beleza que fazia muitas das criadas suspirarem.

— Jovem Rodgers. — Camden retribuiu com um aceno educado, os olhos cinzas não deixaram de examinar as calças do rapaz que já se encontravam acima dos tornozelos. Parecia que nunca mais parava de crescer. — Saberá me informar se o vosso pai já se fez presente ao castelo?

— Com toda certeza, milord. Inclusive já limpou e arrumou a carruagem que está preparada para qualquer eventualidade.

Camden não deixou nenhuma expressão transparecer, mas estava aborrecido por tamanha desfeita em relação a sua convidada. Se tinha concordado recebê-la, então deveria ter chegado a tempo de o fazer.

— Agradecido. — Deu meia volta e rumou em direção a entrada principal, passando a mão entre os fios de cabelo apenas para se lembrar que sequer usava um chapéu e que estava com as calças molhadas.

Magdalena abriu a porta muito antes deste se aproximar, tinha um grande rosto coberto por sardas – indicando de quem o filho tinha herdado – e as sobrancelhas claras estavam unidas no centro da testa. Usava uma touca por cima dos cabelos presos e um simples vestido azul e branco com uma grande gola aberta para os lados.

— Milord. — Até a vénia pareceu forçada, não deixando que Camden percebesse com exatidão se estava chateada com ele ou com outra coisa. Ela trabalhava no castelo há muitos anos para que soubesse numa única expressão o quanto estava destemperada.

Good Evening, senhora Rodgers. — A saudou, acenando ligeiramente em cortesia e entrando para o hall já a sentir as duas mãos gordas que o ajudaram a despir o casaco.

— Eu diria boa noite, milord. Eu diria boa noite. — Resmungava.

— Temo que me atrasei mais do que a conta, não era meu interesse de todo. Portanto, lamento. I'm sorry. — Ele se desculpou e se voltou para vê-la pendurar o casaco num dos pinos da parede feita de pedra rugosa. A iluminação ali dentro também era fraca àquela hora e o cheiro da cera da vela se fazia sentir pelo ar. — Ao assumir a chegada do senhor Rodgers junto da carruagem, devo concluir que minha convidada se encontra em meu castelo?

Nove Meses Para SempreWhere stories live. Discover now