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É estranho como um lugar com tanto barulho consegue ser meu esconderijo preferido, o caos dessa cidade me acalma, traz até um pouco de conforto ao meu coração. Os caros buzinam alto, ambulâncias correm nas ruas como se não houvesse amanhã - e talvez para alguém realmente não haja - fumaças sobem dos esgotos, pessoas apressadas trombam em mim e, mesmo assim, eu ainda me sinto em casa. Acho que ao ver todo mundo apressado tentando fazer as vinte e quatro horas do dia renderem muito mais que isso, meus problemas parecem diminuir e eu me sinto pequena em meio à um mundo tão grande.

Vir morar em Nova York aos dezesseis anos foi a decisão mais certa que fiz na vida. Foi arriscado, eu sei, mas eu aprendi tanta coisa tendo que me virar sozinha.

Não conheci meu pai e nunca tive muito contato com minha mãe, ela trabalhava como modelo fotográfica e eu claramente não fui planejada. Fiquei apenas o necessário com ela, sua carreira precisava continuar independente de mim e pouco tempo depois ela foi encontrada morta por overdose. Então minha tia Lucia foi quem me acolheu, ela e sua família. Eles me trataram como filha e sou totalmente grata por isso, mas eu nunca me senti encaixada entre eles, precisava achar meu próprio lugar no mundo. Em Nova York eu achei. Vim para cá para cursar faculdade, e realmente cursei por alguns semestres, mas aí meu blog de moda estourou, assim como meus seguidores no Instagram e hoje é disso que vivo.

Acho que não me encaixo no termo de influenciadora, na verdade odeio esse rótulo. Com muito esforço consegui terminar de pagar minha faculdade, hoje sou Design de Moda. Tenho uma marca de sapatos que eu mesmo os criei, um batom em parceria com a MAC e campanhas com outras marcas.

Tenho muito orgulho do que sou hoje, de tudo o que conquistei sozinha. Às vezes me pergunto como cheguei tão longe, mas as pessoas costumam me dizer que eu tenho uma luz dentro de mim, algo em minha personalidade os atrai e me faz brilhar, decidi acreditar nisso. Sei que minha aparência também ajuda um pouco, não que eu seja a mulher mais linda do mundo, mas eu realmente gosto do que vejo e não deixo que as pessoas me façam duvidar disso.

No início de tudo minha aparência era um problema, não vou mentir. Eu me sentia magra demais perto das outras meninas e fazia tudo o que podia para engordar e "ganhar corpo". Até o dia em que entendi que aquela era minha genética, meu biótipo e não tinha nada de errado com meu corpo. É com meus 1,71m de altura, cabelos louros, olhos castanhos e minha personalidade, que luto até conseguir o que quero.

Mas nada disso aí tem valor agora, atualmente eu só sou reconhecida como "a esposa do Justin Bieber". Respiro fundo, escutando o barulho dos meus saltos contra o chão agora que dobrei em uma rua menos movimentada. Eu odeio ser reconhecida só como a mulher de um homem, ainda mais quando ele nem olha mais em minha cara.

Nós casamos muito cedo, tínhamos vinte anos na época. Tudo bem, quando você é uma pessoa normal casar com vinte anos não soa tão horrível assim, mas quando você está na mídia e é terrivelmente famoso como meu marido, isso é uma péssima ideia. Ninguém nos alertou, na verdade, o que viram foram apenas números e cifrões. Notaram que nos separar não iria funcionar, então assumimos o namoro. Nas primeiras semanas recebi milhões de mensagens me ameaçando, mas com o passar do tempo nos tornamos o fenômeno "Jorah", e os empresários se deram conta que juntos nós valíamos muito mais. Quando comentamos a ideia do casamento ela foi aceita no mesmo segundo, menos de seis meses depois estávamos casados. A festa do casamento não foi nada parecido com o que eu sempre imaginei, queria ter tudo o que era possível no "dia mais importante da minha vida", mas foi tudo tão corrido que quase não consegui escolher nada. Agora estamos presos um ao outro até, pelo menos, o contrato acabar.

Sim, contrato.

Na época a ideia de assinar um contrato era inofensiva demais para nós que achávamos que iriamos nos amar para sempre. Ingênuos.

After YesOnde histórias criam vida. Descubra agora