Seus olhos fixam nos meus e ele parece não acreditar no que ouve.

— O ama? Ama? Seu namorado é pai adotivo do meu filho? — Ele ri descontrolado. — Diz que isso não é verdade pelo amor de Deus!

Assinto.

— Preciso contar tudo para ele. Depois que tudo se acalmar você vai conhecê-lo.

Ele encara o teto como se tivesse organizando e assimilando tudo.

— Te dou uma semana. Uma semana para resolver a sua vida com o seu namorado. Depois quero conhecer meu filho.

Ouço a porta bater e me encolho. Agacho procurando o ar que parece ter me abandonado. Me entrego de vez e deito-me no chão. Luciana entra correndo e me tira do lugar que eu não queria sair mais. O chão frio e duro. Porque era neste lugar que eu merecia ficar.



                                                                               Hugo


Meus pais sempre ensinaram a mim e ao Álvaro, que família é o centro de tudo

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Meus pais sempre ensinaram a mim e ao Álvaro, que família é o centro de tudo. A base. O pilar de sustentação. Sempre fizemos questão de nos reunirmos, seja qual fosse o motivo, felizes ou momentos difíceis.

Tenho passado isso para Yago. O momento de sentarmos a mesa para as refeições sempre foi primordial em casa.

— Pai cadê sua namorada? — Yago questiona provavelmente por estar sentindo a falta dela tanto quanto eu.

Sorri.

— Foi até a casa de uns amigos Filho!

— E porque não fomos pai?

— Porque você ainda está se recuperando da bronquite filhão! Febre lembra? Achei melhor ficarmos em casa para você descansar.

Ele não estava satisfeito com a ausência de Juliana, e nem eu. Nos surpreendemos com o toque da campainha.

Marina veio da cozinha e foi em direção a porta.

— Cadê meu neto querido? — A voz da minha mãe faz Yago correr em sua direção.

— Vovó!

Meu pai, minha mãe e Álvaro?

— Que surpresa! Aconteceu alguma coisa?— Fico curioso com a visita repentina.

— Soubemos que meu neto não estava muito bem e viemos visita-lo. — Meu pai o pega do colo da minha mãe.

— Fiquei muito feliz vovô!

— Eu sei meu neto!

Procuro por Álvaro e o encontro já sentado á mesa comendo tudo que tem direito.

— O que? — ele pergunta depois que percebe todos os olhares voltados para ele. — estou com fome.

Logo estávamos todos ao redor da mesa desfrutando de um belo café da manha! Para mim ainda faltava um pedaço de mim ali!

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Álvaro e eu estávamos sentados na varanda.

— Fazia tempo neh? —Meu irmão me sonda querendo entender do que eu estou falando.

— O quê?

— Fazia tempo que não sentávamos os dois assim! Como irmãos sabe! Não como sócios. Sinto sua falta!

Álvaro olha para o lado e sorri.

— Também sinto sua falta. Você sabe, temos uma vida muito diferente. Você é muito família e eu o admiro por isso. Já eu, bom... Eu gosto de sair, beber finais de semana inteiros, mulheres, aquelas coisas.

— Eu sei. Mas não trocaria minha vida por nada. Amo minha casa, tenho um filho lindo que me orgulha e agora uma namorada! Uma mulher linda!

Álvaro se encosta na cadeira. Sua cabeça inclinada para cima.

— Namorada... — Ele repete devagar — Como vocês estão? — Ele não esconde a curiosidade.

— Felizes? Estamos bem.

— Você disse que a ama!

— Disse.

— Então se eu te contasse algo você não piraria não é mesmo?

— Sou maduro! — Digo em tom divertido.

— Estou falando sério. — seu rosto realmente mostrou seriedade.

— Fale logo de uma vez ! — peço ansioso.

Meu irmão se ajeita na cadeira. Eu permaneço relaxado.

— O que me diria se eu dissesse que conheço Juliana, ou melhor, eu já a conhecia?

Franzo a testa.

— Diria que isso é normal. Só não é normal eu está sabendo disso agora!

— Hugo preste atenção! Eu a conheci á uns anos atrás. Na época ela estava diferente, cabelo curto e óculos. Quando a vi na minha mãe tive a impressão de que a conhecia. E eu não estava errado. Ela não comentou nada com você? Ou não disse que teve a mesma impressão?

— Não. — Ajeito –me na cadeira sentindo-me desconfortável.— Mas como a conheceu?

— Ela trabalhou na Ferraz! Era estagiária, se não me engano. Fazia uma pós na época. A encontrei umas três ou quatro vezes. Tenho certeza que é ela.

— Trabalharam juntos?

— Não.

Álvaro me contou que a viu todas as vezes no horário do almoço, e quem em uma das vezes ela não se sentia muito bem.. e que apesar das conversas não serem por muito tempo ficou gravado em sua mente. Pergunto-me porque ela não comentou nada comigo sobre isso. Ou será que ela não se lembra de Álvaro?

— E tem mais uma coisa Hugo.

— O que?

— Ela estava grávida. Disso eu tenho certeza absoluta. A última vez que a vi conversamos um pouco e segundo ela estava no sexto mês de gravidez. Não vou negar que me interessei demais nela, mas estava de viagem marcada. Demorei mais tempo na viagem do que o programado, voltei uns dois meses depois e não a encontrei mais.

— Grávida? Ela nunca me disse nada nem parecido com isso. — Por um instante sinto minhas mãos suarem.

Percebi que eu não sabia tanta coisa de Juliana. Sabia que ela tinha crescido em um orfanato e que tinha se formado com méritos e que tinha mesmo ganhado estágio em uma empresa renomada, mas nunca me disse qual. Senti um frio na barriga com toda aquela informação.

— Olha! Não quero estragar sua felicidade e nem plantar nada em seu relacionamento. Talvez isso não quer dizer nada. Nunca se sabe o que as pessoas passam. É um passado. O que importa é o agora!

— Sim. Você tem razão. O que importa é o agora. — concordei.

A verdade é que concordei com Álvaro, mas por dentro me sentia incomodado e curioso.

Qual motivo levaria Juliana esconder algo tão importante de mim? Uma gravidez? Um possível filho?

Não sei como, mas teria que ter uma conversa urgente com minha namorada.


Curando Feridas ( Hiatus)Where stories live. Discover now