— Está tudo bem, não se preocupe. — Ela sorriu, compassiva, notando aquele brilho usual e desconcertante no olhar do colega. Julgou também ter vislumbrado uma coloração estranha na pupila direita dele, mas, coisa da sua cabeça, logo desapareceu como um efeito de ótica. — Entendo como deve ter se sentido.

          A verdade é que, naquele dia, ela jazia tão abalada pela sua própria desgraça que sequer considerara seriamente o que acontecera entre eles. Depois da Avaliação, Joe viera correndo assim que recebera uma mensagem dela dizendo que voltaria para casa sozinha. Ele provavelmente entendera no mesmo instante. E quando enfim ficaram sozinhos, ela desabou em seu peito e deixou fluírem as lágrimas de aflição. Ele acalentou-a e então a levou para dar uma caminhada, no que pararam diante da cartomante e encontraram Amber. Bem, ele era só um colega, de qualquer forma.

          — Fico aliviado — disse ele, voltando a exibir uma expressão serena.

          Espero que ele não me pergunte que nota recebi, ela pensou consigo mesma. Falei tão abertamente com ele sobre meu sonho... Não suportaria o olhar de pena que ele faria ao me ouvir, e menos ainda a voz indiferente e animada que eu teria de usar...

          Quando Amber abriu a boca, prestes a falar algo, foi subitamente interrompido por outro colega, um garoto alto, de rosto liso e nariz afilado, vestindo uma calça preta e camisa social branca. Era Marcos, o colega que sentava atrás dela, na mesa em que Amber havia tomado para si. Jill tinha certa afeição por Marcos. Já haviam feito alguns trabalhos juntos e ele sempre fora educado e prestativo durante as tarefas, ajudando-a em temas que lhe eram complicados. Não... na verdade, sentia certa apreensão em relação a ele. Em mais de uma ocasião o flagrara dedicando olhares obscenos para seu corpo. Também havia escutado rumores sobre ele ter tentado atacar uma aluna de outra escola. Definitivamente não gostava dele sentando ali atrás.

          — Ei, cara — exclamou Marcos, com as mãos nos bolsos da calça e as sobrancelhas franzidas —, esse é meu lugar. Pode me dar licença?

          Amber ergueu calmamente o pescoço e encarou o colega. Então disse:

          — Vou sentar aqui a partir de hoje, por que não fica no meu lugar?

          A expressão de Marcos, de repente, se suavizou.

          — Bem, então tá — respondeu, e dirigiu-se ao antigo lugar de Amber.

          — Nossa — disse ela —, não imaginei que ele cederia tão fácil.

          — Por que não? É só uma mesa. — Ele riu.

          Jill sorriu. Apesar de tudo, seria bom ter Amber ali, em vez de Marcos. Por algum motivo, se sentia mais calma perto dele.

          — Sim, realmente.

          Embora de personalidade fleumática com periódicas demonstrações de impulsividade, Amber sempre lhe parecera um pouco isolado dos outros. Nunca o vira com ninguém além de Donnie, e hoje este iria embora para Gama. Ele ficaria sozinho. Agora, no entanto, sentado ali, poderiam conversar à vontade entre as aulas. O pensamento de que ela e Amber talvez se tornassem bom amigos afastou um pouco as nuvens de seu coração. Ela apoiou o cotovelo no encosto da cadeira, sorrindo enquanto pousava um olhar afável sobre ele.

          — Obrigada, Amber.

          Ele se surpreendeu, expandindo as pálpebras para ela.

          — Pelo quê?

          Jill esticou o braço e bagunçou levemente os cabelos já caóticos dele.

Min-DWhere stories live. Discover now