— A confraternização anual da Leste. Ou como circulam por ai; dia de rever os inimigos.

Henrico mordeu o interior da sua bochecha. Como ele poderia se esquecer da confraternização?

Claro que não era um evento memorável, mas era fundamental a sua presença. Como grande Dom da máfia Castellani, ele precisava comparecer ao evento onde a máfia Leste convocava todos os Doms e Capos rivais para uma cordialidade de paz. Sendo inimigos ou não, mesmo no submundo da máfia, também se mantinha o respeito. Cada um cuidando do que era seu. Contudo, sempre havia aquele que desafiava roubar o território do outro, afinal, poder era mais importante do que o dinheiro, pois isso eles já o tinham de sobra, mas naquele ano, Henrico não estava tendo nenhum trabalho. Havia conquistado dois territórios japoneses pouco mais de um ano e meio e com isso, sua força e respeito aumentaram. Ele, por ser de uma das máfias e famílias mais respeitadas, sempre era convocado para todos os eventos bizarros.

— Quem inventou essa confraternização é um fodido! Essa merda de confraternizar com o inimigo me deixa com o sangue fervendo. — Bateu com as duas mãos sobre a mesa.

— Eu sei, é uma droga. Mas você precisa estar lá. Como esqueceu assim seus compromissos? — indagou Pietro.

Henrico não respondeu por que nem mesmo ele sabia a resposta. Jamais havia sido negligente com os negócios. Sempre procurou manter a risca as regras impostas pelos antigos Castellani.

— Você não pode perder a sua cabeça, Henrico. Você fodeu com ela ontem, hoje você não tirou os olhos dela, cazzo, não vai acabar bem e você sabe. Esse mundo é pesado demais para trazer alguém tão doce para ele.

Pietro mal terminou de falar e Henrico estava em sua frente, encarando-o com olhos fulminantes, como de um leão prestes a estraçalhar sua presa.

— Você não sabe de nada! Diga que ela é doce novamente e mostrarei a você o quão amargo eu posso ser.

O amigo levantou-se com as mãos erguidas ao ar.

— Ei, segura a onda ai tigrão. — Desviou-se para o lado. — Você sabe que eu estou certo. Uma boceta é uma boceta, isso não podemos recusar e nem discutir, mas trazer isso a mais do que possa ser é burrice, Henrico.

Henrico fechou as mãos em punhos. Amava Pietro, mas se ele continuasse a falar sobre o que não sabia, ele enfiaria seu punho goela abaixo do amigo.

— Dinheiro, poder... Veja, no passado...

— Chega, caralho! — Henrico gritou com a força dos seus pulmões. — Chega dessa merda. Você não queira comparar Claire ao meu passado. Eu juro, vamos manter Claire fora da nossa conversa.

— Pelo amor de Dio, fratello. Você mantém o pai dela preso, o que espera que ela faça por você? Ela se doou por um mês em troca da vida do pai. Ela fará o que ela quiser para conquistá-lo. O que aconteceu com a sua desconfiança?

Henrico preferiu não responder. Em vinte e nove anos de sua vida era a primeira vez que ficava desconfortável diante de uma discussão. Ainda mais quando posto a prova seus valores e conhecimentos.

Os olhos de Claire eram tão suaves... Lá no fundo ele sentia...

— Se era sobre o evento, eu estarei lá. E você deverá ir também — comentou entre os dentes.

Pietro suspirou em uma derrota.

— Tudo bem, eu sei das minhas obrigações. Suponho que irá levar Eleanor, sim?

— Vou perdoar o seu pequeno deslize com suas palavras irônicas e respondendo a pergunta, não. Eleanor não será a minha acompanhante.

— Ah, porcaria, será que...

— Fora Pietro. Nos vemos a noite.

— É sério isso?

Henrico virou de costas para o amigo e soltou a respiração quando ouviu a porta fechar.

Ele tinha problemas de confiança. Especialmente com as mulheres, mas Pietro vir e botar a integridade de Claire em jogo daquela forma, o levou ao limite.

Jamais iria admitir a qualquer pessoa, mas sabia da pureza dela. Sentia bater em seu interior cada palavra com intensidade e veracidade, até mesmo quando era arredia ou tentava parecer rude.

Ele havia a escolhido no momento em que ela se ajoelhou em seus pés naquela noite, com os olhos cheios de lágrimas não derramadas pronta para chupá-lo se ele pedisse em troca da vida de seu pai.

Claire não sabia. Pietro não sabia, nem mesmo seu pai sabia, mas fora aquele gesto, aquela entrega pela família que arrebatou em primeiro momento o coração de aço do jovem italiano.

— Inferno de garota — sibilou passando a mãos em seus cabelos e deixando o escritório.

Subiu as escadas de dois em dois degraus, ele queria vê-la. Precisava acalmar seus ânimos.

Não precisou bater na porta, aliás, ele sequer pensou nisso. Ele entrou abruptamente, fazendo-a levantar-se da cama em um sobressalto.

— Caramba. Não sabe bater?

Henrico sorriu irônico.

Mia cara, eu não preciso bater para ter o que é meu — disse rapidamente antes de puxá-la para si e cobrir os delicados lábios dela com os seus. Beijando com tanta fome que Claire mal conseguia acompanhar seus movimentos.

— Sempre doce... — murmurou sobre os lábios dela, acariciando-a ternamente com sua boca.

Claire amoleceu. Ele tinha um incrível poder de ser arrogante, imponente e sexy ao mesmo tempo, como quanto poderia ser terno, às vezes.

Ela piscou várias vezes quando ele se afastou.

— Eu quero que esteja pronta às oito. Mandarei Julie trazer algo para você usar.

— O quê? Não, eu tenho a faculdade... Eu não posso...

— Você irá. As oito, doce Claire — ditou e saiu.

Inferno, o homem era um furacão mal resolvido,pois furacões nunca se sabem quando irão aparecer e quando menos esperam elessomem deixando tudo uma bagunça.    

Rendidos pelo amor - Livro 1 (Duologia Rendidos)Where stories live. Discover now