Capítulo 3

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Quando completei 18 anos, tive que deixar o abrigo. Eu não tinha família, nem amigos. Resumindo eu não tinha ninguém. Assim começou o meu próximo desafio, sair de um lugar que eu estava acostumada para encarar o mundo lá fora. O abrigo não era o melhor lugar do mundo, mas era o que eu tinha no momento. Pelo menos ali eu me sentia um pouco mais segura. Como fui obrigada a sair, eu estava buscando um emprego e tentando tocar a minha vida. 

Uma tia do abrigo, me indicou para trabalhar em uma "casa de família" como empregada doméstica. Saí do abrigo e fui até a Zona Sul do Rio, mas especificamente no bairro do Leblon.

Eu estava animada com a oportunidade. Espero que dê tudo certo. Subo no ônibus e me sento no fundo. Para variar estava bem cheio. Antes de chegar no ponto da minha descida, já levanto e me posiciono para puxar a cordinha que aciona a campanhia do ônibus. Puxo e nada, puxo e não faz um barulhinho. Começo a ficar tensa, porque o meu tom de voz é baixo e o meu receio é do motorista não me escutar. Já aconteceu isso com vocês? É horrível. Enfim grito o mais alto que posso:

- Motorista vou descer aqui. M-O-T-O-R-I-S-T-A V-O-U D-E-S-C-E-R

De repente o ônibus para e todo mundo resolve descer junto no mesmo ponto. Com o endereço nas mãos e apenas uma mochila nas costas com meia dúzia de roupas, chego até a portaria do condomínio onde ficava localizada a casa, onde eu iriar trabalhar.

Me aproximo da portaria, me identifico e o porteiro abre o portão. Enquanto eu caminhava para dentro daquele lugar, olhava tudo em redor. Fiquei impressionada com a beleza do lugar. Eram casas de alto padrão, cada uma mais bonita do que a outra. Não tinha visto nada igual na minha vida. Toco a campainha e quem me recepciona é uma senhora alta de cabelos presos em forma de coque. Ela usava um impecável uniforme azul.

- Bom dia senhora, sou a Ana e vim pelo emprego.

- Olá Ana eu sou a Lídia, governanta da casa. Você foi a indicação da Maria certo?

- Sim senhora.

- Certo, entre e por favor me acompanhe.

Eu entrei e segui-a até a cozinha.

- Você tem experiência com limpeza Ana?

- Tenho sim, senhora.

- Tem disponibilidade para dormir no emprego.

- Tenho sim, senhora.

- Ok. Como é recomendada pela Maria, a vaga é sua. Vou te explicar as condições. Você será a responsável pela limpeza desta casa. Para facilitar precisamos que você durma aqui. Para isto teremos um quarto para você. Vem comigo que vou te mostrar.

O quarto ficava localizado no fundo da casa. Ele nem se comparava com o tamanho que aquela casa tinha. Ele era pequeno, tinha uma cama beliche e um guarda-roupa de duas portas. Mas era bem melhor, do que o quarto do abrigo. Eu ia dividir ele com a Soraia a cozinheira, que também passava a semana toda lá. Soraia era uma senhora baixinha, de cabelos brancos, que deveria ter uns 50 anos e trabalhava para aquela família desde os 20 anos de idade.

Dona Lídia me passou as instruções do lugar. Eu deveria acordar às 06 da manhã para limpar a casa e deveria terminar o meu trabalho sempre às 17 horas. Disse que os donos eram muito exigentes e que a casa deveria estar sempre limpa e cheirosa.

- Ana preciso que mantenha esta casa de forma impecável, com tudo limpo e organizado. Além disto, tenho outras instruções:

- Os seus patrões são a Senhora Luiza e o Senhor Marcelo.

- Por favor, deixe as coisas bem arrumadas, nunca deixe que eles percam a confiança em você e no seu trabalho.

-Entendido senhora.

- Você receberá uniformes e de forma alguma pode trabalhar com outro tipo de roupa.

- Certa senhora.

- Eles têm 1 filho chamado Théo. Ele tem uma vida muito intensa, porque é jogador de futebol. Por favor, evite o máximo ter contato com ele a não ser que seja chamada.

- Pode deixar senhora, não vou falar com ele.

- Nenhuma forma de relacionamento amoroso é aceita nesta casa. Se tiver namorado, por favor não pode trazer para cá.

- Sim Dona Lídia, entendi. Pode deixar que serei super discreta e não conversarei com ninguém.

- Ótimo muito bem! Não quero problemas nesta casa. Seu pagamento será depositado no final do mês e suas folgas serão nos domingos.

- Ok, senhora.

******

Levantava todos os dias às 6 da manhã, colocava o meu uniforme e começava a limpeza do lugar. Tudo tinha que estar limpo e organizado, para quando os "patrões" estivessem em casa. Se eu os tinha visto 5 vezes era muito. Quando eu limpava os cômodos, eles nunca estavam em casa e a noite eu sempre ficava no meu quarto. A pessoa que mais tinha contato com eles era a Dona Lídia.

Mas hoje o dia estava atípico, já que como amanhã seria aniversário do filho dos meus patrões, posso dizer que as coisas estavam corridas. Seria uma festa de aniversário a noite, misturado com boas-vindas! O filho deles estava passando férias no exterior. A Dona Lídia disse que ele estava descansando depois de uma bela temporada nos campos de futebol. Ele joga em um time famoso aqui do Rio. Mas como não entendo muito bem de futebol, não sou muito ligada nestas coisas. Pelo que entendi ele joga muito bem e é bem famoso por aqui.

O dia estava muito agitado, me chamavam o dia inteiro - Ana, limpa o banheiro, - Ana o chão está sujo aqui ... na verdade não conseguia entender o porquê desta correria toda. Era só uma festa de aniversário. Mas sei lá né, gente rica tem suas manias... enfim não podia reclamar do meu trabalho, pois com o dinheiro que estou ganhando tenho planos de estudar e quem sabe depois, comprar a minha casa e assim realizar o meu sonho de ter um lar que seja só meu. 

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