Capítulo 1

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Me dirijo ao corredor e entro na sala. Tinham 10 cadeiras organizadas em forma de círculo. Logo entro e me sento na única cadeira vazia e me apresento.

- Oi meu o nome é Ana e eu tenho 24 anos de idade e gostaria de compartilhar com vocês a minha história. Tenho certeza de que ela pode ser um pouco parecida com a de vocês. Tempos atrás eu também estava sentada nesta cadeira, ouvindo outra pessoa contar a sua história. Então por isso que estou aqui, para compartilhar aqui um pouco da minha trajetória de vida.

Ela nem sempre foi fácil. Se eu pudesse descrevê-la, parece esses filmes de drama que só tem momentos difíceis e que não podemos enxergar a luz no final do túnel, sabe? Mas Graça a Deus em algum momento da minha vida, alguém foi luz na minha vida e me ajudou. Muitas de vocês que estão aqui devem estar pensando, como uma menina dessas vai me ensinar alguma coisa? Mas queria dizer que mesmo com a pouca idade que tenho é inacreditável tudo que já vivenciei.

A primeira dificuldade que enfrentei foi na minha infância. Nasci em Japeri, um município localizado no Rio de Janeiro. A nossa casa era muito simples e ficava em um bairro muito afastado e pobre. Ela era feita de madeira, lata e de papelão. Não tínhamos fogão, geladeira e tampouco cama. Dormíamos em um papelão no chão e para cozinhar usávamos restos de madeira que encontrávamos no lixão que tinha perto da minha casa.

Sempre foi minha mãe e eu. Não conheci o meu pai. Minha mãe disse que ele foi embora quando eu tinha 1 ano de idade e nunca mais voltou para nos procurar. Vivíamos de doações que as pessoas faziam, ou muitas vezes tirávamos a comida do lixo. Catávamos latinha, madeiras e o que mais desse para podermos comprar comida. Você deve-se perguntar, mas porque a mãe dela não trabalha? Na verdade, é muito difícil, você conseguir trabalho em outros lugares, porque as pessoas tinham muito preconceito com a aparência da minha mãe. Ela era uma mulher simples, magra, com seus cabelos desgrenhados, olheiras profundas e uma aparência triste devido à situação que nós vivíamos.

Éramos só eu e ela e nesta época, caminhávamos pelas ruas da cidade em busca de comida ou muitas vezes, pedíamos esmolas na cidade. As vezes as pessoas eram bondosas e nos ajudavam e outras vezes fingiam que não nos viam.

Mesmo com todas estas dificuldades, minha mãe me dava muito amor e carinho. Para me distrair da fome que sentíamos, me contava belas histórias de amor, cheias de princesas e príncipes que viviam em seus castelos. Acho que ela contava estas histórias, para tentar esquecer a vida difícil que vivíamos.

Sempre dormíamos sob as luzes das estrelas e mamãe dizia que o céu era a morada de Deus e dos seus anjos e que eles estavam olhando sempre por nós. Eu não entendia muito bem, porque vivíamos naquela situação tão difícil, mas minha mãe sempre me acalentava. Ela se fingia de forte. Fingia que não tinha fome, quando tínhamos apenas um pedaço de pão pequeno e me dava o pedação que tinha. Fingia estar alegre, quando na verdade eu a ouvia chorar deitadas no chão frio... fingia ser feliz e na verdade ela não era.

Passei a minha infância com minha mãe, eu acho que tinha uns 8 anos. Até que em uma manhã chuvosa, quando acordei, a minha mãe continuava dormindo, chamei -mamãe-mamãe- acorda, precisamos ir para conseguirmos algo para comer e minha mãe não acordava.

Chamei várias vezes e ela não se mexia. Corri para fora do nosso barraco e os vizinhos vendo o meu desespero, se aproximavam tentando ajudar. Até que uma senhora virou e disse: - sua mãe agora está morando no céu. Aquelas palavras doeram no fundo do meu coração, pois tinha entendido o recado. Comecei a chorar, pois sabia que ela tinha me deixado...

Eu pensei e agora o que seria de mim?

Roleta do amorWhere stories live. Discover now